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Notícias | Especial Coronavírus Crise do coronavírus

Entrevista | ''Jogar a população nas ruas é política genocida'', diz Tarso Genro

Ex-governador foi um dos articuladores de manifesto assinado por lideranças políticas de centro-esquerda que pede a renúncia do presidente Jair Bolsonaro

Por João Victor Torres
Publicado em: 01.04.2020 às 18:21 Última atualização: 01.04.2020 às 18:38

Partidos de oposição ingressaram no início da semana com notícia-crime contra o presidente Jair Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF), reivindicando seu afastamento imediato do cargo pelo período de 180 dias. Em paralelo, lideranças políticas de centro-esquerda assinaram um manifesto recomendando a renúncia do presidente que, na visão do grupo, “seria o gesto menos custoso para permitir uma saída democrática ao País”. O documento foi tornado publico antes do pronunciamento de Bolsonaro na terça-feira (31). A alegação está atrelada a forma como o presidente vem conduzindo suas ações diante da pandemia do novo coronavírus.

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O texto é assinado por três ex-candidatos à Presidência da República: Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL). Companheiras de chapa de Haddad e Boulos, Manuela D'Ávila (PCdoB) e Sonia Guajajara (PSOL), respectivamente, referendam o documento. O ex-governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, foi um dos responsáveis pela articulação que resultou no manifesto. “Jogar a população nas ruas para apressar o contágio - e assim proteger a economia - é, na verdade, uma política genocida”, afirma Tarso, que foi ministro da Educação e da Justiça no governo Lula, e é ex-prefeito de Porto Alegre.

O ex-governador gaúcho concedeu entrevista exclusiva ao Jornal NH e conta detalhes da construção do documento (leia mais abaixo). Ainda subscreveram o texto outras lideranças, como o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e os presidentes nacionais do PT, PSB, PDT, PCdoB e PCB, assim como o ex-governador do Paraná, Roberto Requião.

As lideranças de centro-esquerda sustentam que “Jair Bolsonaro é o maior obstáculo à tomada de decisões urgentes para reduzir a evolução do contágio, salvar vidas e garantir a renda das famílias, o emprego e as empresas. Atenta contra a saúde pública, desconsiderando determinações técnicas e as experiências de outros países”, dizem. Na sequência, voltam a dizer que o presidente não possui condições de administrar o Brasil. “Precisamos de união e entendimento para enfrentar a pandemia, não de um presidente que contraria as autoridades de saúde pública e submete a vida de todos aos seus interesses políticos autoritários”, complementa.

Entrevista com Tarso Genro

Jornal NH: O senhor articulou a construção deste manifesto? E o que
representa este documento assinado por forças políticas de diferentes
partidos?

Tarso Genro: Fui um dos articuladores, juntamente com Haddad, Flávio Dino e Guilherme Boulos. Com Ciro fui eu quem fiz o contato e discuti a redação do documento, que recebeu dele importantes contribuições. Acho que é um momento importante de configuração de um programa unitário e democrático para organizarmos um novo futuro para o País.

Jornal NH: Por que o senhor defende a renúncia do presidente Bolsonaro?

Tarso Genro: Sugerimos, no documento, a renúncia como o caminho menos custoso para restaurarmos uma relação sadia do Estado com a sociedade civil e relegitimarmos as instituições da Constituição de 88. Hoje o Brasil é um fiasco financeiro, um fiasco sanitário, um fiasco em
educação, um fiasco em política externa e a pandemia nos apanha numa situação de completa deterioração política do poder de Estado. O presidente é um desequilibrado mental que prepara ao caos para tentar impor uma ditadura.


Jornal NH: Em relação a situação do País, o que deveria ser feito pelo presidente da República no enfrentamento à pandemia?

Tarso Genro: Não sou sanitarista nem médico, como sabes, então me atenho a que qualquer governo, seja de esquerda ou de direita, autoritário ou democrático, deveria seguir as recomendações da OMS (Organização Mundial de Saúde) e reorganizar um sistema de proteção dos economicamente mais débeis neste momento de desastre e caos na saúde pública.


Jornal NH: Prefeitos e governadores têm reclamado da falta de unidade do presidente com sua equipe, em especial do Ministério da Saúde. Os técnicos recomendam um comportamento. Bolsonaro adota o oposto. Além disso, citam que isto prejudica o convencimento à população permanecer em casa. Como o senhor classifica estas ações por parte do presidente?

Tarso Genro: Acho que o presidente não tem condições psicológicas e cognitivas para governar, o que lhe obstrui a composição de qualquer postura política adequada para gerir o País, muito menos na situação emergencial que nos encontramos. Jogar a população nas ruas para apressar o contágio - e assim proteger a economia - é, na verdade, uma política genocida. No momento crítico que nós vivemos, a questão não é de termos um governo "liberal" ou não liberal, estatista ou não estatista, é de termos um governo sensato, tendo à frente uma pessoa mentalmente sadia, que governe dentro da Constituição.

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