São Leopoldo prepara diagnóstico de prejuízos sofridos com o ciclone
Levantamento deve ser feito para cadastro da cidade em ações de ajuda dos governos estadual e federal
Até o final desta semana, São Leopoldo deverá ter contabilizado todos os prejuízos causados pelo ciclone que atingiu o Estado entre quinta e sexta-feira passadas. A cidade, uma das mais afetadas, registrou duas mortes, dezenas de desabrigados e, pelo menos, cinco mil famílias atingidas. Por conta dos danos causados, na manhã de sexta-feira o prefeito Ary Vanazzi, decretou situação de calamidade pública no Município.
Conforme Vanazzi, ainda não há estimativa do total em prejuízos causados pelas chuvas. A expectativa do prefeito é de que um diagnóstico completo seja divulgado nos próximos dias. Segundo ele, o levantamento deve ser feito para cadastro da cidade em ações de ajuda dos governos estadual e federal.
“Hoje pela manhã já tivemos reuniões com as equipes para apresentar para a Defesa Civil as demandas do prejuízo que estamos tendo tanto na questão da infraestrutura urbana, quanto das pessoas que perderam móveis”, comenta Vanazzi.
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Segundo ele, apesar da visita da comitiva no fim de semana, o Município ainda não tem confirmação de como será a ajuda que receberá tanto do Estado como da União.
“O Governo Federal sinalizou que pode liberar, talvez, parte do FGTS, podem agregar junto a algum cartão do Bolsa Família recursos para famílias mais necessitadas recuperarem seus móveis, suas perdas. Já o Estado se prontificou a algo a partir do cartão Devolve ICMS e de programas que têm apoio às famílias. Mas isso não depende da Prefeitura, depende, sim, de legislação, decisão e encaminhamento para as cidades dessas questões. Para ajudar as pessoas, dependemos muito agora do governo do Estado e Federal”, conta.
Conforme o prefeito, a partir do balanço dos estragos e prejuízos, a Prefeitura construirá um cronograma de recuperação da cidade. “Na área da estrutura os estragos são muito grandes. Tivemos muitos problemas de deslizamentos, rupturas de rede e ainda estamos calculando. Nossa ideia é que no final de semana se faça um balanço e se aponte os prejuízos com infraestrutura para, a partir disso, construir um cronograma de recuperação”, explica.
“Do ponto de vista dos prejuízos das famílias é muito maior. Tivemos 5 mil famílias atingidas diretamente de uma forma ou de outra e cerca de 1,8 mil famílias que perderam tudo porque moram em áreas de risco. Um custo incalculável”, lamenta.
Recuperação de ponto sobre o Arroio Kruze
De acordo com Vanazzi, uma das situações mais dramáticas é a do trecho da Rua Felipe Uebel, no bairro Santo André, onde parte do asfalto cedeu na madrugada de sexta-feira, causando a morte do jovem Thiago Hendres de Oliveira, 23. O carro em que Thiago estava caiu no buraco e foi levado pela forte correnteza do Arroio Kruze.
O irmão do jovem, que também estava no veículo, foi resgatado com vida pela Brigada Militar. O corpo de Thiago foi encontrado horas depois, na altura da Avenida Feitoria, no bairro São José. Segundo o prefeito, já foi solicitado o levantamento e o projeto de recuperação e restauração da travessia. A origem dos recursos para a obra, no entanto, também está sendo avaliada.
“Até o fim de semana teremos uma noção geral do que fazer. Minha tese é colocar ali duas grandes galerias. Pretendo em 60, no máximo 90 dias, resolver essa questão do Kruze”, frisa.
Situação atípica
Conforme Vanazzi, o que aconteceu em São Leopoldo durante a passagem do ciclone foi uma situação extraordinária diante da grande quantidade de chuva que caiu sobre a cidade em poucas horas. Segundo a Defesa Civil, foram 246 milímetros em 18 horas, uma situação nunca antes registrada e que causou colapso no sistema de drenagem, que não suportou todo o volume de chuva.
“São Leopoldo é uma cidade cortada por um rio, que é protegido por 15 quilômetros de dique e que tem 10 arroios. Um município que sempre terá riscos de alagamento. Numa situação normal de chuva, de 60/70 milímetros por dia, nossa cidade não tem nenhum problema. Outras cidades com este volume de chuva já estariam debaixo d'água. Investimos R$200 milhões em infraestrutura urbana, em galerias para que na normalidade não tivéssemos mais problemas”, esclarece.
Vanazzi destaca ainda que a situação poderia ser pior caso ainda houvesse famílias residindo às margens de arroios como Kruze, Cerquinha e da Avenida João Becker. “Se não tivéssemos retirado 10 mil famílias dos arroios, com estes 246 milímetros não sei quantas pessoas teriam perdido a vida. Nós estamos trabalhando intensamente há muitos anos para poder mitigar, diminuir, os impactos desses casos esporádicos de eventos climáticos”, analisa.
Estrutura
Para o prefeito, São Leopoldo foi uma das cidades mais atingidas no Estado devido a sua estrutura. “Na década de 80 vários prefeitos aprovaram loteamentos e construções de casas dentro do leito do rio. Feitoria, Madezatti e São Geraldo são loteamentos aprovados dentro do leito do rio por prefeitos municipais . Nós evitamos, depois de 2005 pra cá, a aprovação de mil lotes no São Geraldo. Estes problemas ocorrem por decisão política e irresponsabilidade de 40 anos atrás”, avalia.
Trabalho incansável e solidariedade
Na avaliação do trabalho incansável dos últimos dias, Vanazzi destacou a solidariedade da população leopoldense e a força-tarefa que se formou para ajudar às famílias atingidas “Desde quinta-feira mais de 300 pessoas estão na rua entre soldados do Exército, efetivos da Brigada Militar, Polícia Civil, Guarda Municipal e todo o governo mobilizado para ajudar. Temos tido uma solidariedade extraordinária porque a cidade está acostumada com este tipo de evento, o que mostra nosso cuidado e preparo em atender muito bem a população”.