Capitalistas gaúchos, uni-vos!
O ano de 2023 mal começou e o diabo, sempre mais presente que Deus no noticiário, revelou que o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e demais entidades resgataram mais de 200 trabalhadores em condições análogas à escravidão em Bento Gonçalves e, agora, mais de 80 pessoas nas mesmas condições em lavouras de arroz em Uruguaiana, na região da fronteira.
Esta é uma prática que herdamos de uma sociedade escravocrata e agrícola, sem mobilidade social, de sobrenomes, de linhagens de famílias nobres. Historicamente falando, o Brasil foi nestes seus 523 anos, cerca de 70% do tempo, se não mais, agrícola/escravista e somente 30% assalariado/industrial.
O capitalismo veio como uma onda revolucionária no mundo. Não interessa mais quem "você é", mas o que "você tem", a partir dele, um Zé Ninguém, sem sobrenome nobre, como eu ou você, pode estar em pé de igualdade pelo fruto do seu trabalho e empenho empreendedor com qualquer outro.
É a classe social móvel substituindo o estamento imóvel. Este capitalismo possibilitou que descendentes de alemães e italianos, por exemplo, com aquele mesmo sotaque do vereador de Caxias do Sul, que falou mal dos baianos, possam entrar numa concessionária e comprar um automóvel livremente.
O vendedor, preconceituosamente, poderá até vê-lo como um "colono" mas, mesmo assim, será contido pela manifestação do comprador: "Vou levar esta caminhonete e pago na 'borracha', no Pix"! Sorrisos se abrirão, mãos se estenderão, cafezinhos serão oferecidos e discriminações serão guardadas só para si.
Graças ao milagre do capitalismo, aos valores burgueses, leitor, não interessa mais o teu Estado, cor ou sotaque. Interessa a tua condição de proprietário, quer seja você um assalariado ou empresário, o capitalismo precisa de cidadãos e consumidores, ele não funciona com escravizados.
A escravidão não faz o menor sentido econômico, político ou ético. Capitalistas gaúchos, uni-vos contra o trabalho escravo!
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