O tema costumava ser abordado na ficção científica. Idosos ou crianças tendo robôs bondosos e prestativos por tutores e guardiões. Agora, cientistas e autoridades de saúde começam a considerar seriamente esta proposição. E a tecnologia já está quase no ponto de funcionar.
Relatório de pesquisadores de três universidades internacionais aponta que a inteligência artificial pode eventualmente ajudar a aliviar a chamada "epidemia de solidão" que assola os idosos em alguns países. O artigo, publicado em julho na revista científica Science Robotics, é assinado por integrantes das universidades de Auckland (Nova Zelândia), Duke (Carolina do Norte, EUA) e Cornell (Nova York, EUA).
Solução viável
O conceito discutido é o de robôs acompanhantes, dotados de inteligência artificial. Poderiam ser dispositivos físicos, ou até mesmo entidades de software.
"Por enquanto, todas as evidências apontam que ter um amigo de verdade é a melhor solução", comenta Murali Doraiswamy, coautor, professor de psiquiatria e gerontologia da universidade Duke. "Mas até que a sociedade priorize a socialização e o cuidado com a terceira idade, robôs podem ser uma opção para os milhões de idosos isolados que não possuem outra solução."
O número de idosos norte-americanos sem amigos próximos quadruplicou desde 1990, de acordo com levantamento do Centro de Pesquisas para a Vida na América. A solidão e o isolamento social podem afetar um terço da população mundial e trazer sérios riscos de saúde, como maior risco de doença mental, obesidade, demência e morte precoce.
(Com informações de Science Daily)
A solidão pode ser um fator de risco para a saúde tão pernicioso quanto os cigarros, comenta Vivek Murthy, médico norte-americano. Enquanto em alguns casos pode ser difícil fazer novas amizades na velhice para combater a solidão, pode ser uma solução viável apelar para dispositivos robóticos ou baseados em software.
Conexões
"A inteligência artificial apresenta oportunidades para dar aos robôs acompanhantes habilidades melhores para construir conexões sociais", diz Elizabeth Broadbent, coautora, professora de Psicologia em Auckland. "Temos que ter cuidado para estabelecer regras para confiabilidade."
Robôs sociais como o modelo ElliQ já tiveram milhares de interações com usuários humanos, quase metade das quais relacionadas a funcionar como companhia - até mesmo para tomar um chá ou café.
Pesquisas sobre robôs acompanhantes sugerem que eles podem reduzir o estresse e a solidão e podem ajudar as pessoas idosas a se manter saudáveis e ativas em suas casas.
Novos robôs equipados com programas avançados de inteligência artificial podem permitir melhores conexões com os humanos do que gerações anteriores. A inteligência artificial gerativa, como o ChatGPT, que é baseada em modelos amplos de linguagem, permite conversações mais espontâneas. Aplicativos até podem imitar a voz de entes queridos que já se foram.
Ficção foi profética
Trata-se da ciência discutindo seriamente cenários que já foram abordados na ficção científica. Em O Homem Bicentenário (1976), de Isaac Asimov, inclusive adaptado para o cinema, uma família tinha um robô auxiliando a educação dos filhos. Ray Bradbury escreveu em 1969 o conto Eu canto o Corpo Elétrico (o título é baseado em um poema), no qual tanto crianças quanto idosos ganhavam um robô por guardião.
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