Um homem bate no vidro do carro e pede para falar, tendo ao fundo um casebre de madeira todo enlameado. “É brabo, né, vizinha, mas eu perdi tudo. A senhora tem alguma coisa para comer?”. Dessa maneira a reportagem do Jornal NH foi recebida na manhã desta segunda-feira (19) ao chegar na Rua da Divisa, coração da Vila Palmeira, no bairro Santo Afonso.
“Meu telefone não parou de gente me pedindo ajuda. Então, como que vou parar?”, questiona. Por isso, o trabalho de ajuda às famílias atingidas segue em ritmo acelerado e reúne 70 voluntários.
Dentre as ações previstas para hoje ainda está a produção de refeições, incluindo um sopão nesta noite.
Conhecido entre os moradores como “Cafezinho”, em cerca de dez minutos Santos distribuiu o que ainda tinha dentro do seu carro quando estacionou na Rua da Divisa. O apelido veio ao natural, já que diariamente ele leva café com leite e bolachas para a Vila Palmeira.
Luiz Fernando Ebert, 64 anos, buscou um prato para acomodar os alimentos que recebeu. Sua única renda é o bolsa-família.
Apesar de ter entregue tudo o que tinha, muitas pessoas ainda apareceram depois para pedir ajuda, incluindo mães com bebês de colo e crianças descalças, que perguntavam se ainda tinha bolo.
“Hoje de tarde a minha equipe virá aqui de novo. Vamos atender todo mundo”, garante Santos. “Vocês tem onde cozinhar ou preciso trazer comida pronta?”, questiona antes de partir. Pela rua, o que via eram restos de móveis, poças d´água na rua de chão batido e pessoas limpando o que sobrou.
Antes de chegar ali, Santos tinha passado pelas imediações da Rua Floresta, também na Santo Afonso. Lá, atendeu ao chamado do industriário Valdenir Porto, 44, casado e pai de quatro filhos, sendo um bebê de sete meses. A família estava alojada no Cras e pretendia voltar para casa ainda hoje. “Eu tinha feito muitos planos para este fim de semana. Mas aconteceu isso daí. Foi o pior dia da minha vida”, desabafou. Porto conta que ganhou dispensa hoje do trabalho, mas amanhã precisa retornar. “Mas tem gente pior que eu. Eu sabia que Deus ia enviar alguém para nos ajudar hoje e ele veio”, declarou.
Como ajudar
Doações para o Corrente do Bem podem ser realizadas pelo Pix 91277434034 (CPF). Os voluntários também pedem doações de roupas, em especial de crianças, cobertores, calçados e alimentos não perecíveis. Quem quiser doar lanches prontos para serem consumidos, também é bem-vindo, além de legumes. Mais informações podem ser conseguidas pelo telefone (51) 99561-0649 ou pelo Instagram. O ponto de coleta é na Rua Leopoldo Wasun, 271.
A solidariedade na hora de dar a mão a quem teve a casa atingida pela enchente provocada pelo alto volume de precipitação marca a vida de quem mais precisa. Exemplos não faltam. Também no bairro Santo Afonso, nas casas das irmãs, Rosângela Fernandes, 44 anos, e Rosane Fernandes da Silva, 47, ambas donas de casa, há 19 pessoas morando, 10 a mais do que a quantidade normal de residentes.
Todos precisam de alimentos, produtos de limpeza e móveis.
Nesta segunda-feira, Rosângela, junto com as irmãs e as amigas, estava na fila de doações de roupas e aguardavam ficha para o almoço, distribuída por voluntários da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA).
Doação de móveis
As pessoas que tiverem interesse em doar móveis, podem entrar em contato com Rosângela pelo telefone ou WhatsApp, no número (51) 98917-3798. Quem preferir, por ir até o local, que fica na Rua da Fazenda, 98, bairro Santo Afonso.
Até quarta-feira (21), em torno de 30 voluntários estarão na unidade de atendimento móvel da ADRA, junto da Praça da Juventude, no bairro Santo Afonso. Moradores, que tiveram casas invadidas pelas águas da enxurrada e não têm como lavar e secar roupas, poderão deixar com eles por uma hora. Em uma hora é só buscar a sacola plástica com tudo pronto para usar novamente.
O coordenador emergencial da ADRA no Estado, Cristiano Freitas, diz que a carreta chegou no domingo (18). "As famílias trazem em média 20 quilos de roupas e cobertores inundadas. É uma lavanderia industrial móvel, onde conseguimos atender duas famílias por hora na higienização", acrescenta.
O trabalho voluntário foi bem recebido pela dona de casa Priscila Dias Edele, 33 anos, moradora da Vila Palmeira. Na manhã desta segunda-feira, ela levou roupas dos quatro filhos e cobertores, já que sua casa foi atingida pela cheia e agora precisa lavar e secar tudo que foi molhado. "Essa ideia foi muito boa, porque ia lavar onde, né?", elogia.
Três amigas decidiram unir esforços e arregaçar as mangas para levar ajuda a quem tem dificuldades de acessar os serviços de assistência social. Desde sexta-feira, Sandra Regina Carvalho Soares, 53 anos, e as amigas Juliane La Bradbury e Jaqueline Garcia, estão pedindo doações de alimentos à comunidade e montando kits, que são entregues diretos aos moradores atingidos pela enchente.
Nesta segunda-feira, às 7 horas, elas realizaram mais uma entrega antes de darem início às atividades no trabalho. “Vamos continuar fazendo, pois muitas pessoas moram afastadas dos pontos de coleta, nem sabem onde ir pedir ajuda ou não tem como ir”, explica Sandra.
De acordo com ela, há um ponto de coleta da ação social na Informatize (Rua Marcílio Dias, 925). Informações (51) 99515-3589.
A ONG Natal da Vida, que já realizou entregas neste sábado (17), também está se organizando para levar doações no próximo fim de semana, momento em que as famílias já deverão ter retornado para suas casas. Doações podem ser realizadas pelo Pix 4747.8736.0001.33 (CNPJ).