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Notícias | Região Entrevista

Infectologista explica estudo que verá se ivermectina trata mesmo a Covid

Ensaio clínico coordenado por universidade pernambucana será feito em outras regiões do País. No Estado, a Santa Casa, da capital, fará parte da pesquisa. Coordenador dá detalhes sobre estudo e sobre a ivermectina

Por Ermilo Drews
Publicado em: 18.07.2020 às 07:00 Última atualização: 18.07.2020 às 12:59

No Estado, pesquisa será na Santa Casa de Misericórdia Foto: Divulgação
Entre quatro e seis meses, um estudo que será realizado também por pesquisadores e em solo gaúcho pretende responder uma das perguntas do momento: a ivermectina funciona para tratar a Covid-19? A droga antiparasitária que atua contra vermes e parasitas apresentou resultados positivos em estudos in vitro, nas células, contra o novo coronavírus. Agora, pesquisa liderada pela Universidade Federal de Pernanbuco (UFPE) pretende testar a eficácia desse medicamento no tratamento da Covid-19.

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Chamado de ensaio clínico randomizado, o estudo será realizado em conjunto com a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Santa Casa, de Porto Alegre, cujo centro de infectologia tem reconhecimento nacional nas pesquisas com medicamentos. Em solo gaúcho, o ensaio será liderado pelo infectologista Claudio Stadnik, da Santa Casa. De acordo com Stadnik, apesar de haver evidências in vitro de que a ivermectina inibe o novo coronavírus, não se tem esta comprovação em humanos.

Atualmente, algumas prefeituras, inclusive na região, iniciaram a compra deste medicamento que poderá ser receitado pelo médico para tratamento precoce da Covid-19, caso haja também o consentimento do paciente. Sobre essa possibilidade, Stadnik pondera. "A decisão do médico de indicar uma droga que não está ainda validada nos estudos é permitida e bem válida, numa relação médico-paciente saudável. Ninguém está proibindo a utilização deste e de outros medicamentos, desde que validados individualmente para cada pessoa. Agora, estimular, forçar, fazer marketing, indicar a nível público uma medicação que não tem comprovação científica, é extremamente arriscado para a população", observa.

Não existe mágica

Para o infectologista, na ânsia de encontrar alternativas para enfrentar a pandemia, a população se torna vulnerável. "Está havendo publicidade para um tratamento que não tem controle científico. E isso traz riscos do ponto de vista de utilização inadequada de uma medicação, por um grande número de pessoas, muitas vezes sem o acompanhamento médico. Todos nós gostaríamos de encontrar uma solução mágica para este problema terrível. Mas não é assim."

"É uma droga mais segura do que as outras, mas precisa ser testada"

Por que a ivermectina ganhou evidência ao ponto de ser utilizada em tratamentos precoce contra a Covid-19 mesmo sem estudo conclusivo sobre sua eficácia?

Cláudio Stadnik - É um medicamento que conhecemos há muitos anos e foi visto in vitro, ou seja, na célula, que a ivermectina inibe vários vírus, não só coronavírus, mas febre amarela, dengue, febre chikungunya. Sempre que foi testado em humanos, para tratamento destes outros vírus, infelizmente, não funcionou. Agora, para o coronavírus, foi testado em célula, e se viu que isso inibe o vírus. O que queremos testar é se nas pessoas que estão doentes vai se mostrar eficaz para reduzir os sintomas, mortalidade e necessidade de internação. Estes estudos em pessoas ainda não temos, nem nos mesmos moldes com a hidroxicloroquina, como vimos há alguns meses. Aliás, sobre a hidroxicloroquina, nesta semana, foram publicados dois estudos randomizados mostrando que ela realmente não funciona como tratamento da Covid (estudo da Universidade de Minnesota, EUA, e estudo da Universidade de Oxford, no Reino Unido). Então, na vigência de que está caindo por terra o uso da hidroxicloroquina, a gente está tentando encontrar outras alternativas, como a ivermectina. Ela está sendo testada também porque tem muito menos efeitos colaterais que a hidroxicloroquina. O maior problema com a ivermectina, normalmente, é alergia, mas fora isso não costuma causar arritmia. É uma droga mais segura do que as outras, inclusive que a azitromicina, que também pode provocar arritmia, mas precisa ser testada.

O que seria este ensaio clínico randomizado que será realizado com a contribuição da Santa Casa?

Stadnik - Podemos fazer vários tipos de estudos, mas todos eles, normalmente, só dão um indicativo de que possa funcionar. O único tipo de estudo que realmente comprova que este medicamento ou medida vai funcionar ou não é o clínico randomizado. Nele, se sorteia pelo computador quem vai usar a ivermectina e quem vai usar o placebo, que é um comprimido que não tem a substância, mas imita o comprimido. Eles tomam isso, sem que a gente saiba o que é. No fim do estudo, vemos quem evoluiu e quem estava tomando o quê. Este tipo de estudo é o único que vai responder a esta pergunta que está todo mundo fazendo, se ivermectina realmente diminui alguns dos efeitos deletérios da Covid.

Qual o cronograma previsto para a realização da pesquisa?

Stadnik - Estamos num momento de chegada do medicamento, implementação de estrutura para atendimento das pessoas. A partir daí vai iniciar a seleção, sorteio delas e início da medicação. Temos expectativa que comece em agosto. A partir de então temos um número "x" de pessoas para entrarem no estudo, em torno de 600 em todo o País. Quando se completar este número, as acompanhamos por um tempo, para ver a evolução. Deve levar de quatro a seis meses para termos resultados.

Este estudo pode avalizar a indicação com segurança da ivermectina para o tratamento da Covid-19?

O estudo vai dizer se funciona ou não para aquele tipo de situação. É uma informação. Na metodologia científica, normalmente, precisamos mais de um estudo para poder fazer isso com bastante segurança, mas já vai ser um excelente indicador que possa ser utilizada, aí sim recomendada pelas sociedades médicas e até pelo Ministério da Saúde.

 

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