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Notícias | Novo Hamburgo ONCOLOGIA EM TAQUARA

Pacientes oncológicos de Novo Hamburgo reclamam das dificuldades de transporte e estrutura

Demora no deslocamento e falta de local protegido para as longas esperas por atendimento estão entre as principais dificuldades apontadas

Publicado em: 13.06.2023 às 14:35 Última atualização: 14.06.2023 às 16:55

Desde a mudança do atendimento oncológico dos moradores de Novo Hamburgo para a cidade de Taquara, no Vale do Paranhana, as reclamações dos pacientes se acumulam. O tema principal das reivindicações não alcança o atendimento médico, mas a quase totalidade dos pacientes se queixa do modelo de transporte oferecido, além da falta de estrutura para espera no Hospital Bom Jesus.

Espaço dedicado para quem espera por atendimento em Taquara tem poucos bancos e não tem proteção contra chuvas
Espaço dedicado para quem espera por atendimento em Taquara tem poucos bancos e não tem proteção contra chuvas Foto: Eduardo Amaral/GES-Especial

Moradora do bairro Santo Afonso, em Novo Hamburgo, há três anos Sandra Helena Pilger, 55 anos, acompanha a mãe, Noemia Pilger, de 88, que está em tratamento oncológico. Porém, na última sexta-feira (9) ela precisou ir sozinha apenas para buscar um remédio que não estava disponível na cidade.


Sandra saiu de Novo Hamburgo na van disponibilizada pelo Município às 9 horas. Em menos de 40 minutos tudo foi resolvido, mas ela só pôde voltar para casa às 17 horas.

“A van das 12 horas estava lotada, afinal a prioridade é de quem veio mais cedo. Fica muito cansativo”, conta Sandra. Ela diz que a mãe reclama com frequência do cansaço devido as viagens constantes para tratamento.

Em fevereiro, o Jornal NH noticiou a dificuldade dos pacientes de se deslocarem até a cidade vizinha para buscar medicamentos.

Na busca de remédio para mãe, Sandra Helena Pilger precisou viajar mais de uma hora até Taquara e esperou mais de quatro horas para voltar para casa
Na busca de remédio para mãe, Sandra Helena Pilger precisou viajar mais de uma hora até Taquara e esperou mais de quatro horas para voltar para casa Foto: Eduardo Amaral/GES-Especial

Questionada sobre o procedimento com os remédios oncológicos, a Secretaria Municipal da Saúde (SMS) afirmou que eles são disponibilizados Centro Especializado em Reabilitação, localizado no bairro Rondônia. Os pacientes são informados de uma data para retirada.

Entretanto, como a própria secretaria esclarece, no caso do paciente “não retirar o medicamento na data marcada, este medicamento seguirá disponível no Hospital de Taquara.” Sandra considera necessário uma alternativa que evitasse a viagem apenas para buscar um remédio mesmo após o produto ter sido disponibilizado em Novo Hamburgo.

O Hospital Bom Jesus, de Taquara, é referência oncológica para 13 cidades da região: Novo Hamburgo, Taquara, Campo Bom, Dois Irmãos, Estância Velha, Ivoti, Igrejinha, Três Coroas, Parobé, Rolante, Cambará do Sul, São Francisco de Paula e Riozinho. Segundo a Prefeitura de Novo Hamburgo, quem define as cidades e locais de referência para serviços de saúde pelo SUS é a Secretaria Estadual de Saúde.

Estrutura de espera

Uma outra reclamação constante é quanto a estrutura de espera para pacientes e acompanhantes, que muitas vezes precisam ficar horas aguardando por atendimento. A reclamação é constante já que o local destinado para a maior parte da espera é uma área sem proteção em frente ao hospital.

Pacientes oncológicos de Novo Hamburgo reclamam das dificuldades de transporte e estrutura
Pacientes oncológicos de Novo Hamburgo reclamam das dificuldades de transporte e estrutura Foto: Eduardo Amaral/GES-Especial

“Quando chove é horrível”, destaca Bianca Andressa dos Santos, 27 anos, moradora do bairro Canudos que precisa ir até Taquara acompanhar a mãe Loreni Aparecida dos Santos, 51 anos.

Há quatro anos em tratamento, Irene Kaieski, 66 anos, reclama também da falta de opções para alimentação. “Hoje a gente fez um piquenique aqui”, conta ela, acompanhada de outras pessoas que também aguardavam atendimento.

Com apenas uma opção para alimentação e sem possibilidade de aquecer alimentos, resta aos pacientes e acompanhantes levar pequenos lanches e compartilhá-los quando possível.

Atualmente existe uma área coberta para receber pacientes ao lado do Centro de Oncologia (Oncoprev). Mas a mesma só é liberada faltando 15 minutos para as consultas. Por e-mail, o diretor do Hospital Bom Jesus, Ramon Rodrigo Ritter, garantiu que a melhoria de estruturas já está prevista.

“O Estado do Rio Grande do Sul, através da Secretaria Estadual de Saúde, incluiu o Hospital Bom Jesus no programa Assistir, com destinação de mais de R$ 6 milhões para ampliação da estrutura hospitalar existente. Este investimento proporcionará melhores instalações aos usuários que frequentam esta casa de saúde, podendo ampliar os atendimentos já existentes.”

Ritter diz ainda que o procedimento atual de espera é adotado para garantir o melhor fluxo durante as consultas.

Demora para chegar e para voltar

“Hoje vou perder a van das 17 horas”, lamentava Irene na última sexta-feira, pois sua consulta estava agendada para às 16h30. Ela saiu do bairro Operário às 12h30 e desembarcou em
conta ela que na sexta-feira saiu às 12h30 do bairro Operário para a consulta que estava marcada apenas para às 16h30.

O tempo de espera se somou à viagem que leva mais de uma hora com a van oferecida pela Prefeitura de Novo Hamburgo. São três horários diários de ida e volta, sendo que são disponibilizados mais cinco carros para atender os pacientes nos casos de consultas que se estendem além do esperado.

Pedreiro e morador do bairro Canudos, Marino Gomes da Silva, 62 anos, descobriu no início do ano passado um câncer no intestino que acabou em metástase para o fígado. Mal iniciou o tratamento no Hospital Regina e precisou se organizar com a família para ir, pelo menos cinco vezes ao mês, para Taquara.

Graças ao apoio do irmão, Manir Gomes da Silva, 61 anos, não tem sido necessário utilizar o transporte ofertado pelo município. Mas o gasto ampliou bastante: são mais de R$ 250 mensais extras para garantir as viagens, afora os momentos de emergência.

“Teve um dia que ele estava com muita dor e precisamos ir correndo para Taquara”, conta Maria de Fátima Teixeira da Silva, 60 anos, esposa de Manir. São cerca de 40 minutos a cada viagem de ida e de volta, mais de uma hora e meia no total a cada dia que o pedreiro precisa buscar tratamento na cidade vizinha.

Embora grato e elogioso ao tratamento recebido em Taquara, Manir reconhece a necessidade de que o atendimento volte para Novo Hamburgo. “Eles fazem tudo que podem, mas a demanda é muito grande. Acho que falta vontade política para que fique aqui.”

Tratamento mais perto

Realizada em abril do ano passado, a transferência do tratamento oncológico aconteceu após o Hospital Regina não renovar o credenciamento junto à Secretaria Estadual de Saúde (SES).

De acordo com a SMS, a construção do anexo 2 do Hospital Municipal de Novo Hamburgo deve possibilitar a retomada do serviço na cidade a partir de 2024. "As tratativas entre a SMS e a Secretaria Estadual de Saúde já estão em curso", afirma a Secretaria.

Recentemente, o prefeito de Campo Bom, Luciano Orsi, sinalizou o desejo de levar para a cidade o tratamento oncológico dos pacientes de Novo Hamburgo.

De acordo com a SMS não há nenhum avanço nesse sentido. Na avaliação do órgão, inclusive, a cidade vizinha está mais longe de conseguir garantir o tratamento. "Campo Bom necessita de obras de ampliação do seu hospital para se credenciar a receber a oncologia. Por outro lado, Novo Hamburgo já está com a ampliação do Hospital Municipal em plena construção, ou seja, em etapa adiantada para retomar a referência em oncologia no seu próprio Hospital."

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