A tradição de colher macela na Sexta-feira Santa foi mantida neste ano apesar da pandemia de coronavírus. Em menor quantidade, moradores de várias cidades saíram antes dos primeiros raios de sol para colher o chá. Em Morro Reuter, o corretor de seguros Alfredo Jacob Hoffmeister, 57 anos, fez questão de repetir o gesto que aprendeu quando era criança com seus pais, já falecidos. Na companhia da filha Samanta Hoffmeister, 30, e da sobrinha Maíra Engelmann,37, ele foi para a região do Morro da Embratel buscar a macela. “Antes eu fazia com eles, agora já mais de 30 anos que faço por conta”, diz.
O trio saiu às 6h30 de casa, pois estava chuviscando e havia cerração. “Reza a tradição que o chá é colhido antes do nascer do sol tem melhor efeito medicinal”, diz. Além disso, Hoffmeister destaca que o chá é um dos símbolos da Páscoa. Para ele, a comemoração da ressurreição de Jesus terá um sentido diferente neste ano. “É bom ver a filharada correndo, a festa. Mas neste ano será mais uma comunhão em família, uma reflexão mesmo, para sairmos mais fortes para o próximo ano”, refletiu.
Já em Ivoti, os cunhados Gelson José Andres, 50, e Gerson Froehlich, 52, repetiram o gesto que há mais de dez anos decidiram fazer juntos. Saíram do centro e foram para Nova Vila, no interior, procurar macela em meio ao mato. Desta vez, Jean Augusto Froehlich, 10 anos, filho de Gerson, participou pela primeira vez. “Tivemos que caminhar uns 40 minutos para achar e ainda levamos umas picadas de abelhas”, conta.
De acordo com ele, em anos anteriores a colheita reunia mais pessoas e o volume era maior, pois o chá era utilizado para colorir os ovos cozidos. Neste ano, será apenas para fazer chá e usar no chimarrão. “Esse costume vem de antigamente, mais de 30 anos que faço. Sou natural de Humaitá e, quando estou lá, também levanto de madrugada para colher macela”, conta.
Devido a religiosidade que envolve a planta e suas propriedades medicinais, a macela foi instituída, em 2002, como a planta medicinal símbolo do Rio Grande do Sul. O nome científico é Achyroclien satureioides, mas também é conhecida como macela-do-campo, marcela, macela-amarela, camomila-nacional, carrapichinho-de-agulha, marcela, losna-do-mato etc. No Tupi-guarani, é chamada de eloyatei-caá.