Publicidade
Botão de Assistente virtual
Notícias | Especial Coronavírus Fome

Fila em busca de alimento cresce até 2.400% na região; veja como ajudar

Muita gente que nunca imaginou passar dificuldades está pedindo o que comer. Em algumas cidades, procura cresceu de forma exponencial

Por Bruna Mattana
Publicado em: 30.04.2020 às 07:00

Equipe de voluntários da Cáritas auxilia sistematicamente pessoas que precisam de comida e roupas Foto: Bruna Mattana/GES-Especial
Tem gente passando fome. E não é a fome que você imagina, entre uma refeição e outra. O trecho do poema Além da imaginação, de Ulisses Tavares, é de 23 anos atrás, mas está cada vez mais atual. "Remédio" mais eficaz para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, as medidas de isolamento social inegavelmente provocaram efeitos colaterais na economia. Estabelecimentos fechados, consumidores com receio de comprar, desemprego. A Organização Internacional do Trabalho prevê que a pandemia deve deixar 25 milhões de pessoas sem emprego no mundo e aprofundar a pobreza. E como quase ninguém hoje em dia vive ilhado, aqui na região muita gente que nunca imaginou não ter o que comer está pedindo ajuda. Em municípios como Sapiranga, a distribuição de cestas básicas cresceu 2.400%.

CONTEÚDO ABERTO | Leia aqui todas as notícias sobre coronavírus

O Banco de Alimentos da Região do Calçado (Barc), por exemplo, registrou um crescimento de 315% na arrecadação e distribuição de comida nos últimos 30 dias. O montante saltou de pouco mais de 9 toneladas para quase 30 toneladas. E o perfil de quem precisa de alimentos mudou. Além das 54 entidades regularmente assistidas, pessoas que nunca pensaram em passar fome agora pedem comida. "São desempregados, que não eram cadastrados anteriormente. Temos recebido muitos telefonemas e até pessoas se dirigindo a nossa porta ou pelas redes socais, com dois filhos ou mais, com dificuldades de comprar comida, por não terem mais emprego ou não poderem trabalhar pelas medidas de restrição", atesta o presidente do Barc, Ademir Rodrigues.

A mesma percepção sobre a mudança do perfil de quem pede comida tem o padre Flávio Corrêa de Lima, coordenador da Cáritas Diocesana de Novo Hamburgo. Braço da Igreja Católica voltado a ações sociais e humanitárias, a Cáritas conta com 50 equipes distribuídas em 19 cidades da região. Antes da pandemia, eram pouco mais de 3,4 mil famílias cadastradas que recebiam doações de alimentos e roupas todo o mês. "Mas o número de quem precisa de ajuda aumentou", atesta padre Flávio. O crescimento das doações é de 60%. "São pais e mães trabalhadores, ambos afastados de suas atividades que lhe garantiam o sustento. A pobreza não tem um rosto, como muita gente imagina. São pessoas de diferentes perfis que nos procuram hoje", lamenta o religioso.

Solidariedade não tem fronteiras

Na Cáritas da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, no bairro São José, em Novo Hamburgo, a solidariedade ultrapassa fronteiras. Há cerca de um ano no Brasil, seis haitianos que moram no Loteamento Kephas ainda procuram estabilidade no país que escolheram para seguir a vida. Desde 2010, milhares de pessoas deixaram o Haiti, devido a instabilidades políticas e econômicas. No Brasil, esperavam encontrar um porto seguro. Mas a situação para esses haitianos que vieram para Novo Hamburgo, no entanto, se agravou no último mês. A Covid-19 deixou sem emprego quem há pouco tempo conseguiu um, como é o caso de Etrenne Monasse, de 29 anos, que há dois meses trabalhava em uma indústria, em Sapiranga. "Eu fazia mochilas e bolsas. Quando começou a pandemia, eles me demitiram", conta. Amiga de Etrenne, Júnia Philostin, 30, diz que começou a fazer curso de padaria e estava esperançosa por um trabalho. "Agora não sei quando vou conseguir. Tivemos que recorrer ao serviço da Cáritas."

A coordenadora da Cáritas paroquial, Liliane Teresinha Adriano, conta que a procura pelo serviço aumentou significativamente no último mês. "Tínhamos 238 famílias cadastradas. Mensalmente, em torno de 70 recebiam doação de alimentos e roupas. Nesse último mês, cresceu 70% a procura. Muitas pessoas que não estavam cadastradas vieram, principalmente, em busca de alimentos. Ajudamos a todos, conforme conseguimos doação."

Sapiranga registrou aumento expressivo

Não são apenas entidades que atuam na distribuição de doações que constatam o aumento de necessitados. Prefeituras confirmam que cada vez tem mais gente precisando de ajuda. Em Sapiranga, no período entre 23 de março e 23 de abril, foram entregues 981 cestas básicas a famílias em situação de vulnerabilidade social por causa da pandemia. O número representa um acréscimo de 2.400% em relação a um mês normal. Foram quase oito toneladas de alimentos, 981 óleos de soja e mais de 2,6 mil litros de leite distribuídos.

A expectativa da prefeitura é que, com a concessão do auxílio emergencial, haja uma redução no número de famílias com necessidades. Ainda assim, manterá o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA), financiado com recursos federais.

Crescimento da demanda assustou em Taquara

Num período de 30 dias entre as segundas quinzenas de março e abril, a entrega de mantimentos a famílias em Taquara, no Vale do Paranhana, cresceu mais 1.200%. Das 50 cestas básicas mensais, o número saltou para 600. "Costumamos entregar para quem está no Cadastro Único para programas sociais do governo federal, mas a grande maioria, agora, nunca tinha acessado o cadastro. Isso nos assustou bastante", admite a gestora dos programas sociais no município, Clarice Quadros.

A quantidade de nove meses entregue em apenas um

Entre as segundas quinzenas de março e abril, foram concedidas 1.373 cestas de alimentos a famílias necessitadas de Campo Bom, por meio do Cras. Em janeiro, por exemplo, foram 150 cestas. Em fevereiro, 190. Durante todo o ano de 2019 foram entregues 1.842 unidades. É como se em apenas um mês fosse repassado o correspondente a nove meses do ano passado. Quanto aos critérios, estão aptos a receberem os mantimentos moradores de Campo Bom que já possuem cadastro junto ao Cras. Também estão aptos aqueles que estejam comprovadamente desempregados e/ou exerçam atividades profissional informal, e perderam as suas rendas.

50 toneladas repassadas em Novo Hamburgo

Para se ter uma ideia do tamanho da necessidade, apenas a prefeitura de Novo Hamburgo já distribuiu aproximadamente 50 toneladas de alimentos de 23 de março até o final da semana passada, beneficiando aproximadamente 2,5 mil famílias. De acordo com o secretário de Desenvolvimento Social, Roberto Daniel Bota, a demanda cresceu aproximadamente 1.000%.

"E estamos esperando um aumento ainda maior passada esta situação de calamidade, porque muita gente seguirá sem trabalho e a situação econômica e social tende a se agravar", alerta Bota. Para auxiliar quem precisa, os cinco centros de referência de assistência social (Cras) realizam cadastramento das pessoas e as cestas básicas são entregues nas casas. Estão sendo atendidas famílias em situação de extrema pobreza; beneficiários do Bolsa Família com mais de sete pessoas; desempregados, mediante apresentação da carteira de trabalho; autônomos sem condições de atuar no momento (precisam do alvará de funcionamento, microempreendedores sem renda (precisam do certificado que comprove a condição).

O cadastramento nas unidades do Cras pode ser feito das 8 às 12 horas e das 13 às 17 horas, de segunda a sexta-feira.

Insegurança alimentar deve duplicar no mundo

A situação daqui não é diferente em outras partes do planeta. O número de pessoas que enfrenta insegurança alimentar pode duplicar devido à Covid-19, passando de 135 milhões de pessoas no final de 2019 para 265 milhões no final desse ano. A conclusão faz parte do Relatório Global de Crises Alimentares, publicado pelo Programa Mundial de Alimentação e Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO). O relatório apresenta a escala de insegurança alimentar em cinco fases: mínima, estresse, crise, emergência e fome.

No ano passado, comparando com 2018, mais de 5 milhões de pessoas estavam nas últimas três fases. A maioria vivia em países afetados por conflitos. Em 2020, a situação "é particularmente preocupante devido às previsões da evolução da pandemia", alerta o relatório. De acordo com a FAO, os declínios na atividade econômica provavelmente diminuirão os orçamentos nacionais e das famílias. A situação alimentar pode continuar a piorar, mas a magnitude das consequências ainda não é conhecida. A pesquisa afirma que a maioria dos países mencionados não tem meios para realizar atividades humanitárias de resposta à pandemia e, ao mesmo tempo, proteger e apoiar os meios de subsistência.

Você pode ajudar

Banco de Alimentos

Uma das formas de ajudar quem precisa é por meio do Banco de Alimentos. Você pode ajudar mesmo sem sair de casa, depositando qualquer valor no Sicredi - 748; agência, 0101; conta corrente, 88565-4; CNPJ, 13.933.976/0001-69. Ainda é possível doar pelo Sicoob - 756; agência, 3354-8; conta corrente: 6089-5; no mesmo CNPJ, em nome de Banco de Alimentos da Região do Calçado. A sede da entidade fica na Rua 5 de Abril, 29, bairro Rio Branco, em Novo Hamburgo. Informações pelo 3527-0044, 99248-1830, 98118-3063 ou e-mail barc@hotmail.com.br.

Cáritas Diocesana

Ainda em Novo Hamburgo, doações podem ser feitas na secretaria da Paróquia Nossa Senhora Aparecida, que fica na Rua Farroupilha, 315, no São José, das 8 às 11 horas e das 14 às 18 horas, de segunda a sexta-feira. No sábado, o atendimento é das 8 às 11 horas. Para saber onde tem a equipe da Cáritas mais próxima para doações basta ligar para 3035-4678 e falar com Rose.

Novo Hamburgo

As doações encaminhadas pela Prefeitura de Novo Hamburgo são recebidas na Fenac (Rua Araxá, 505), do meio-dia às 18 horas, de segunda a sexta-feira.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas

Olá leitor, tudo bem?

Use os ícones abaixo para compartilhar o conteúdo.
Todo o nosso material editorial (textos, fotos, vídeos e artes) está protegido pela legislação brasileira sobre direitos autorais. Não é legal reproduzir o conteúdo em qualquer meio de comunicação, impresso ou eletrônico.