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Notícias | Região Entre 1º de março e 13 de maio

Apesar da Covid-19, região teve queda de 11% nas mortes por doenças respiratórias

Números são do Portal da Transparência de Registro Civil, que reúne as informações dos atestados de óbito

Por Bianca Dilly
Publicado em: 18.05.2020 às 05:00 Última atualização: 18.05.2020 às 08:27

Apesar da pandemia do novo coronavírus, a região registrou uma queda de 11% no número de mortes por doenças respiratórias entre os dias 1º de março e 13 de maio deste ano na comparação com igual período de 2019. É o que aponta o Portal da Transparência do Registro Civil, atualizado com base nas declarações de óbito feitas em cartórios de todo o País.

Somando as mortes causadas pelo novo coronavírus (Sars-Cov-2), por Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), pneumonia, insuficiência respiratória, septicemia, causas indeterminadas e outras causas, foram 789 casos entre 1º de março e 13 de maio, contra 885 do mesmo período do ano passado em Campo Bom, Montenegro, Novo Hamburgo, Sapiranga, São Leopoldo e Tramandaí. O Painel Covid Registral leva em conta somente cidades com mais de cem óbitos.

A data inicial está relacionada com o registro dos primeiros casos de Covid-19 por aqui. No Estado, o paciente número 1 foi confirmado em 9 de março, em Campo Bom. Durante o período analisado foram dez mortes por Covid-19. É a única doença respiratória que causou mais óbitos neste ano. Nas demais, os índices apresentaram queda.

Para o presidente da Sociedade Brasileira de Virologia e professor da Universidade Feevale, Fernando Spilki, não significa que a situação esteja resolvida. "Não acho prudente dizer que está absolutamente sob controle, porque um dos determinantes que temos que ter para as doenças respiratórias aqui na região começa a se intensificar agora, que é o frio", diz.

Segundo Spilki, estamos vendo o resultado do que se fez no início dos casos, mas não quer dizer que isso tenha representado a solução efetiva. "O que eu diria é que, sim, o distanciamento social pode ter tido um efeito, até o momento, interessante em diminuir ou manter estável esse número de óbitos", pontua. A partir de agora, não há a certeza de que as coisas permaneçam dessa forma. "Obviamente, relaxando esse distanciamento, podemos ter problemas. Por isso, é importante continuar acompanhando os dados, para ver como vão se desenvolver nas próximas semanas, com o início da temporada mais fria e após o início do novo processo de distanciamento social controlado."

A Secretaria Estadual da Saúde (SES) revela que não considera os registros civis para avaliação epidemiológica. Para os casos de hospitalização por doenças respiratórias é utilizado o sistema oficial de vigilância das Síndromes Respiratórias Agudas Graves (SRAG), que é chamado de Sivep-Gripe. "Esse sistema é onde todos os serviços de saúde devem informar os casos de hospitalizações, que entre as causas para o agravo investiga-se a possível infecção por Covid, assim como para outros vírus", pontua, em nota. Da mesma forma, as prefeituras também informam que se baseiam em outros sistemas de notificação de óbitos.Tabela Painel Covid

Aumento de mortes por SRAG no Estado e País

Tanto no Brasil quanto no Rio Grande do Sul, um dos dados que mais chama a atenção no Painel Covid Registral é o de aumento de casos de SRAG: de 1.441% e 383%, respectivamente, de um ano para o outro. Porém, a SES ressalta que todos os casos classificados como SRAG, independentemente da avaliação, passarão por completa investigação laboratorial. "Por isso, não há razão que indique que possa haver uma subnotificação dos casos e óbitos por síndromes respiratórias", resume. Pelo protocolo usado no Estado, o primeiro teste pelo qual as amostras desses pacientes passa é o do novo coronavírus, que pelo Lacen se tem um resultado em até 48 horas.

A avaliação das SRAG, no Rio Grande do Sul, é divulgada semanalmente pela Secretaria da Saúde por meio de boletins epidemiológicos. O documento faz um recorte de casos registrados até as primeiras 19 semanas de cada ano e traz o comparativo de internações e óbitos por SRAG registradas no período. Neste ano, os dados são avaliados até o dia 9 de maio. Foram 587 óbitos por SRAG, comparando com 54 do ano passado; 50 em 2018; 61 em 2017; e 283 em 2016.

Fatores que podem contribuir para o resultado


Conforme a SES, não há, até o momento, comprovações epidemiológicas que descrevem na sua totalidade as causas para o aumento de SRAG de 2019 para 2020. A Vigilância Epidemiológica do Estado trabalha com alguns fatores que contribuem para isso, já que um cenário assim não costuma ter uma única justificativa. Confira as possíveis razões:

1) Aumento na sensibilidade das notificações
A Vigilância detalha que situações de surtos e pandemias como essa têm por característica o aumento na percepção das suspeitas dessas doenças na rede de saúde. “Como o assunto ganha uma maior visibilidade, os profissionais ficam mais atentos para a identificação de possíveis casos, que em outros momentos não receberiam essa classificação”, resume. Por isso, é comum que sempre haja um aumento maior nos casos suspeitos do que efetivamente nos casos confirmados.

2) Aumento de Influenza e outros vírus
Segundo o órgão, a pandemia de Covid-19 fez com que as análises laboratoriais para síndromes respiratórias focassem os esforços nesse tipo de identificação. Por essa emergência de saúde pública, a Vigilância destaca que momentaneamente foram represadas as investigações para outros vírus que causam o mesmo quadro clínico (como os influenzas A e B, adenovírus, parainfluenza e vírus sincicial respiratório). “Por isso também se estima que parte do aumento nas notificações possa estar relacionada também a uma maior circulação desses vírus, que tão logo a situação permita terão as amostras analisadas”, aponta.

3) Sensibilidade dos exames
A identificação do vírus causador da Covid (o Sars-Cov-2) é um exame novo. “Como em qualquer outro tipo de análise laboratorial, sua eficácia não é de 100%. E quanto mais experiência se tem com a técnica mais apurada a análise será”, justifica a SES.

Situação na região

Campo Bom
De acordo com a Coordenadora da Vigilância Epidemiológica e Coordenadora das Imunizações da Secretaria Municipal de Saúde de Campo Bom, Vera Lucia de Lima Ribas, os dados não são reais e as informações que constam no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Mistério da Saúde, é que devem ser consideradas. Pelo SIM, Campo Bom não tem mortes por Covid-19. Neste ano, registra um óbito por SRAG, quatro por pneumonia, duas por septicemia, 49 por demais causas e nenhuma por insuficiência respiratória e causa indeterminada. Já em 2019, no mesmo período, não houve morte por SRAG, 11 foram por pneumonia, oito por insuficiência respiratória, 13 por septicemia, duas indeterminadas e 36 por demais causas. Os números variam um pouco em relação ao Painel Covid Registral do Portal da Transparência.

“Até o momento, não teve nenhum aumento de morte de doenças respiratórias. O número de óbitos por outras causas está dentro da nossa estatística de anos anteriores”, explica, destacando que os dados “mantêm-se dentro esperado. Ainda hoje, o maior número de mortes é por câncer e doenças cardiovasculares”, relata. Em relação ao óbito pela Covid-19 registrado pelo painel, Vera afirma que uma senhora com suspeita de coronavírus morreu na cidade, mas que os testes da doença foram negativados.

Novo Hamburgo
A Prefeitura de Novo Hamburgo, por meio da Vigilância em Saúde, informa a comparação de dois anos não é suficiente para uma validação de variação de números absolutos. “A oscilação de tão poucos óbitos para mais ou para menos no período, indica sim, uma estabilidade na curva de óbitos”, destaca. Além disso, o Município revela que conta com o serviço de qualificação e investigação das causas de óbitos por meio do Sistema de Informações de Mortalidade em NH.

“É um dos mais organizados da região. Todos os óbitos materno-infantis, fetais e mulheres em idade fértil são investigados”, diz. Segundo o Executivo, da mesma forma, todas as causas indeterminadas e os óbitos com causa duvidosa são investigados e qualificados conforme a causa básica deste óbito. “A partir de janeiro de 2020 também são investigadas todas as causas com componente respiratório, onde pode se encontrar a Covid-19”, complementa. Sobre as cinco mortes por coronavírus que constam no portal, a Prefeitura detalha que trabalha com dados de óbitos por local de residência e não ocorrência. “Portanto, os óbitos relacionados na tabela, que ocorreram em nosso Município nos três hospitais, não são necessariamente de moradores de Novo Hamburgo”, pontua.

Após a investigação destes óbitos, a Vigilância em Saúde ressalta que encontrou um morador de outro município e duas moradoras hamburguenses com causa Covid-19 confirmada e outros dois óbitos com suspeita de Covid-19 descartados após liberação de resultado de exame laboratorial.

Sapiranga
Segundo a prefeitura de Sapiranga, através da Secretaria Municipal de Saúde, a redução no número de óbitos pode ser atribuída a vários fatores. Entre eles, o afastamento social e a forte orientação de medidas de higiene. Além disso, foram “adotadas medidas sanitárias, mantida a oferta de atendimentos e de medicamentos necessários à atenção básica e adotadas todas as medidas preventivas possíveis na rede de saúde”, salienta, em nota. Outro destaque feito pela pasta foi a adesão à campanha de vacinação contra a gripe, “o que é atípico em relação aos anos anteriores, bem como acreditamos que houve maior adesão da população em todas as orientações”, acrescenta.

Sobre o óbito registrado no município, diz tratar-se de um paciente proveniente de outro município, com causa provável como Covid-19, porém, a causa básica do óbito foi insuficiência cardíaca. Foi coletado exame de RT-PCR para Sars-Cov-2, o qual testou não detectável, descartando a possibilidade. Para os óbitos com causas básicas indeterminadas, são feitas investigações e a informação é repassada ao sistema do Ministério da Saúde como óbito qualificado, dentro do prazo oportuno.

Com o objetivo de manter os resultados, a Secretaria detalha que segue trabalhando incansavelmente na prevenção e na manutenção de medidas sanitárias no município, bem como no acompanhamento e monitoramento dos casos de síndromes gripais, mantendo o afastamento social e/ou isolamento domiciliar dos casos suspeitos.

Contatados na última quarta-feira (13), os municípios de Montenegro, São Leopoldo e Tramandaí não responderam aos questionamentos até o fechamento desta reportagem, na manhã deste domingo (17).

Inconsistências
O painel registra algumas inconsistências, motivo de apontamentos da SES e dos municípios entrevistados. Entre elas, está a da quantidade de óbitos registrados, que gera questionamentos sobre os efeitos da Covid-19 no País e no Estado. Mesmo com os 13.149 óbitos somente pelo novo coronavírus no Brasil até 13 de maio, o levantamento do Portal da Transparência apontava um aumento de 6.103 mortes se comparando com o mesmo período do ano passado, por exemplo, menos da metade do que o informado pelo Ministério da Saúde.

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