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Dólar fecha a R$ 5 nesta terça-feira

Ibovespa teve o seu maior avanço em porcentual desde 3 de outubro; pela manhã o valor da moeda chegou a mínima de R$ 4,9899

Publicado em: 11.04.2023 às 18:47

Em dia de apetite por ativos brasileiros, que colocou o dólar abaixo dos R$ 5 no melhor momento desta terça-feira (11), e com descompressão na curva de juros, na ponta longa e na curta, o Ibovespa teve o seu maior avanço em porcentual desde 3 de outubro (então 5,54%), logo após o primeiro turno da eleição. A euforia veio ainda pela manhã, com a leitura abaixo do esperado para o índice oficial de inflação, o IPCA, que desacelerou em março e ficou abaixo do limite superior da meta no acumulado em 12 meses, algo não visto nos últimos anos. No mês, o IPCA ficou em 0,71%, abaixo da mediana das estimativas (0,77%) para março.


Dólar fecha a R$ 5 nesta terça-feira
Dólar fecha a R$ 5 nesta terça-feira Foto: Marcello Casal Jr/ Agência Brasil

Assim, com a expectativa de que o Copom possa sinalizar em breve, possivelmente até mesmo no próximo comunicado, em maio, postura menos dura com relação à Selic, e perspectiva do mercado de que a taxa de juros do BC possa começar a ser cortada no começo do segundo semestre - ou mesmo no fim do primeiro -, os investidores foram às compras. Apenas dois papéis do Ibovespa (Minerva -1,29%, Taesa -0,03%) ficaram de fora da maré aquisitiva vista na sessão, com retomada também no giro financeiro, a R$ 32,2 bilhões. Ao fim, o índice da B3 mostrava alta de 4,29%, a 106.213,76 pontos, entre mínima de 101.847,79 pontos - quase igual à abertura, a 101.848,94 - e máxima de 106.455,33 pontos

Foi o melhor nível intradia desde 9 de março e o maior patamar de encerramento desde o dia 8 daquele mesmo mês. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 5,35%, passando ao positivo em abril (+4,25%), mas ainda cedendo 3,21% no ano.


"O dia foi bem favorável tanto para câmbio como para juros, em que a parte mais curta da curva ficou menos pressionada com a leitura sobre o IPCA, mais fraco do que o esperado. Contribuíram também declarações do secretário do Tesouro, Rogério Ceron, sobre a regra fiscal, dando mais detalhes e esclarecendo algumas dúvidas sobre a interpretação da proposta, principalmente as relacionadas ao crescimento dos investimentos em relação às receitas", diz Luciano Costa, sócio e economista-chefe da Monte Bravo Investimentos.

Na B3, as ações de primeira linha, como as de commodities (Vale ON +5,28%, Petrobras ON +4,39% e PN +4,69%) e do setor financeiro (Bradesco PN +5,24%, na máxima do dia no fechamento; Itaú PN +3,24%), avançaram com força na sessão, enquanto a ponta do Ibovespa foi carregada por papéis com ganhos na casa de dois dígitos: Gol (+17,13%), Azul (+13,81%), Magazine Luiza (+12,84%), Hapvida (+12,77%), CVC (+11,62%), Cogna (+11,30%) e Yduqs (+10,06%).

O dia chegou ao fim com retomada tanto nas ações com exposição à economia doméstica, como as do índice de consumo (+5,81%), quanto nos papéis com preços e demanda formados no exterior, como os do índice de materiais básicos (+4,60%), que reúne as ações de commodities.

"Papéis com maior Beta mais voláteis, aqueles que costumam amplificar o respectivo grau de ajuste, seja de alta ou baixa, ante o observado no índice de referência, sensíveis ao ciclo e que sofreram mais no último período, foram os mais beneficiados na sessão, como companhias aéreas e nomes do varejo e serviços como Magazine Luiza e Localiza (ON +9,17%)", observa Luiz Adriano Martinez, sócio e gestor de renda variável da Kilima Asset, destacando o fluxo da sessão, possivelmente reforçado por estrangeiros pelo que se viu de desempenho nos papéis de maior capitalização de mercado, como Vale e os bancos privados.

"Não havia dúvida de que a Bolsa brasileira está muito barata, por alguns critérios no menor nível em duas décadas, mas estava faltando notícia boa para induzir recuperação, o que veio hoje com o IPCA em 12 meses abaixo do limite superior da banda de flutuação, considerando a meta oficial do CMN (Conselho Monetário Nacional), buscada pelo Copom. Com tudo mais constante, é possível que haja espaço para o BC começar a cortar a Selic ali por agosto", diz Bernard Faust, operador de renda variável da One Investimentos.

No cenário externo, ele menciona dados mais fracos sobre a inflação ao consumidor e ao produtor na China - grande consumidora de commodities produzidas no Brasil -, acrescentando que o país asiático tem cortado depósitos compulsórios e sinalizado nova redução de juros, para estimular a economia. "O quadro também tem se mostrado mais favorável quanto aos juros americanos. O Fed deve vir com mais um aumento de 25 pontos-base, mas os cortes na taxa podem começar já no segundo semestre, quem sabe ali por agosto também", diz Faust.

Aqui, com o projetado para o IPCA em 12 meses abaixo de 5%, tira-se parte da pressão sobre o BC quanto à referência a chances de novo aumento de juros ainda pela frente, "acelerando bastante a entrada (de recursos) para Bolsa", aponta Fabrizio Velloni, economista-chefe da Frente Corretora. Ele destaca também a redução de compulsório na China como outro fator-chave para o apetite por ativos brasileiros na sessão. "A injeção de recursos na economia chinesa ampara visão de aumento da demanda, do consumo de matérias primas, o que favorece o Brasil (na balança comercial e nas transações externas), e especialmente os papéis vinculados a commodities", acrescenta.

"Além de ter vindo abaixo das expectativas, o IPCA de março também é uma boa notícia do ponto de vista qualitativo, com a média dos núcleos recuando para 0,36%, de 0,72% no anterior. O núcleo de serviços, que serve de proxy para o grau de aquecimento da demanda, também recuou para 0,32%, ante 0,54%", observa em nota Darwin Dib, economista-chefe da Gauss Capital. "O resultado de hoje deverá ser decisivo para ajudar a estancar a elevação das expectativas de inflação, registradas na pesquisa Focus, pois a variável objetiva que define a trajetória das expectativas é, em última instância, o comportamento da inflação corrente."

Dólar

A trinca formada por leitura benigna do IPCA de março, menor percepção de risco para a trajetória da dívida pública, com possível adoção de travas ao aumento de gastos no novo arcabouço fiscal, e sinais de vitalidade da economia chinesa alimentou uma onda de valorização dos ativos domésticos na sessão desta terça-feira.

Com relatos de fluxo de recursos estrangeiros para renda fixa e ações locais, em dia de alta de mais de 4% do Ibovespa, e de desmonte de posições defensivas no mercado futuro, o dólar operou em baixa firme ao longo de toda a sessão e chegou a furar o piso de R$ 5,00 pela manhã, com mínima a R$ 4,9899. No fim do pregão, a moeda recuava 1,16%, cotada a R$ 5,0072 - menor valor de fechamento desde 10 de junho de 2022. A divisa já acumula baixa de 1,21% em abril.

Lá fora, o índice DXY - termômetro do desempenho do dólar frente a seis divisas fortes - operou em baixa, flertando com o rompimento da linha dos 102,000 pontos, apesar de avanço dos Treasuries e da expectativa pela divulgação, amanhã, do índice de preços ao consumidor nos EUA em março e da ata do Federal Reserve. A moeda americana caiu em relação à maioria das divisas emergentes e de países exportadores de commodities, com o peso chileno puxando a fila, seguido pelo real.

Pela manhã, o IBGE informou que o IPCA desacelerou de 0,84% em fevereiro para 0,71% em março, abaixo da mediana (0,77%) e perto do piso (0,69%) de Projeções Broadcast. A taxa acumulada em 12 meses é de 4,65%. Cálculos de economistas mostram que a difusão do IPCA desceu da casa de 65% em fevereiro para menos de 60% em março.

O economista-chefe e consultor da Remessa Online, André Galhardo, afirma que a tendência recente de apreciação do real foi reforçada hoje pela leitura do IPCA, que mostra um cenário mais benigno para a inflação. "Os argumentos para o Banco Central manter a Selic em 13,75% são cada vez mais escassos. Mas a inflação deve desacelerar em um ritmo mais rápido do que a potencial velocidade de queda da Selic, o que garante um juro real em nível elevado e ajuda a moeda brasileira", afirma Galhardo, para quem sinais positivos da China - que hoje divulgou forte aumento de empréstimos bancários - ajudam a atrair recursos externos para a bolsa brasileira e favorecem o real.

O CEO do Transferbank, Luiz Felipe Bazzo, observa que a perspectiva de manutenção de juros ainda altos no Brasil, mesmo com provável redução da Selic, "está atraindo exportadores para o mercado doméstico de renda fixa", o que reduz o diferencial entre embarques e liquidação financeira. "Com as altas nos juros nos EUA chegando ao fim e o diferencial de juros favorável, o patamar de dólar abaixo de R$ 5,00 pode ser sustentável", afirma.

Além do IPCA e dos ventos externos positivos, analistas veem uma redução da percepção de risco. Fontes ouvidas pelo Broadcast afirmaram que o texto final da proposta de novo arcabouço fiscal deve limitar em R$ 25 bilhões o bônus para investimentos adicionais. Isso evitaria que aumentos extraordinários das receitas, com geração de superávit primário superior às metas estabelecidas, traduzissem automaticamente em expansão de gastos. Em entrevista ao Broadcast no último dia 6, o secretário do Tesouro Nacional, Rogério Ceron, já havia afirmado que estava em estudo regra que limitasse o valor destinado a investimentos.

Para head de câmbio do Travelex Bank, Marcos Weigt, parece que a equipe econômica "escutou os comentários do mercado e está ajustando" pontos da nova regra fiscal, o que dá fôlego aos ativos domésticos. "O Haddad está se mostrando, digamos, ortodoxo e preocupado realmente com o fiscal. Estão colocando amarras para os gastos e ajustando o arcabouço de forma construtiva. Parece que não tem mais aquele risco de descontrole da relação dívida/PIB", diz Weigt.

Juros

Os juros futuros encerraram o dia em queda firme, embalados pela leitura positiva do IPCA e pelo apetite por ativos emergentes que também ajudou o Ibovespa a subir mais de 4%. As apostas no ciclo de queda da Selic cresceram e já são majoritárias na precificação do mercado para o Copom de junho.

A taxa do contrato de Depósito Interfinanceiro (DI) para janeiro de 2024 fechou em 13,15%, de 13,22% ontem no ajuste, e a do DI para janeiro de 2025 caiu de 11,99% para 11,80%. O DI para janeiro de 2027 terminou com taxa de 11,77%, de 11,98%, e o DI para janeiro de 2029 fechou com taxa de 12,20%, de 12,38%. Ao contrário de ontem, hoje o volume de contratos negociados foi robusto, com giro de mais de 1,2 milhão no DI para janeiro de 2024, hoje o mais líquido.

O co-gestor de renda fixa da Warren Rena, Luis Felipe Laudisio, afirma que, dado o posicionamento técnico ainda bastante leve, os players adicionaram risco às carteiras. "Até por isso, a B28 foi bastante demandada, com o nível de juro real que parece alto", disse. A NTN-B 15/8/2028 foi destaque no leilão do Tesouro. Do total de 1,576 milhão de NTN-B vendidas, 1,500 milhão são para aquele vencimento.

Em boa medida, a postura agressiva foi pavimentada pelo arrefecimento do IPCA em março, a 0,71%, ante 0,84% em fevereiro. Em 12 meses, a taxa acumulada caiu de 5,60% para 4,65%, a mais baixa desde janeiro de 2021 e abaixo do teto da meta de inflação (4,75%) para 2023. Mais até do que o fato de o dado mensal ter ficado aquém da mediana (0,77%) e perto do piso das estimativas (0,69%), o mercado gostou do "qualitativo", em especial da desaceleração dos preços de serviços e dos núcleos, que vinham resistindo até então em alta e dando argumentos para o Banco Central despistar sobre a possibilidade de cortes da Selic.

"Ainda que a queda tenha sido bastante influenciada pelo comportamento dos alimentos, o mercado aumentou a aposta de queda da Selic", afirmou o economista do BV Carlos Lopes.

Conforme cálculos da BlueLine Asset, os DIs apontam 60% de chance de queda de 0,25 ponto porcentual da Selic no Copom de junho, contra 40% de probabilidade de manutenção no atual nível de 13,75%. Para o Copom de agosto está precificado 100% de chance de redução de 0,25 ponto. Para o fim de 2023, a curva projeta Selic entre 12,00% e 12,25% e para o fim de 2024, de 10,75%.

Outro fator a contribuir para o fechamento da curva foi o câmbio, com o dólar chegando hoje ao patamar de R$ 5, até abaixo pontualmente nas mínimas do dia. No período da tarde, com os trechos curto e intermediários já bastante pressionados para baixo, o investidor foi buscar os prêmios da ponta longa, ignorando as máximas das T-notes.

O gestor de renda fixa da Sicredi Asset, Cassio Xavier Andrade, afirma que o movimento global pró-emergentes, hoje especialmente estimulado por otimismo com a economia da China, atraiu os investidores não só para a Bolsa como também para o segmento de prefixados, além do IPCA.

Ainda, segundo Andrade, o noticiário em torno do arcabouço fiscal tem ajudado marginalmente, assim como a percepção de fortalecimento da equipe econômica dentro do governo, após o presidente Lula elogiar publicamente o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. "Parece que as coisas vão se dando de forma menos heterodoxa do que se pensava", disse.

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