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Eleições DISPUTA ELEITORAL

A duas semanas das eleições, especialista analisa cenário

Cientista político Benedito Tadeu César faz avaliação sobre os desafios e as tendências das eleições deste ano

Por Eduardo Amaral
Publicado em: 19.09.2022 às 03:00 Última atualização: 19.09.2022 às 09:28

Duas semanas é o tempo que falta para que os eleitores vão às urnas no primeiro turno das eleições. Pesquisas até agora apontam tendência de disputa em segundo turno para o governo do Estado, e um cenário embolado na busca à cadeira no Senado. Além disso, há uma busca que se intensifica pelos votos para composição dos legislativos estaduais e as cadeiras na Câmara dos Deputados.

A duas semanas das eleições, especialista analisa cenário
A duas semanas das eleições, especialista analisa cenário Foto: EBC

 

Além de captar os frutos das estratégias adotadas até agora, alguns candidatos também precisarão mudar para conquistar mais votos.

Para o professor aposentado de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) e diretor da Rede Estação Democracia, Benedito Tadeu César, a disputa ao Piratini se mostra cada vez mais cristalizada em um segundo turno a ser disputado pelo ex-governador Eduardo Leite (PSDB) e Onyx Lorenzoni (PL). "Vejo uma situação muito cômoda do Leite e Onyx em termos de irem ao segundo turno. Dificilmente, esses 14 dias seria possível reverter esse jogo."

Polarização

Na análise de Benedito, essa consolidação do cenário na disputa ao governo do Estado é fruto de uma dificuldade das campanhas tanto de Edegar quanto de Onyx de desconstruir a imagem de Leite. Como ambos representam os campos mais polarizados da política nacional, resta a ambos roubar votos do tucano, o que tem se mostrado ineficiente até o momento. "(Leite) tem se vendido como um bom administrador, se descolou do Bolsonaro e se apresenta como alguém que resolveu as finanças do Estado. Os outros dois (Onyx e Pretto) não têm conseguido desmontar essa estratégia dele. Tentaram primeiro bater no fato da sua renúncia, mas isso não surtiu grande efeito."

Aliado ao fator de não conseguirem desconstruir a boa imagem de Leite junto ao eleitorado, a nacionalização da eleição estadual também foi fator determinante até aqui para que Onyx conseguisse se manter competitivo enquanto Edegar não conseguiu mesmo resultado.

"O Onyx se cola no Bolsonaro e isso tem dado certo pra ele, porque o Onyx não tinha nenhuma base social, quem tinha é o Heinze, mas não é o suficiente para garantir uma dianteira." O fator Heinze é apontado como outro fator determinante para a dianteira do ex-governador, já que na avaliação de César, o tucano conseguiu captar boa parte dos votos do senador, que patinou nas intenções de voto já que Leite construiu uma boa articulação com o setor do agronegócio, base eleitoral de Heinze, além de uma bom relacionamento com os prefeitos do interior.

"A sensação que tenho é que o voto do Heinze migrou para o Leite, porque ele chegou a liderar as intenções de voto e assim que o Leite se oficializou a candidatura começou a cair."

Nos próximos dias, César aposta que Leite manterá a mesma estratégia, aproveitando o fator liderança. Enquanto isso, seus principais adversários devem aumentar o tom contra sua candidatura, já que ambos precisam captar votos de Leite.

As estratégias que se apresentam para os candidatos

Os outros postulantes ao Piratini terão, na avaliação de César, uma dura tarefa pós-eleição. Vieira da Cunha (PDT) terá que voltar para a base de um partido em uma crise identitária que pode reduzir sua representatividade nos parlamentos. “O PDT vem num esvaziamento muito forte há algum tempo. Primeiro um processo de perda de identidade, acho que vem desde quando o PDT apoia a candidatura do Lasier Martins (Senado 2014), que era evidente não ficaria no PDT. E nessa eleição acho que ele se ressente muito da polarização nacional”, avalia ele, dizendo ainda que sem o bom resultado nacional, o partido acelera a desmobilização no Estado.

Já o caso de Vicente Bogo (PSB) é, na avaliação de César, um pouco diferente, já que o seu partido deve se beneficiar localmente de resultados nacionais e em outros Estados, o que facilita uma rearticulação partidária. “A candidatura do Bogo não tem nenhuma expressão eleitoral, mas eu acho que o PSB se coloca numa situação melhor do que a do PDT, porque vai fazer governadores, deputados, senadores no Brasil e o PDT dificilmente vai fazer alguém, e o PSB está aliado ao Lula nacionalmente e acho que aqui há uma grande chance de se recompor.”

Competição é vista como bem mais apertada no Senado

Se o cenário na corrida ao Piratini vai se estabilizando, a disputa ao Senado mostra uma grande indefinição. Para César, a vitória na disputa pode ser conquistada com 30% dos votos, mas quem alcançará essa margem é algo bastante indefinido na avaliação do cientista político. Olívio Dutra (PT) vem liderando as intenções de voto com margens apertadas e é o mais próximo de alcançar a votação necessária, mas ainda pode ser vítima do chamado voto útil. É que o ex-governador compete com outras três candidaturas de direita, que se mostram mais próximas a ele. Ana Amélia (PSD), Hamilton Mourão (Patriotas) e Nádia Gerhard (Progressistas).

O número alto de candidaturas de direita contrárias a Olívio é ao mesmo tempo uma desvantagem e uma incerteza até os últimos momentos da votação, já que o eleitor pode migrar seu voto nas últimas horas antes do pleito. "É difícil agora você saber para onde migrar esse voto, para Ana Amélia ou para o Mourão. O voto da Comandante Nádia vai para quem? A menos que a gente chegue na véspera da eleição com uma situação mais cristalizada entre Mourão e Ana Amélia, tende a murchar a que está mais atrás e isso pode derrotar o Olívio."

Em contrapartida, o petista, na avaliação de César, tem a vantagem de ampliar a votação para além do escopo partidário, conseguindo angariar votos em setores contrários à legenda da qual é um dos fundadores. "Se essa situação ficar indefinida isso favorece o Olívio, o eleitorado dele é maior que o eleitorado petista." Todo esse cenário complexo promete mais uma eleição ao Senado decidida voto a voto e nos últimos momentos de apuração, assim como aconteceu em 2014, quando também havia apenas uma cadeira.

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