População de rua reclama do atendimento para o inverno e governo diz já ter plano
Às vésperas da chegada oficial do inverno, pessoas em situação de rua relatam falta de organização para acolhimento
Há oito anos vivendo em situação de rua na cidade de Novo Hamburgo, Leandro Ribeiro, de 27 anos, é taxativo ao avaliar o atendimento do governo municipal para este público em 2023. “Nunca esteve tão ruim”, diz.
Faltando uma semana para o começo oficial do inverno, Leandro e outros amigos que também estão em situação de rua apontam para o mesmo problema.
Vivendo há 25 anos nas ruas da cidade, Lucimar Silva da Silva, de 41 anos, diz que já tentou organizar a população de rua para reivindicar seus direitos, mas encontra cada vez mais dificuldades em garantir a assistência necessária. “Estão esmagando os moradores de rua achando que eles vão acabar, mas isso não vai acontecer.”
A principal reclamação do momento é a falta de clareza em relação à estratégia para o acolhimento durante o inverno. “Antes, em maio a gente era avisado sobre como ia funcionar a abrigagem. Agora, estamos em junho e até agora nada”, contava ele nesta terça-feira, data em que os termômetros marcaram temperaturas abaixo dos 10ºC.
No mesmo dia, a Secretaria de Desenvolvimento Social (SDS) iniciou abordagens noturnas convidando a população para pernoitar no Abrigo Bom Pastor, que é mantido de forma permanente pelo Município. Além disso, de acordo com o órgão, foram entregues cobertores a quem optou por permanecer na rua.
De acordo com a SDS, já estão sendo desenvolvidas “ações de proteção a moradores de rua.” A Secretaria também refuta que falte planejamento para o acolhimento da população de rua durante o inverno.
“Como acontece em todos os anos, e em 2023 não foi diferente, com a chegada do outono a SDS já estabelece seu plano de ação para atender a população de rua no inverno que se aproxima” afirma a pasta.
O Abrigo Bom Pastor conta com 25 vagas e, segundo a Secretaria, quando estas forem preenchidas se dará início aos alojamentos de inverno, que funcionarão das 19 às 7 horas do dia seguinte. Estes alojamentos devem acolher pelo menos 20 pessoas.
Doações
Mas a dificuldade em conseguir alojamento não é a única reclamação dos moradores, já que eles também se queixam da falta de cobertores para se protegerem do frio. De acordo com Leandro e Lucimar, o apoio que tem chegado vem da população que entrega casacos e cobertores.
Durante o fim da tarde de terça-feira, a dupla, que estava acompanhada de Adilson dos Santos, que tem 41 anos e há 15 está em situação de rua, recebeu cerca cinco casacos das mãos de Leonir Sansão Manique, 57 anos, morador do bairro Canudos.
O trio se acampava na Avenida Nicolau Becker, a poucos metros de distância do Centro de Referência Especializado em População em Situação de Rua (Centro Pop).
A falta de cobertores também é refutada pela SDS que garante ter “250 cobertores em estoque, mais que suficiente para atender a demanda da população de rua no Município.” Além disso, ela garante que as equipes disponíveis são suficientes para atender à demanda.
Solidariedade da população
No fim da tarde de terça-feira, antes do início da ação da SDS, os moradores também se queixavam da falta de cobertores para se proteger do frio. Mas a Secretaria pontuou que não há falta do material e garante ter "250 cobertores em estoque, mais que suficiente para atender a demanda da população de rua no Município".
Enquanto não recebiam material da prefeitura, de acordo com Leandro e Lucimar, o apoio vinha de doações da população, que entrega casacos e cobertores. No mesmo dia, a dupla, que estava acompanhada de Adilson dos Santos, 41 anos, e há 15 em situação de rua, recebeu casacos das mãos de Leonir Sansão Manique, 57, morador do bairro Canudos.
Centro POP fecha até segunda-feira
O atendimento no Centro POP, referência de atendimento para a população de rua, foi suspenso nesta quinta-feira e deve retomar o serviço na próxima segunda, com reforço na segurança. A medida foi decorrência da agressão de dois moradores em situação de rua a um dos vigilantes que atuam no local. "Não podemos permitir que atitudes agressivas de alguns comprometam este trabalho tão fundamental, principalmente neste momento em que o frio se intensifica", lembra a titular da SDS, Jurema de Lima Pieper, defendendo que o trabalho continue. Diariamente, são atendidas cerca de 80 pessoas no local.
