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Notícias | Região Novo Hamburgo

Ônibus têm queda de quase 80% no número de passageiros e empresas já falam em paralisação

Na contramão, população que depende do transporte público reclama a cada dia da fragilidade do serviço e da superlotação

Por Bruna Mattana e Gustavo Henemann
Publicado em: 21.04.2020 às 07:00 Última atualização: 24.05.2020 às 15:27

População reclama a falta de ônibus e o grande espaço de tempo entre os horários Foto: Gustavo Henemann/GES-Especial
A pandemia de coronavírus afetou diversos serviços no País, entre eles o de transporte. Em Novo Hamburgo e região, a situação não é diferente. As empresas de transporte coletivo estão operando no limite e não descartam paralisação até o final desta semana, segundo a diretora-administrativa das empresas Hamburguesa, Futura e Courocap de Novo Hamburgo, Sheila Fiori. "Estamos em constantes tratativas com a prefeitura. Na quinta-feira passada tivemos a última reunião presencial e expomos a situação. Não temos mais receita para pagar nossas contas. Já demitimos mais de 50 funcionários somando os desligamentos de todas as empresas", salienta.

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Desde o decreto publicado no dia 19 de março, o transporte de passageiros no Município opera com linhas reduzidas. "Pedimos antecipação de créditos para a prefeitura, mas isso é uma medida a curto prazo. Temos custos muito elevados e basicamente não temos dinheiro em caixa. Nossa receita é gerada pelos passageiros pagantes", pontua Sheila.

Segundo levantamento realizado pelas empresas, de 7 a 13 de março, Novo Hamburgo transportou 168 mil passageiros. De 11 a 17 de abril foram 41 mil passageiros, o que representa queda de 78% na demanda. 

O assessor jurídico das viações Hamburguesa, Futura, Courocap e Feitoria, Darci Norte Rebelo Jr, destaca que esse foi um dos setores mais afetados da economia. "Novo Hamburgo não tem subsídio no transporte público. Além disso, estamos com uma passagem defasada, pois não há reajuste tarifário desde o ano passado e isso agrava ainda mais a situação. Sendo bem otimista, como advogado, digo que, nessa situação, o transporte em Novo Hamburgo deve parar dentro de duas semanas", avalia. 

O gerente da viação Feitoria, Eder Scherer, também não descarta parada nessa linha. "Embora tenhamos um transporte menor de passageiros, pois fazemos o transporte somente do bairro Lomba Grande para o Centro de Novo Hamburgo, estamos com dificuldade para combustível e para pagar o salário dos funcionários."

A prefeitura de Novo Hamburgo informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que as restrições de circulação criadas com a pandemia da Covid-19 causaram uma forte redução no número de usuários do transporte público. "As empresas de ônibus de Novo Hamburgo costumavam transportar aproximadamente 38 mil passageiros, esse número chegou a cair para quatro mil usuários/dia e atualmente está em torno de sete mil. A Prefeitura tem feito um esforço enorme para equilibrar a necessidade de locomoção, principalmente dos trabalhadores do Município, e ao mesmo tempo atender as solicitações de redução de horários das empresas de ônibus a fim de viabilizar a continuidade do serviço."

Reuniões são realizadas para buscar alternativas

Ainda em nota, a Prefeitura informou que tem se reunido com frequência com as empresas e buscado as melhores alternativas para viabilizar a manutenção dos serviços. "As dificuldades que afetam as empresas de transporte público não são diferentes das dificuldades de tantas outras empresas que tiveram redução em suas vendas e faturamentos, assim como o Município sente a redução drástica na arrecadação. Manteremos o diálogo e a busca de alternativas junto com as empresas."

Oferta de viagens também é menor

O assessor jurídico das viações Hamburguesa, Futura e Courocap, de Novo Hamburgo, Darci Norte Rebelo Jr, acredita que a oferta de viagens reduziu cerca de 50 a 60% no Município, a partir da queda de demanda por usuários do transporte coletivo nas linhas internas. "Se pegarmos um parâmetro em geral no Brasil, e as exigências de não se poder levar passageiros em pé, a oferta caiu bem menos que a demanda. Não se consegue reduzir a oferta na mesma proporção", afirmou Rebelo Jr.

Passageiros relatam ônibus lotados e longas esperas

A aposentada Nilsa Bugança é moradora do bairro Roselândia e adota uso de EPIs no transporte coletivo Foto: Gustavo Henemann/GES-Especial
Os usuários do transporte coletivo de Novo Hamburgo têm reclamado bastante do serviço, principalmente pela falta de ônibus e o espaço de tempo entre os horários. A reportagem conversou com algumas pessoas, ontem à tarde, e registrou a grande espera para o embarque rumo aos seus destinos.

A aposentada Nilsa Bugança, 51 anos, buscou o Centro de Novo Hamburgo na tarde de ontem e precisou exercitar a paciência até a chegada do ônibus para retornar ao bairro Roselândia. "Já vim do bairro com o ônibus lotado e muitas pessoas sem proteção", relatou Nilsa, que esperou cerca de 30 minutos no Paradão da Avenida Primeiro de Março, no Centro. Já o porteiro Célio Richard, 40, utiliza o transporte coletivo todos os dias para vir do Primavera para o Centro. "Está bem ruim, os ônibus sempre atrasados. Ligo para as empresas e ninguém atende para passar informações sobre os horários", comentou.

Além disso, umas das reivindicações da população é a falta de fiscalização, pois não há nenhuma pessoa responsável por orientar o embarque de passageiros. Também não há o respeito de distanciamento social, causando aglomeração na entrada dos ônibus, assim como muitas pessoas ainda não utilizam os Equipamentos de Proteção Individual (EPIs). Vale ressaltar ainda que os próprios motoristas, por conta da redução de funcionários nas empresas de transporte público da cidade, têm feito o papel dos cobradores.

Intermunicipais enfrentam dificuldades

As empresas de ônibus da região, que fazem os trajetos intermunicipais, também registraram uma queda brusca no número de atendimentos por dia. Conforme Leandro Wendling, um dos sócios da empresa Wendling, de Dois Irmãos, o número de passageiros caiu em cerca de 75% no último mês. "Estamos em busca de auxílio com empresas e também da Metroplan (Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional). Sem isso teremos um colapso no transporte. Se continuarmos assim mais um ou dois meses teremos que parar os ônibus. Sem faturamento, não podemos pagar os funcionários, o combustível e a manutenção dos veículos", enfatizou.

Segundo Wendling, a empresa já adotou um regime de revezamento entre os funcionários. "Tivemos uma redução e suspensão das atividades para os aposentados, assim como os cobradores. Estamos revezando as equipes a cada semana também", frisou. "Estamos trabalhando no sacrifício para não deixarmos os profissionais da saúde também na mão. Nossas viagens para Novo Hamburgo têm sido com dois a três passageiros na ida, e um ou dois no retorno para Dois Irmãos", reforçou Leandro Wendling.

O empresário contou ainda que a Wendling está finalizando um levantamento financeiro para que em breve possa acionar a Metroplan em busca de novas soluções. De acordo com a assessoria de imprensa da Metroplan, a Fundação tem realizado estudos junto às empresas da região, e já teria adotado novas tabelas horárias, porém isso ocorre a partir de detalhamentos propostos pelas próprias empresas interessadas. Ainda sobre o auxílio ao transporte da região, a Metroplan informou que não fiscaliza ônibus municipais. "A Fundação é responsável pela circulação dos veículos com trajeto entre a Região Metropolitana de Porto Alegre e a capital. As prefeituras que fiscalizam os ônibus municipais."

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