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Notícias | Região Segurança

Crimes patrimoniais e homicídios caem, mas estelionato aumenta

Comportamento do crime foi semelhante no Estado e Novo Hamburgo

Por Ermilo Drews
Publicado em: 14.08.2020 às 03:00 Última atualização: 14.08.2020 às 09:01

Principais crimes Foto: Alan Machado/GES
Queda no número de homicídios e crimes patrimoniais, mas aumento nos casos de estelionato. Esta é uma das conclusões do balanço dos principais indicadores criminais dos sete primeiros meses do ano e divulgado pela Secretaria Estadual da Segurança Pública (SSP-RS). A realidade do Estado também se aplica na principal cidade da região, Novo Hamburgo. Tanto de maneira macro como local, os números apontam quedas nas ocorrências de furtos e roubos (incluindo de veículos) e assassinatos. Mas a Covid-19 e a mudança de foco de organizações criminosas podem ter impactado nestes dados.

Vice-governador e secretário da Segurança Pública, delegado Ranolfo Vieira Júnior admite que a queda de crimes contra o patrimônio, como roubo de veículos e a pedestres, deve sim ter sofrido influência da pandemia. "Importante salientar que a queda destes indicadores vêm acontecendo desde o governo anterior e o trabalho na segurança pública exige continuidade. Agora, com a redução de circulação de pessoas, é natural que estes crimes também diminuam", analisa.

No entanto, para o secretário Ranolfo, a mesma justificativa não se aplica para a redução nos homicídios. De janeiro a março, período que só teve a presença da pandemia na última quinzena, houve redução. Em abril e maio, quando as restrições impostas para prevenir o contágio pelo novo coronavírus foram mais rigorosas, o indicador fechou com leve alta. Em junho e julho, esse tipo de crime voltou a cair. "Ou seja, não há uma constância que indique impacto da pandemia, como ocorre entre os delitos patrimoniais, cujas reduções têm sido aprofundadas desde que as medidas para diminuir a circulação de pessoas foram adotadas. Três quartos dos homicídios no Estado ainda têm ligação com a disputa de organizações criminosas, e isso não deixa de existir por causa do distanciamento social."

Apesar disso, houve redução de 8,1% no número de assassinatos no Estado, incluindo de cidades que integram o programa RS Seguro, que foca no enfrentamento da criminalidade em áreas que concentram os maiores indicadores de violência nas últimas décadas. Novo Hamburgo é uma destas cidades e viu os homicídios caírem de 23 para 16, ao comparar os sete primeiros meses de 2019 e 2020. "Isso se deve ao foco territorial, que utiliza trabalho de inteligência para reduzir crimes nestas áreas", defende Ranolfo.

Estelionato

Na contramão da queda generalizada dos indicadores está o estelionato, que cresceu 85% no Estado e mais de 40% em Novo Hamburgo. Para a chefe da Polícia Civil gaúcha, delegada Nadine Anflor, o aumento dos casos está ligado à pandemia e ao incentivo para que este tipo de crime seja registrado. "O isolamento deixou as pessoas mais tempo na Internet e os criminosos perceberam a oportunidade." Para alertar as pessoas, a Polícia Civil lançou uma cartilha e tem estimulado que as pessoas denunciem os casos. "Principalmente pela delegacia on-line percebemos um aumento do registro." Ela afirma ainda que operações policiais têm sido feitas para prender e identificar quadrilhas, mas a legislação não permite que estes criminosos fiquem muito tempo presos. "Por isso, é importante que a pessoa sempre desconfie de ofertas muito vantajosas, porque, geralmente, o estelionatário se aproveita da ambição da vítima", alerta.

 

Efeito pandemia

Especialista em segurança pública, Charles Kieling frisa que a pandemia precisa ser levada em conta ao analisar os números divulgados pelo Estado. Ele pondera que a redução do número de crimes patrimoniais como roubo e furto de veículos não acompanhou o percentual de queda na circulação de pedestres, na ordem de 40%, e de veículos, na ordem de 60%, durante a pandemia. "Exemplo disso são os furtos e roubos de veículos em Novo Hamburgo, cujos números de 2020 já correspondem a 47% do total de 2019, período sem a pandemia. Isso aponta que não está ocorrendo a redução significativa de tais indicadores. Pode-se considerar a estabilização", defende.
Em relação aos homicídios, ele considera possível identificar uma tendência de redução. "Isso decorre da mudança criminal que está 'migrando' para os crimes financeiros, de forma que as dívidas entre integrantes de facções estão em queda e isso tem reduzido os homicídios entre as facções e dentro das facções. Esse é o principal vetor que vem alterando o comportamento dos indicadores", opina. Para a delegada Nadine, a mudança de comportamento das facções pode sim influenciar na redução de homicídios. "Mas não se pode negar o trabalho de repressão da polícia, que entendo ser o motivo principal para os bons números", contrapõe.

Queda do feminicídio em julho é recorde

O feminicídio é outro crime em queda neste ano. Enquanto julho de 2019 teve 14 mulheres assassinadas por razões de gênero no Estado, o total de vítimas no mês passado caiu 86%, para duas vítimas - o menor número para o mês em toda a série histórica, iniciada em 2012. Com essa retração profunda, a soma de feminicídios em 2020 chegou a 53, dois a menos (-4%) do que os 55 registrados no mesmo período do ano passado. Outros indicadores de violência doméstica também apresentaram queda. "Mas sabemos que historicamente existe uma subnotificação nestes casos", admite Ranolfo.

 

Facções mafiosas

Para o especialista em segurança pública Charles Kieling, organizações criminosas gaúchas têm agido num "híbrido de facção e máfia". "Desde 2017, quando o governo enviou apenados para outros estados, eles recebem apoio da máfia italiana 'Ndrangheta' e das facções de São Paulo e Rio de Janeiro. Eles estabeleceram um cenário global de criminalidade que tem como base a lavagem de dinheiro e tráfico de armas e munições. Esse fenômeno implica numa falsa impressão quanto à estabilidade ou redução dos indicadores criminais. Eles seguem atuando e recrutando jovens. E não vejo nenhuma ação do Estado para mudar esse fenômeno."

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