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Notícias | Região Sapiranga

Apesar da passarela, ainda há quem se arrisque na 239

Bastaram alguns minutos para ver várias imprudências cometidas por pedestres em Sapiranga. Muitos ignoram a obra inaugurada em julho e atravessam alguns metros ao lado e até embaixo da estrutura

Por Adair Santos
Publicado em: 13.10.2020 às 03:00 Última atualização: 13.10.2020 às 09:48

Sergiomar Lima, 54 anos, que já foi atropelado e perdeu uma filha na rodovia, usa a estrutura diariamente com Kemili, 11 Foto: Inézio Machado/GES/InÉzio Machado/GES
Após uma grande mobilização dos moradores, Sapiranga finalmente ganhou, em julho passado, a primeira passarela sobre a RS-239, uma das estradas com maior número de mortes na região. Mas, incrivelmente, uma parcela dos pedestres ainda prefere se arriscar atravessando a rodovia entre carros e caminhões, muitas vezes quase embaixo da passarela, como comprovam os flagrantes feitos recentemente pela reportagem. Mas quais são os fatores que levam pedestres e ciclistas a protagonizarem essas atitudes de irresponsabilidade? "Provavelmente a pressa e a preguiça em andar mais alguns metros, pelo fato de a passarela não estar localizada exatamente no seu trajeto. Quem não a usa deve repensar suas atitudes, já que depois que acontece um acidente não adianta mais lamentar", aponta o responsável pelo Comando Rodoviário da Brigada Militar de Sapiranga, o segundo sargento Fernando Mujica dos Santos.

Dia 24 de setembro, 12h55. Três homens cruzam a estrada a apenas 50 metros da passarela, um deles praticamente "driblando" os veículos. Na sequência, uma mulher de bicicleta e um homem a pé atravessam quase embaixo da estrutura. Os riscos são grandes: mais de 80 pessoas morreram nos últimos três anos em acidentes na estrada, que recebe cerca de 25 mil veículos todos os dias.

Difícil tentar justificar os motivos que levam a se arriscar. Atitude que se torna ainda mais inconcebível para alguém que já sentiu na pele as dores físicas e psicológicas de um atropelamento. Há 23 anos, em 1997, quando a rodovia ainda estava sendo duplicada, Sergiomar Lima Martins, 54 anos, foi acertado em cheio por um Palio em alta velocidade. "Assim que coloquei o pé no asfalto, veio o carro e me jogou longe. Senti que ia morrer", relembra. Com diversos ferimentos, teve que ser levado ao HPS, na capital. Em 2007, uma nova tragédia atingiu a família: uma das filhas, então com 5 anos de idade, morreu depois de ser atropelada por um automóvel, dirigido por um menor de idade. Ele e a filha Kemili, 11, usam a passarela todos os dias, pois moram no bairro Oeste e precisam ir a um mercado na Vila Irma. Antes, eram necessários até 10 minutos para aguardar uma brecha no fluxo de veículos. Agora, é mais rápido e tranquilo. A reportagem cronometrou: são necessários apenas dois minutos e meio para subir as rampas de acesso e percorrer o vão de 47 metros sobre a estrada. "Se foi construída uma passarela, só sendo muito teimoso para não usar", comenta Sergiomar.

Intenso fluxo

A primeira passarela foi concluída pela Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) no quilômetro 25 da RS-239, a um custo de R$ 1.164.714,16, interligando os bairros Oeste e Vila Irma. Uma segunda está sendo construída no quilômetro 29, próximo às lombadas eletrônicas e a um ponto onde há intenso fluxo de pedestres e veículos. Orçada em R$ 1 milhão, está prevista para ficar pronta em outubro próximo.

 

Alerta sobre segurança

Deixar de usar a passarela é falta de educação e de amor próprio, opina o presidente da Associação dos Moradores do Bairro Oeste, Paulo Rogério Castilhos da Rosa. Foram diversas manifestações e reivindicações nos últimos 5 anos até obter a conquista. "Não adianta tentar ganhar dois minutos e perder a vida. As pessoas deveriam pensar na dor dos familiares que já perderam seus entes. Dois amigos meus já morreram atropelados", pondera. Difícil encontrar alguém nas proximidades que já não presenciou pelo menos um acidente. "Testemunhei duas mortes", observa o benzedor Alivino Bressan, 57. Conclusão: para proteger quem é imprudente, não há reza que chega.

"O povo é incrível: quando não tem, reclama. Quando tem, não usa"

O medo constante de ser atropelada agora deu lugar à tranquilidade, com direito a curtir uma vista panorâmica da estrada. A servidora pública Flávia Denise Santos Nunes, 43, está no grupo dos que usam a passarela - felizmente, são a maioria. São quatro travessias diárias, entre idas e vindas da sua casa, no bairro Oeste, até a Escola Leopoldo Sefrin, na Vila Irma. "O povo é incrível: quando não tem, reclama. Quando tem, não usa. Ou seja: é mais fácil reclamar", comenta.

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