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DOAÇÕES: Voluntários levam comida, cobertores e solidariedade para quem perdeu quase tudo na cheia; veja como contribuir

Grupos recebem doações da comunidade para levar até as vilas mais afetadas pela enchente em Novo Hamburgo

Reportagem: Débora Ertel e Susi Mello

Um homem bate no vidro do carro e pede para falar, tendo ao fundo um casebre de madeira todo enlameado. “É brabo, né, vizinha, mas eu perdi tudo. A senhora tem alguma coisa para comer?”. Dessa maneira a reportagem do Jornal NH foi recebida na manhã desta segunda-feira (19) ao chegar na Rua da Divisa, coração da Vila Palmeira, no bairro Santo Afonso.


Luiz Fernando Ebert, 64 anos, buscou um prato para poder receber um pouco de comida
Luiz Fernando Ebert, 64 anos, buscou um prato para poder receber um pouco de comida Foto: Débora Ertel/GES-Especial


Na realidade, quem levava um pouco de alento, roupas, cobertores e comida para as barrigas vazias era Joel Adilson dos Santos, 49 anos. Apesar de estar desempregado e ter tido também sua casa invadida pela enchente, Santos não descansou desde sexta-feira (16). Ele é o fundador do Corrente do Bem, grupo de ação social criado há 15 anos e que atende comunidades carentes de Novo Hamburgo e São Leopoldo.

“Meu telefone não parou de gente me pedindo ajuda. Então, como que vou parar?”, questiona. Por isso, o trabalho de ajuda às famílias atingidas segue em ritmo acelerado e reúne 70 voluntários.

Dentre as ações previstas para hoje ainda está a produção de refeições, incluindo um sopão nesta noite.

Conhecido entre os moradores como “Cafezinho”, em cerca de dez minutos Santos distribuiu o que ainda tinha dentro do seu carro quando estacionou na Rua da Divisa. O apelido veio ao natural, já que diariamente ele leva café com leite e bolachas para a Vila Palmeira.

Luiz Fernando Ebert, 64 anos, buscou um prato para acomodar os alimentos que recebeu. Sua única renda é o bolsa-família. 

“Agora a gente junta os cacos, enxuga o que sobrou e toca a vida, não tem mais o que fazer”

Apesar de ter entregue tudo o que tinha, muitas pessoas ainda apareceram depois para pedir ajuda, incluindo mães com bebês de colo e crianças descalças, que perguntavam se ainda tinha bolo.

“Hoje de tarde a minha equipe virá aqui de novo. Vamos atender todo mundo”, garante Santos. “Vocês tem onde cozinhar ou preciso trazer comida pronta?”, questiona antes de partir. Pela rua, o que via eram restos de móveis, poças d´água na rua de chão batido e pessoas limpando o que sobrou.

Antes de chegar ali, Santos tinha passado pelas imediações da Rua Floresta, também na Santo Afonso. Lá, atendeu ao chamado do industriário Valdenir Porto, 44, casado e pai de quatro filhos, sendo um bebê de sete meses. A família estava alojada no Cras e pretendia voltar para casa ainda hoje. “Eu tinha feito muitos planos para este fim de semana. Mas aconteceu isso daí. Foi o pior dia da minha vida”, desabafou. Porto conta que ganhou dispensa hoje do trabalho, mas amanhã precisa retornar. “Mas tem gente pior que eu. Eu sabia que Deus ia enviar alguém para nos ajudar hoje e ele veio”, declarou.

Quem também recebeu doações do Corrente do Bem foi a dona de casa Camila Cardoso, 45. Depois de receber comida e um cobertor, ela pergunta a Santos. “Você não me arruma pelo menos uma toalha de banho? Porque molhou tudo.” Por sorte, havia ainda uma toalha dentro do carro. O marido de Camila perdeu parte da perna em um acidente de moto e é cadeirante. O casal saiu da residência sem salvar praticamente nada, além de ter deixado os dois gatos para trás. “Quando cheguei aqui e vi que eles estava bem fiz até uma vídeo com o celular do vizinho para mostrar”, disse aliviada.
Ainda recebeu ajuda o casal Jurema Locádio, 58, e João da Silva Martins, 65. A família deles desde sexta-feira tem contado com a solidariedade para enfrentar a enchente. Inclusive, eles estão abrigados na casa de uma família que não conheciam. “O nome dele é Sérgio. Dela eu nem lembro. Mas são muito gente boa. Estão dando tudo pra gente: cama, comida café. Nunca esperava por isso”, relata Jurema.
João da Silva Martins, 65, e Jurema Locádio, 58, estão abrigados desde sexta-feira na casa de uma família que não conheciam
João da Silva Martins, 65, e Jurema Locádio, 58, estão abrigados desde sexta-feira na casa de uma família que não conheciam Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Como ajudar

Doações para o Corrente do Bem podem ser realizadas pelo Pix 91277434034 (CPF). Os voluntários também pedem doações de roupas, em especial de crianças, cobertores, calçados e alimentos não perecíveis. Quem quiser doar lanches prontos para serem consumidos, também é bem-vindo, além de legumes. Mais informações podem ser conseguidas pelo telefone (51) 99561-0649 ou pelo Instagram. O ponto de coleta é na Rua Leopoldo Wasun, 271.

Duas irmãs abrigam 19 pessoas

A solidariedade na hora de dar a mão a quem teve a casa atingida pela enchente provocada pelo alto volume de precipitação marca a vida de quem mais precisa. Exemplos não faltam. Também no bairro Santo Afonso, nas casas das irmãs, Rosângela Fernandes, 44 anos, e Rosane Fernandes da Silva, 47, ambas donas de casa, há 19 pessoas morando, 10 a mais do que a quantidade normal de residentes.

Embora as águas tenham atingido o assoalho da casa de Rosângela e invadido a casa de Rosane até a altura dos joelhos, na Vila Palmeira, com a situação controlada, ambas abrigam familiares e amigos que perderam praticamente tudo na enxurrada.

Todos precisam de alimentos, produtos de limpeza e móveis. 

A solidariedade é porque somos humanos. Eu não sei o que pode ser o dia de amanhã, sem contar que é família e amigos, e eu faria isso até se fosse para um estranho


Nesta segunda-feira, Rosângela, junto com as irmãs e as amigas, estava na fila de doações de roupas e aguardavam ficha para o almoço, distribuída por voluntários da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA).

Doação de móveis

As pessoas que tiverem interesse em doar móveis, podem entrar em contato com Rosângela pelo telefone ou WhatsApp, no número (51) 98917-3798. Quem preferir, por ir até o local, que fica na Rua da Fazenda, 98, bairro Santo Afonso.

Voluntários lavam e secam roupas de moradores 

Até quarta-feira (21), em torno de 30 voluntários estarão na unidade de atendimento móvel da ADRA, junto da Praça da Juventude, no bairro Santo Afonso. Moradores, que tiveram casas invadidas pelas águas da enxurrada e não têm como lavar e secar roupas, poderão deixar com eles por uma hora. Em uma hora é só buscar a sacola plástica com tudo pronto para usar novamente.

A dona de casa Priscila Dias Edele deixa sacola de roupas para lavar
A dona de casa Priscila Dias Edele deixa sacola de roupas para lavar Foto: Susi Mello/GES-Especial


A missão humanitária é realizada em uma carreta adaptada. Ali, além da lavagem das roupas, há o preparo de alimentos e quentinhas para distribuir posteriormente. Voluntários ainda entregam roupas e prestam atendimento psicossocial para cadastro de famílias que irão ganhar cestas básicas e itens de higiene.

O coordenador emergencial da ADRA no Estado, Cristiano Freitas, diz que a carreta chegou no domingo (18). "As famílias trazem em média 20 quilos de roupas e cobertores inundadas. É uma lavanderia industrial móvel, onde conseguimos atender duas famílias por hora na higienização", acrescenta.

O trabalho voluntário foi bem recebido pela dona de casa Priscila Dias Edele, 33 anos, moradora da Vila Palmeira. Na manhã desta segunda-feira, ela levou roupas dos quatro filhos e cobertores, já que sua casa foi atingida pela cheia e agora precisa lavar e secar tudo que foi molhado. "Essa ideia foi muito boa, porque ia lavar onde, né?", elogia.

Amigas se juntam para coletar doações

Três amigas decidiram unir esforços e arregaçar as mangas para levar ajuda a quem tem dificuldades de acessar os serviços de assistência social. Desde sexta-feira, Sandra Regina Carvalho Soares, 53 anos, e as amigas Juliane La Bradbury e Jaqueline Garcia, estão pedindo doações de alimentos à comunidade e montando kits, que são entregues diretos aos moradores atingidos pela enchente.

Nesta segunda-feira, às 7 horas, elas realizaram mais uma entrega antes de darem início às atividades no trabalho. “Vamos continuar fazendo, pois muitas pessoas moram afastadas dos pontos de coleta, nem sabem onde ir pedir ajuda ou não tem como ir”, explica Sandra.

De acordo com ela, há um ponto de coleta da ação social na Informatize (Rua Marcílio Dias, 925). Informações (51) 99515-3589.

A ONG Natal da Vida, que já realizou entregas neste sábado (17), também está se organizando para levar doações no próximo fim de semana, momento em que as famílias já deverão ter retornado para suas casas. Doações podem ser realizadas pelo Pix 4747.8736.0001.33 (CNPJ).

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