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Economia regional projeta recuperação no segundo semestre

Levantamento mostra impacto da pandemia na região dos vales do Sinos, Paranhana, Caí e na Serra

Por Matheus Chaparini
Publicado em: 27.03.2021 às 06:08 Última atualização: 27.03.2021 às 09:59

Indústria metalúrgica teve um dos melhores desempenhos na economia em 2020 Foto: Diego da Rosa/GES
O ano de 2020 registrou o pior desempenho para a economia de modo geral nas últimas décadas. O Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 4,1%.

Diante do cenário devastador, a esperança foi depositada em 2021. Mesmo com o agravamento da pandemia e dos novos fechamentos no primeiro trimestre, a avaliação do economista-chefe da Fiergs, André Nunes de Nunes, é de que 2021 será um ano de retomada da economia.

"Certamente teremos um período, ainda em 2021, de um impacto positivo da abertura em diferentes setores. Quando voltarmos a ter maior circulação, eventos, retomada de aulas presenciais", avalia.

Nunes afirma que já eram esperados novos fechamentos e um desempenho mais fraco nos primeiros meses, em função das festas de fim de ano. Para o segundo semestre é esperada uma maior circulação de pessoas e a retomada de atividades paralisadas.

Além disso, o câmbio desvalorizado tende a fazer com que o varejo busque o produto nacional, mais acessível em relação ao importado, aponta o economista. "O que a gente imagina que vá ocorrer ao longo do ano é uma melhora um pouco mais disseminada, não só dos segmentos que se beneficiam do 'fique em casa', principalmente o setor de serviços. Já vemos alguma melhora no setor de vestuário e calçados."

Desempenho Indústria e Serviços

As restrições decorrentes da pandemia trouxeram prejuízos à maior parte dos setores. Na região, a indústria calçadista e o setor de serviços foram os que mais sofreram, fechando juntos mais de 13 mil postos de trabalho ao longo do ano.

Com base no Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) e no Boletim da Receita Estadual - Impactos Covid-19, o Jornal NH realizou um levantamento sobre o impacto da pandemia do novo coronavírus sobre os variados setores da economia em 2020 nas regiões dos vales do Sinos, Caí e Paranhana e da Serra. A área pesquisada teve saldo de empregos negativo, com fechamento de 6.632 postos de trabalho.

Entre as exceções positivas, estão os serviços de saúde, a construção civil e as indústrias moveleira e metalúrgica. O setor primário foi pouco impactado, fechando 2020 com saldo de empregos positivo de 73.

A indústria teve saldo negativo de 957 empregos. Entre os setores industriais, o coureiro-calçadista foi disparado o que mais teve prejuízos, fechando 7.359 postos de trabalho no ano. Em 2021, o setor tem saldo positivo e começa a recuperar parte dos empregos perdidos na crise de 2020.

Os melhores resultados na indústria foram na fabricação de produtos de metal, que criou 2.179 novos postos de trabalho. Em seguida vem a construção, que criou 1.596 vagas e a fabricação de móveis, com 1.113.

O setor de serviços fechou o ano passado com saldo negativo de 5.748 postos de trabalho. Os ramos mais afetados foram os de alojamento e alimentação, com perda de 3.597 postos, e o de transporte, com menos 2.018.

Dos oito ramos compreendidos pelo setor de serviços, apenas dois criaram novos postos de trabalho: saúde, com 1.526 novos empregos, e informação e comunicação, com 548.

Receita estadual

O boletim da receita estadual confirma o impacto sofrido pela indústria do calçado. Entre os 19 setores elencados, o coureiro-calçadista tem o pior volume de vendas em comparação com o ano anterior. O levantamento abrange o período de março de 2020 até janeiro de 2021.

O resultado foi positivo apenas nos três últimos meses de 2020.

Os cinco melhores resultados foram da indústria de alimentos: arroz, bovinos, leite, suínos e trigo.

A indústria metalúrgica aparece em décimo lugar, com 11,4% no acumulado e uma sequência de resultados positivos desde agosto. o mês de dezembro teve alta de 120,8% em 2020 em relação a 2019.

Negócios voltados ao "fique em casa" de destacaram

Economista e professor da Unisinos, Marcos Lelis vê dois efeitos principais da pandemia na economia. Os setores de comércio e serviços, que tiveram as principais restrições diretas, foram os mais afetados. Junto a estes, os ramos da indústria que têm grande dependência do comércio varejista, como o setor coureiro calçadista e as confecções.

Por outro lado, Lelis aponta um efeito economicamente positivo da pandemia. Setores que têm relação com o "ficar em casa" cresceram.

"O fato de as pessoas ficarem em casa, levou a fazer reformas ou até mudar de casa. A casa virou tudo e o consumidor percebeu as dificuldades que ele tinha no lar. A construção, indústria moveleira, setor de TI e negócios voltados aos pets tiveram bons resultados", analisa.

Para 2021, Lelis afirma que ainda é cedo para projetar como e quando se dará a retomada dos principais impactados.

"A gente vai ver um horizonte um pouco melhor, uma retomada mais consistente, a partir de maio. Até lá, temos alguns percalços, se a segunda onda está vindo e de que tamanho, a velocidade da vacinação. Tudo isso gera algumas incertezas."

A alternativa é digital

Andrea Kohlrausch, presidente da Calçados Bibi Foto: Luize Silva/Divulgação
Na avaliação do presidente da Abicalçados, Haroldo Ferreira, o principal fator que impactou o setor foi o fechamento do comércio varejista. "O Estado de São Paulo consome cerca de 45% da produção nacional. Cada cidade que faz lockdown lá influencia em toda a produção nacional. O setor calçadista está diretamente ligado ao comércio varejista", destaca Ferreira.

Para 2021, a associação projeta que o setor cresça 14%, mas o dirigente já reconhece que a projeção contava com um começo de ano melhor.

Além do fechamento de lojas, uma fábrica de calçados de Parobé, voltada ao público infantil, teve o impacto da suspensão das atividades escolares.

Para compensar parte das perdas das lojas físicas, a empresa investiu no comércio on-line. "Conseguimos crescer as vendas on-line da nossa rede em 207% em relação ao ano de 2019", diz a presidente, Andrea Kohlrausch. Ela avalia afirma que foi possível manter todos os 1.150 funcionários, sem demissão, prevê um crescimento de 16% a 20% em comparação com 2019, já que 2020 ela considerou "atípico".

 

Atípico para menos e mais

Mesmo com saldo positivo no fechamento do ano, uma metalúrgica de São Leopoldo, que trabalha com usinagem de precisão, registrou movimentação atípica ao longo de todo o ano de 2020.

"O primeiro semestre foi bem aquém de 2019, mas o segundo recuperou. A gente até não esperava tanta demanda, em função da covid. Fechamos 2020 batendo com 2019, na mesma proporção de faturamento", afirma o diretor Renato Nunes.

Na primeira metade do ano, as máquinas ficaram praticamente paradas. Sem demanda, cerca de 40% dos funcionários foram demitidos. A partir de julho, a situação se inverteu.

Com a demanda represada, os pedidos se multiplicaram e as contratações voltaram. No fim de 2019, a equipe contava com 120 funcionários. Hoje, são 150 e há vagas.

Com o disparo na demanda, o setor enfrenta agora dificuldade com a matéria-prima.

"Alumínio, latão, aço estão mais difíceis e o preço foi lá para cima. Para ter uma ideia, o latão subiu de R$ 30 para R$ 70", afirma.

Metalurgia não parou

Em São Leopoldo, a indústria metalúrgica teve um dos melhores resultados do estado. O saldo de empregos ficou positivo em 593.

Para o secretário geral do Sindicatos dos Metalúrgicos de São Leopoldo e região, Valdemir Pereira, isso foi possível graças a negociações que permitiram que as fábricas seguissem produzindo.

"Quando se instalou a pandemia, havia todo um temor de desemprego e essa questão envolveu todo o país. Mas quando muitas regiões fecharam, São Leopoldo foi um dos únicos polos que seguiu produzindo e virou referência", afirma .

 


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