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Padre investigado por pedofilia é suspenso pela Diocese de Novo Hamburgo

Em comunicado publicado nesta sexta-feira, bispo fala em "conduta vergonhosa" do subordinado e atribui a punição aos fatos trazidos em reportagens dos jornais NH e VS

Por Silvio Milani
Publicado em: 02.10.2020 às 21:17 Última atualização: 02.10.2020 às 21:46

Sacerdote trocava fotos íntimas com menina pelo celular Foto: Reprodução
O bispo da Diocese de Novo Hamburgo, Dom Zeno Hastenteufel, suspendeu, nesta sexta-feira (2), o padre investigado por pedofilia. Em comunicado no portal eletrônico da instituição, o líder atribui a decisão a reportagens dos jornais NH e VS que desvendam a investigação policial e a possibilidade de indiciamento do suspeito em dois artigos do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

O religioso trocava com uma menina fotos impublicáveis de nudez em conotação sexual. O nome, idade e a paróquia do suspeito não são revelados porque há inquérito em andamento. A Diocese de Novo Hamburgo abrange 19 cidades dos vales do Sinos e Paranhana - onde está concentrada a investigação - e quatro da Serra.

Inicialmente, a Diocese atribuía ao sacerdote a prática de erro ou pecado, ao mesmo tempo em que o defendia de forma inarredável sob argumento de que teria sido vítima do conhecido "golpe dos nudes". A alegação do investigado era que não sabia que se comunicava com uma criança ou pré-adolescente. Mesmo após entrevista em que o padre admite que tinha conhecimento, o tempo todo, de se relacionar durante cinco meses com uma menor, a Diocese sustentou o parecer.

Porém, após nova matéria nesta sexta, em que a titular da Delegacia Especializada no Atendimento à Mulher (Deam) de Novo Hamburgo, Raquel Peixoto, afirma que o sacerdote incorreu em pelo menos um crime estabelecido no ECA, com pena de um a quatro anos, a diocese decidiu pela suspensão.

Escreve o bispo: "Mas agora, diante de mais elementos revelando conduta vergonhosa do padre, não condizente com o regimento da Igreja de Cristo, contrariando a zelosa defesa dos princípios da moralidade pregada, sobretudo através do exemplo dos religiosos, referido sacerdote não poderia passar impune. Por isso foram emitidas, por meio de decreto, sanções canônicas punitivas, a exemplo da suspensão temporária liminar."

Entenda os fatos

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Material foi negado

Na entrevista, o padre investigado frisou que tinha prints das ameaças de extorsão que teria sofrido. A reportagem pediu o material para publicação. O religioso respondeu que só forneceria com autorização dos superiores. "Posso perguntar para o padre da ouvidoria da diocese. Por mim não tem problema mostrar. Não sei o que vão me orientar", argumentou. E o material não foi disponibilizado à reportagem. São os prints que o bispo, no comunicado, acusa o jornal de ter omitido. Neles, como já publicado, um suposto tio da vítima estaria pedindo R$ 22,8 mil para não divulgar o conteúdo sórdido nas redes sociais. "Se eu tivesse dinheiro, teria pago eles", declarou o padre.

Contatos teriam durado cinco meses

Conforme o próprio padre, os contatos com a menina começaram no Facebook, no início do ano, foram logo para o WhatsApp e só terminaram no fim de junho, quando um suposto tio da jovem veio com ameaças. Mesmo que tenha sido golpe, a Polícia considera que a pedofilia está configurada nas conversas e fotos reveladas com exclusividade pelos jornais NH e VS.

Confira o comunicado na íntegra

COMUNICADO OFICIAL EPISCOPAL

Caríssimos filhos e filhas, que a graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a Comunhão do Espírito Santo estejam com todos vocês.

Com o coração ferido e muita humildade venho ao encontro de todos para, em nome de nossa diocese, especialmente do clero e leigos colaboradores, lamentar profundamente o ocorrido, tendo como protagonista um dos nossos sacerdotes. Infelizmente a notícia veiculada no jornal de grande circulação, apesar de trazer parcialmente a verdade da qual nos envergonha muitíssimo, trouxe mais perturbações e incertezas ao povo do que respostas concretas sobre o ocorrido e as medidas já tomadas por nossa diocese.

De fato, apesar de tudo indicar tratar-se de típico caso de extorsão, pois a reportagem jornalística omitiu os diversos prints de conversas por WhatsApp de supostos familiares da suposta vítima exigindo dinheiro, sob ameaça de ampla divulgação, o triste e abominável teor das mensagens trocadas por um sacerdote de nossa diocese com uma adolescente até então desconhecida, não poderia passar impune.

Foi nesse contexto que, inicialmente, a Ouvidoria Canônica avaliou o caso, pois não havia menor na posição de vítima. Também não havia manifesto perante a Igreja de alguém se dizendo parente, tio ou tia, circunstância que a reportagem jornalística não desmente, pois reconhece que a suposta menor continua não identificada e o tio que teria feito o contato com o jornalista não quis se identificar. Tampouco o poder público se manifestou ou requereu algo. A única ocorrência policial que se conhecia era do padre, vítima de extorsão, essa sim comprovada nas mensagens referidas.

Mas agora, diante de mais elementos revelando conduta vergonhosa do padre, não condizente com o regimento da Igreja de Cristo, contrariando a zelosa defesa dos princípios da moralidade pregada, sobretudo através do exemplo dos religiosos, referido sacerdote não poderia passar impune. Por isso foram emitidas, por meio de Decreto, sanções canônicas punitivas, a exemplo da suspensão temporária liminar, por ato administrativo canônico, retirando-lhe a condição de exercer seu ministério.

Esse decreto de suspensão temporária do padre, portanto, resulta do trabalho da Ouvidoria Canônica da diocese de Novo Hamburgo, que continuou investigando o caso, avaliando os fatos novos agora trazidos pela reportagem jornalística. Aos diversos prints de conversas revelando a mais pura extorsão, agora se acresceram elementos caracterizando conduta imprópria, materializando grave delito canônico, justificando a tomada de medidas previstas no Direito Eclesiástico.

Deste modo, informamos que o sacerdote investigado está suspenso do ministério sacerdotal a partir desta data, deixando de exercer qualquer função como padre em todo território nacional. Enfatizamos, ainda, que a identidade do sacerdote investigado será preservada, pois o processo civil tramita em segredo de justiça. Todo o material de nossa investigação canônica, bem como suas conclusões, os Decretos de Medida Disciplinar e de Suspensão Definitiva do sacerdote investigado serão enviadas ao Dicastério de Roma (Congregação para Doutrina da Fé), que cuida dos casos de denúncias e delitos de natureza sexual cometidos por religiosos envolvendo menores e vulneráveis, para confirmar nossa decisão. Queremos ainda deixar claro que a nosso Decreto de Suspensão de Ordem do Sacerdote investigado, assim como o envio de nosso parecer à Congregação para Doutrina da Fé não exime o sacerdote das investigações e possíveis condenações civis.

Por ora, resta-nos apenas, com dor no coração, intensificar nossas preces e aguardar o que determina o Dicastério Romano competente.

Também ressaltamos que a conduta triste e abominável deste nosso irmão constitui caso isolado, que não deve macular a conduta de nosso clero, que busca ser fiel ao Senhor no seu estado de vida, seguindo seus mandamentos e servindo o povo de Deus.

Com minhas mais sinceras estimas e preces.

Novo Hamburgo, 02 de Outubro de 2020.

Dom Zeno Hastenteufel

Bispo Diocesano

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