Ao lado do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, nesta quinta-feira (24) o presidente Jair Bolsonaro (PL) liderou uma "motociata" em São José do Rio Preto, no interior paulista e caminhou entre apoiadores. Durante fala, ele defendeu seu governo e não fez qualquer referência à crise da Ucrânia.
Na visita, que teve clima de campanha, o presidente evitou a imprensa e, sem citar a invasão na Ucrânia pelas tropas da Rússia, criticou o regime comunista. "Comunismo é um fracasso, socialismo é uma desgraça. Nós somos a maioria, nós vamos mudar o destino do Brasil", disse, em discurso a apoiadores.
Ataque russo
Na madrugada desta quinta-feira, presidente russo Vladimir Putin autorizou uma operação militar contra a Ucrânia e houve registros de ataques e explosões em várias regiões do país. Na viagem que fez à Rússia, na semana passada, o presidente brasileiro manifestou "solidariedade" a Putin em relação à crise com a Ucrânia.
A manifestação gerou mal-estar diplomático por ser contrária à tradicional postura de neutralidade do Brasil em conflitos internacionais. Após o encontro com o presidente russo, Bolsonaro chegou a afirmar que "coincidência ou não" parte das tropas deixaram a fronteira com a Ucrânia - o que não aconteceu de fato, como mostram os ataques desta madrugada.
Fala de Bolsonaro
Bolsonaro chegou ao local do evento na carroceria de uma caminhonete, à frente de uma "motociata" com centenas de participantes, acompanhado pelo ministro Tarcísio. Durante 12 minutos, ele caminhou em meio aos apoiadores, distribuindo abraços, apertos de mão e posando para selfies.
Em coro, Bolsonaro era chamado de "mito" e Tarcísio de "governador". O ministro também deu autógrafos. O presidente fez um discurso político, no qual praticamente ignorou o motivo de sua ida à cidade, deixando de dar qualquer detalhe sobre a obra inaugurada. Atacado por seus adversários por ter dificultado a vacinação e defendido a abertura das atividades durante a pandemia de Covid-19, que já causou quase 650 mil mortes no país, ele defendeu as ações do seu governo e criticou os governadores.
"Vimos e sentimos na pele protótipos de ditadores por todo o Brasil. E esses aprendizes de ditadores tomaram medidas que afetaram diretamente a nossas vidas. Tive e tenho poder de fechar todo o Brasil por decreto, jamais cogitei isso, porque a liberdade está em primeiro lugar. Quase todos os governadores obrigaram o povo a ficar em casa e não pensaram nas consequências."
Em recado aos seus eleitores, pediu que se orgulhassem do que fizeram em outubro de 2018, quando o elegeram presidente. "Hoje temos um presidente que acredita em Deus, que respeita seus militares, que defende a família e pede lealdade ao povo que são vocês. Quem dá o voto são vocês, os que decidem são vocês", disse.
Sem citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do PT, que aparece como seu principal adversário nas eleições deste ano, ele criticou os governos petistas. "Quero que vocês voltem a 2018 e pensem que, se aquela facada tivesse sido fatal, quem estaria no meu lugar? Como estaria o nosso Brasil, não apenas na questão da economia, mas de um bem maior, muito mais valioso do que a nossa própria vida, que é nossa liberdade."
Visita a São José do Rio Preto
O presidente participou da inauguração da obra de duplicação de um trecho da rodovia Transbrasiliana (BR-153), que corta a área urbana de Rio Preto. A cerimônia aconteceu no km 68,5 da rodovia, onde foi montada uma grande estrutura para receber os políticos e convidados.
Prefeitos da região levaram comitivas com bandeiras do Brasil e vestindo camisas com a estampa de Bolsonaro, dando um tom de campanha ao evento. Quando uma viatura do Batalhão de Ações Especiais (Baep) se aproximou, houve vaias e gritos de "fora polícia do Doria". A PM participou do esquema de segurança do presidente.
Ao ser anunciado, o prefeito de Rio Preto, Edinho Araújo (MDB), foi vaiado e xingado. Chamado para o discurso, o anfitrião do presidente quase não conseguiu ser ouvido sob um coro de vaias dos bolsonaristas e gritos de "fora". Bolsonaro não saiu em defesa do seu anfitrião.
O presidente inaugurou 18,5 km de pista dupla com 13 viadutos, uma ponte e oito passarelas de pedestres. A obra começou em 2013, na gestão da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), mas sofreu vários atrasos. Bolsonaro inaugurou também uma base da Polícia Rodoviária Federal (PRF) no km 69 da BR-153. Na companhia do ministro João Roma, da Cidadania, entregou ainda cartões do Auxílio Brasil para beneficiários da cidade.