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Eleições SÃO MAIORIA

Força de trabalho das mulheres garante eleições; no entanto, são minoria nas candidaturas

Elas têm mais votos e ajudam mais no pleito, mas têm menos candidatas

Por Eduardo Amaral
Publicado em: 17.09.2022 às 08:00 Última atualização: 17.09.2022 às 11:34

No dia 2 de outubro, data do primeiro turno das eleições, mais de 1,5 milhão de eleitores
vão às urnas nos 44 municípios da região de cobertura do Grupo Sinos. A organização do pleito passa diretamente pelas mãos dos 17.185 mesários que atuarão durante o primeiro turno. E quando o assunto é quem trabalha mais para as eleições, as mulheres são a grande maioria.

Primeiro turno será em 2 de outubro
Primeiro turno será em 2 de outubro Foto: Diego da Rosa/GES-arquivo
Na região, 65,6% dos mesários são mulheres. No Rio Grande do Sul, elas representam 66% do total. Quando se olha para o total de eleitores, elas representam mais de 52%, ou 4,5 milhões do total de 8,5 milhões de pessoas aptas a votar no Estado. Na região, o percentual é semelhante.

Mas toda essa relevância eleitoral e para fazer as eleições acontecerem segue sem encontrar eco quando os partidos escolhem os nomes para disputa de cargos eletivos. Das 1.433 candidaturas do Estado, apenas 480 são de mulheres, o que representa 33,5% dos elegíveis, enquanto os candidatos homens são 953, o que representa 66,5%.

De acordo com levantamento do Grupo Sinos com base nos números do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), neste ano serão 1,4 mil mesários a menos na região em comparação ao pleito de 2018. Dos mais de 17 mil mesários que trabalharão em 2 de outubro, um contingente de 7.015 é de voluntários, enquanto 10.170 são convocados pela Justiça Eleitoral. É esse grupo que atenderá os 1.567.269 eleitores que devem ir às urnas por aqui.

No comparativo com dados globais, a região repete a tendência estadual e nacional de ter mais convocados do que voluntários, ainda que a proporção seja diferente. Em todo RS, serão 99.679 mesários, dos quais 35.784 voluntários, enquanto 63.895 são convocados. Em todo Brasil são 1.780.681 de mesários, sendo 846.545 voluntários e 934.136 convocados. Tanto no cenário nacional quanto estadual, há realmente uma tendência de queda no número de mesários.

Mesários

Espaço de poder limitado na política

Doutora em sociologia e professora Unilasalle de Canoas, Suelen Aires Gonçalves avalia que essa participação coletiva na sociedade que não encontra eco nos espaços de poder é consequência de um comportamento social.

"É possível perceber que nos conselhos de direitos, no movimento comunitário, nas articulações da sociedade civil, há grande parcela da participação das mulheres. São elas que dedicam tempo da sua vida à coletividade, então isso responderia a questão das mulheres mesárias serem um percentual bem interessante neste processo numa ideia de contribuição para com a coletividade. Só que essa contribuição para coletividade a gente não percebe nos espaços de poder e de decisão", observa.

"Essa desigualdade dos espaços de poder diz muito sobre a dificuldade das mulheres estarem nestes espaços. As dificuldades vão, por exemplo, dos discursos de ódio contra as mulheres e a gente percebe isso muito na vida política", explica a socióloga.

Assim, por esta lógica, enquanto o exercício do poder é considerado um "trabalho para homens", resta às eleitoras o papel de cuidado, algo que reflete uma visão social. "O espaço público é lido como dos homens, enquanto o privado, dos cuidados dos filhos, é dedicado às mulheres. Então, a gente já tem essa barreira pela questão cultural machista", lamenta.

A questão social que cultiva este imaginário de mulheres aptas ao serviço, mas não para o comando, acaba se repetindo em partidos de diferentes matrizes ideológicas, que ainda são inflados pela imagem negativa do exercício político na sociedade. "Estamos diante de um fenômeno que reflete a sociedade brasileira."

Melhoria existe, mas é lenta

Apesar dos entraves ainda existentes, Suelen vê um avanço na participação feminina que pode tirar as mulheres da posição de trabalhadoras no processo, mas sem acesso ao poder. " A gente percebe que também os partidos políticos buscam alternativas para equiparar esse processo de disparidade. Alguns apostam em formação tanto do campo de esquerda quanto na direita, também de formação na perspectiva de buscar essa representatividade de mais mulheres, jovens negros, LGBTQIA ", destaca.

Financiamento público abre portas

Em 2021, o Congresso Nacional aprovou uma lei que obriga os partidos políticos a destinarem 30% dos recursos eleitorais para candidaturas femininas, um pequeno avanço que, na avaliação de Suelen, pode dar resultados positivos nos próximos anos. "Além da desigualdade de gênero, da misoginia, do ódio contra as mulheres que a gente percebe com muito mais nitidez nesse contexto eleições, a gente sabe também que para ser eleito é preciso recursos para ter uma campanha com estrutura", analisa.

A socióloga acrescenta que o modelo anterior de financiamento de campanhas contribuiu para erguer barreiras às candidaturas femininas. "No processo anterior, de financiamento privado, os recursos eram majoritariamente destinados às candidaturas de homens, numa ideia de maior competitividade."

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