Pulverização com agrotóxico causa prejuízo para produtores de produtos orgânicos em Nova Santa Rita

"Todo ano é igual", desabafa Joice Sarmento dos Santos. "Chega nesta época de estiagem, os aviões sobrevoam as plantações de arroz. Quem vive em Nova Santa Rita está acostumado com isso, porque os aviões voam baixinho", continua. "Só que o prejuízo nunca tinha sido tão grande", suspira o agricultor de 54 anos.

Santos integra as cerca de 20 famílias do Assentamento Santa Rita de Cássia 2, que tiveram perdas nas lavouras de plantio orgânico devido à pulverização aérea com agrotóxico feita em área próxima. Os voos aconteceram nos dias 11 e 12 de novembro e resultaram em estragos consideráveis, em hortaliças, pomares de árvores frutíferas e até na vegetação nativa. Além disso, algumas pessoas se queixaram de enjoo e dor de cabeça, sintomas relacionados à intoxicação. "Acho que alguma coisa teria que ser feita, porque esta situação chegou a um patamar insustentável", reclama o agricultor. "Já teve muita gente que ficou doente em Nova Santa Rita por causa de agrotóxicos que irrigam lavouras."

Os próprios agricultores do Assentamento Santa Rita de Cássia 2 avistaram uma aeronave de aplicação de insumos para a agricultura convencional fazendo retorno em cima das áreas de moradia e de produção orgânica. O assentamento faz divisa com uma granja que faz justamente o plantio de arroz convencional e que, sabidamente, utiliza a pulverização com agrotóxico em suas lavouras.

Os prejuízos nos plantios orgânicos foram verificados logo após a passagem do avião, como folhas queimadas e variedades que morreram por completo. Um laudo técnico foi solicitado no dia 18 de novembro. Além da confirmação visual dada por técnicos, amostras foram encaminhadas para análise em laboratório e devem ficar pronta em 30 dias. "A gente está correndo atrás do prejuízo, porque ele não foi pequeno. Teve agricultores que perderam tudo que plantaram", aponta Santos. "Tomate, salsa, abóboras. Tudo queimado. Tudo perdido", aponta o trabalhador, que conclui, dizendo ter ficado ele mesmo impossibilitado de comercializar qualquer produto que foi cultivado. "Não dá para levar para ser vendido em Canoas ou Porto Alegre."

Polícia Civil já começou investigação

As famílias atingidas registraram boletim de ocorrência junto à Polícia Civil. Conforme o responsável pela Delegacia de Polícia (DP) de Nova Santa Rita, o delegado Mario Souza, uma investigação já foi instaurada. O delegado informou que em primeiro lugar, a polícia quer fazer a estimativa de danos causados tanto à saúde da população, além do prejuízo financeiro. Para isso, será necessário encaminhar perícias técnicas, razão pelo qual Souza diz ter demorado demais para que a polícia fosse informada. "A investigação começou somente agora, justamente porque a Polícia Civil recém foi informada do que aconteceu", adverte. "O caso é grave e deveria ter sido denunciado antes", avaliou. Em um segundo momento, os policiais vão atrás tanto da aeronave e do piloto responsável pelos tais "voos rasantes" sobre as moradias em Santa Rita. "A investigação foi instaurada e vamos apurar o que está acontecendo, porém é um trabalho que não é simples. Necessitamos de perícias e vamos fazer diligências nos próximos dias para ouvir as vítimas. Vamos atrás dos culpados", avisa.

Prefeitura se manifesta

Em decorrência dos sintomas de intoxicação relatados por algumas pessoas, o caso também foi denunciado junto a Prefeitura Municipal de Nova Santa Rita. De acordo com o secretário Municipal de Agricultura da administração municipal, Altair Norback, a situação já é de conhecimento da administração municipal, que está atuando junto com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente e Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) para avaliar todas as circunstâncias do ocorrido. Entre as medidas, está marcada para amanhã uma reunião com as famílias para avaliação de possíveis danos e demandas as serem acolhidas. Também haverá uma reunião posterior com proprietários de áreas lindeiras às famílias para também dialogar sobre o ocorrido.