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Notícias | Região Economia

Ainda que tardia, chuva traz esperança a produtores rurais

Depois de meio ano, região registrou chuva volumosa. Em algumas cidades, montante representa a metade do previsto para maio. Situação não resolve perdas já consumadas, mas traz expectativa de dias melhores

Por Ermilo Drews
Publicado em: 13.05.2020 às 06:30 Última atualização: 13.05.2020 às 08:45

Estiagem família Strack Foto: Ermilo Drews/GES-Especial
A chuva, que não aparecia em volumes significativos há meio ano, chegou a passar da média do mês em algumas cidades da região. E finalmente fez agricultores como Alfredo Antônio Strack, 61 anos, sorrirem. A propriedade em Lomba Grande, onde ele cultiva hortaliças há 31 anos para vender na Feira do Produtor de Novo Hamburgo, está penando com a estiagem.

O segundo dos dois açudes secou no dia 17 de abril. O outro estava seco desde fevereiro. A alternativa desde então para manter a horta viva era molhá-la com regador para evitar o desperdício. Mas planta precisa de água. Não tem jeito. "A produção caiu", lamenta. As 30 caixas de verduras levadas a cada feira, viraram oito ontem.

Ainda vai demorar alguns meses para que a chuva destes dias frutifique na horta dos Strack. Mas o volume de 40 milímetros que caiu sobre Novo Hamburgo da noite de segunda-feira até o começo da tarde de ontem já revigora o espírito. Os açudes ainda estão longe de estarem cheios, mas a dona Sueli, 56, esposa de Strack, já ficou com sorriso de uma orelha a outra com os pingos insistentes das últimas horas. Bem diferente do final de março, quando ela posou para o Jornal NH dentro do reservatório vazio. Ontem, até abriu os braços de felicidade em meio ao açude enlameado. "Água é essencial. Muda tudo."

Daqui para frente, pelo menos até o final de julho, a chuva deve retornar com mais frequência à região, melhorando a vazão de rios, abastecendo gente, animais e plantas. Na agricultura, hortaliças, pastagens e piscicultura têm muito a ganhar. "Principalmente as hortaliças, que têm um ciclo curto. No exato momento que cai, a chuva já favorece esta cultura, que registrou perdas de 40% em Novo Hamburgo", explica o extensionista da Emater local, o biólogo Carlos Roberto de Ávila Rocha.

Perdas significativas

Água realmente muda tudo, mas não faz o tempo voltar. A estiagem bateu com força no Estado. Quase 300 municípios já decretaram situação de emergência. Rios, como o Sinos, chegaram a níveis nunca vistos desde que se iniciou as medições regulares. Motor da economia gaúcha, a agricultura até pode se valer da tecnologia para tentar minimizar os prejuízos, mas sem água, nada cresce. E foi meio ano sem volumes expressivos. Estimativa desta semana da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta uma quebra de mais de 40% na produção de soja e acima de 30% na de milho no Estado. Isso representa muito dinheiro. Os produtores gaúchos tomaram, por exemplo, R$ 18,7 bilhões em crédito para custeio da safra 2019/2020, segundo dados do Banco Central. A estimativa da Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) é que 30% deste valor precise ser renegociado. E R$ 4 bilhões já devem vencer ainda neste ano. As perdas atingem milhares de agricultores gaúchos.

Os números ganham rosto quando homens como Valdinei Silva Bernardes, 42, falam. A precipitação de ontem na propriedade de Lomba Grande não fez o ponteiro do relógio retroceder. Afinal, planta não espera. "A última chuva de verdade aqui foi em 14 de novembro. Precisava de muito mais." As perdas na colheita de soja e milho já estão consumadas e contabilizadas: 70%. Até o seguro agrícola já foi solicitado. "Faz 40 dias que estou esperando", suspira alto Bernardes. A safrinha de milho também não vai vingar. Os pés que deviam estar com dois metros, não passam de 70 centímetros. "Não recupera mais. Esperava tirar 30 toneladas por hectare. Vai dar três toneladas." Mas não tem agricultor que não levante as mãos para o céu por causa de chuva. "Sempre é bom. Agora é pensar na pastagem de inverno. Cultivo aveia e azevém."

Fôlego extra

De acordo com o secretário estadual da Agricultura, Covatti Filho, a alta do dólar e a pandemia do coronavírus deixam a situação ainda mais alarmante. Ele estima que as perdas em algumas culturas chegam a 45% no Estado. Para minimizar a situação, o governo do Estado aumentou o subsídio do programa de sementes forrageiras, prorrogou prazo para pagamento dos contratos do Troca-Troca de Sementes e irá intensificar a assistência técnica, além de perfurar poços e construir açudes em municípios que decretaram situação de emergência. Já o governo federal prorrogou dívidas de custeio e investimento e abriu linhas de crédito emergencial a produtores rurais.

Colaborou: Gustavo Henemann

Volume de 60 milímetros traz alívio no Paranhana

Os 60 milímetros acumulados em Igrejinha visivelmente já aumentaram a vazão do Rio Paranhana, de acordo com a coordenadora da Defesa Civil local, Alessandra Regina de Azambuja. O volume é expressivo, considerando que em março havia chovido 29,12 milímetros e em abril, 22,80. "Foi providencial para amenizar a situação", atesta. Na cidade, as perdas na agricultura chegam a 50% e 32 famílias são abastecidas com água potável por caminhões-pipa.

Chuva vai retornar nofim da próxima semana

Entre a noite de segunda-feira e o começo da tarde de ontem, o maior volume registrado na região foi em Igrejinha, no Vale do Paranhana, de acordo com a MetSul Meteorologia. Foram 60 milímetros, o que corresponde à metade da média histórica para o mês de maio na cidade. No Vale do Sinos, a média no mesmo período foi de aproximadamente 30 milímetros. Mas em cidades como Novo Hamburgo, por exemplo, a Defesa Civil informou montantes de 40 milímetros em pouco mais de 12 horas. E inevitavelmente, estes números vão subir, porque seguiu chovendo ao longo do dia e só deve parar hoje à tarde na região, quando irá esfriar.

De acordo a meteorologista Estael Sias, a chuva irá retornar com força entre os dias 21 e 23 de maio. "Será um episódio mais intenso", frisa. Para os próximos meses, a tendência, segundo a MetSul, é de chuva acima da média histórica. "Sequências de dois a três dias serão mais frequentes. Frentes frias são fenômenos mais abrangentes e se deslocam mais lentamente, por isso deve haver eventos de chuva mais significava", explica Estael. "Com a neutralidade climática, sem a presença do La Niña e El Niño, a tendência é que esta característica se mantenha", completa.

Nível do Sinos

A chuva de ontem já serve para mudar a paisagem do Rio dos Sinos em Novo Hamburgo, que atingiu a menor marca em 22 anos no dia 1º de maio: 1,73 metro no ponto de captação da Comusa. No começo da manhã de ontem, o nível já havia chegado a 1,98 metro. Quatro horas depois, em 2,10 metros, uma média de elevação de três centímetros por hora. Estael afirma que as precipitações mais frequentes a partir de agora irão trazer alívio a toda a bacia. "Haverá recuperação, se chegará ao nível normal é difícil dizer neste momento porque são seis meses de estiagem e serão três meses de chuva dentro ou um pouco acima da média. Além de abundante, as precipitações precisarão ocorrer nos locais corretos", comenta a meteorologista.

 

Falta água potável em torneiras do Vale do Caí

No Vale do Caí, a precipitação de ontem não foi expressiva ao ponto de mudar o cenário para 250 famílias do interior que dependem de caminhão-pipa para beber água potável. Coordenador da Defesa Civil local, Pedro Griebler afirma que nos dez anos que está à frente do órgão não viu a situação chegar neste ponto. "O Rio Caí está um metro abaixo do nível aqui. As vertentes nestas localidades do interior secaram. Isso não é comum", admite. Na cidade, o prejuízo só na agricultura fica próximo de R$ 11 milhões. "Mas o pior é o dano humano, com gente que precisa de água para beber", admite. A cidade é uma das quase 300 do Estado que decretaram situação de emergência por causa da estiagem.

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