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Notícias | País 'PL DO VENENO'

Câmara aprova projeto que facilita entrada de agrotóxicos no Brasil

Texto vai para aprovação do Senado; bancada ruralista quer que, oficialmente, esses produtos químicos passem a ser chamados de 'pesticidas'

Por Estadão Conteúdo
Publicado em: 10.02.2022 às 07:31 Última atualização: 10.02.2022 às 07:40

O plenário da Câmara dos Deputados aprovou na quarta-feira (9) projeto que flexibiliza a entrada de novos agrotóxicos no País. Após forte resistência da oposição, o texto-base foi submetido à votação em plenário e acabou aprovado por 301 votos a favor e 150 contrários. Agora, o texto de relatoria do deputado federal Luiz Nishimori (PL-PR) vai para o Senado.

Especialista alerta que o projeto viabiliza o registro de agrotóxicos comprovadamente nocivos e cancerígenos
Especialista alerta que o projeto viabiliza o registro de agrotóxicos comprovadamente nocivos e cancerígenos Foto: Fernando Dias/SEAPDR

Desde o ano passado, a oposição tentou impedir o avanço do PL 6299/02, cunhado pelos ambientalistas como "PL do Veneno". A forma de definir os agrotóxicos foi até uma das preocupações da bancada ruralista, que determina que, oficialmente, esses produtos químicos não sejam mais chamados de agrotóxicos, mas sim de "pesticidas".

Durante as discussões que antecederam a votação, o próprio relator Nishimori chegou a afirmar que gostaria que o País só consumisse alimentos orgânicos, mas que o mercado para isso ainda era muito pequeno. "É só 1%."

Ambientalistas são taxativos em dizer, tecnicamente, que as novas regras enfraquecem a atuação do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), do Ministério do Meio Ambiente e do Ibama no controle e autorização dessas substâncias. Pelo texto, essa missão passa a ficar concentrada no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.

"É gravíssimo que a Câmara tenha aprovado um projeto de lei que permitirá que se coloque mais veneno no prato dos brasileiros. Se virar lei, iremos à Justiça para proteger a vida dos brasileiros e evitar que milhares e milhares venham a morrer de câncer", disse o deputado Alessandro Molon (PSB-RJ).

Em 2018, o Ibama e a Anvisa apontaram que a proposta aprovada é inconstitucional e tem falhas que prejudicariam a fiscalização dos produtos, colocando em risco a saúde da população. O Ministério da Agricultura e a Frente Parlamentar da Agricultura, no entanto, afirmam que o tema é tratado com ‘preconceito e ideologia" e precisa ser modernizado. O mesmo argumento foi sustentado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que defendeu a legalidade do projeto de lei.

Repercussão

Suely Araújo, especialista sênior em políticas públicas do Observatório do Clima, alertou que o projeto viabiliza o registro de agrotóxicos comprovadamente nocivos e cancerígenos. "Não há nada na Lei do Veneno que assegure a aprovação de agrotóxicos efetivamente seguros para o meio ambiente e a saúde. Facilitar o registro está longe de ser caminho para uma agricultura ambientalmente responsável. A narrativa da modernização é falsa", comenta Araújo, que sugere ao Congresso discutir a redução da dependência dos agrotóxicos.

A Frente Parlamentar Agropecuária, por sua vez, comemorou a votação e declarou que traz "o aperfeiçoamento e a modernização do que se tem hoje, além de igualar o Brasil às maiores potências agropecuárias do mundo, com mais rigor científico e desburocratização". Numa comparação do veneno com as vacinas contra a covid-19, a FPA declarou que "vacinas salvam vidas, pesticidas salvam as lavouras".

Segundo a frente da bancada ruralista, "os pesticidas são vacinas para as plantas e a salvaguarda nos plantios", além de "garantia de remédios de qualidade e eficiência para as produções e a certeza de alimentos ainda mais seguros".

Kenzo Jucá, assessor legislativo do Instituto Socioambiental (ISA), porém, classifica a aprovação como "uma catástrofe", pois reduz a possibilidade de coexistência de qualquer outro modelo agrícola e agrário no Brasil. "Esse projeto consolida um modelo tóxico, rejeitado pelo mundo, que não produz alimentos saudáveis para quem pode comer e amplia a insegurança alimentar, aumentando a fome da população", afirmou.

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