'Perdi um filho maravilhoso', afirma pai de autônomo morto em Ivoti

São obscuras as circunstâncias do primeiro homicídio em Ivoti após mais de dois anos. Conforme testemunhas, o vendedor autônomo Gilson Santos de Souza, 47 anos, avistou um invasor na casa dos fundos onde mora, no bairro Morada do Sol, e saiu correndo atrás do homem, na tarde de sábado. Na frente da propriedade, na Rua Arthur Fritsch, Souza levou dois tiros - um na testa e outro no peito. Caiu morto na calçada. A Polícia Civil apura se foi o homem que entrou na casa da vítima quem disparou ou se os tiros partiram da arma do comparsa que aguardava no carro, um Corsa cinza, usado na fuga.

Eram aproximadamente 16 horas. Souza estava com fogão aceso para preparo dos pepinos em conserva que vendia. Assistia televisão. A Polícia ainda não sabe se ele conhecia o homem que repentinamente apareceu na casa. De acordo com uma testemunha, o invasor teria chamado Souza pelo nome.

Foram poucos segundos entre a correria pelo pátio até os disparos. O matador atirou oito vezes. É o número de cápsulas de pistola calibre 380 recolhidas pelos peritos. A área foi isolada pela perícia, rodeada de moradores atônitos com o episódio incomum de violência no bairro. Souza morava sozinho em peça alugada. Era solteiro e não tinha filhos. Natural de Santa Rosa, foi com a família para Novo Hamburgo aos nove anos de idade e mudou-se para Ivoti há dez anos, quando cumpria pena no semiaberto por tráfico de drogas.

'Meu filho já tinha pago o que devia à Justiça'

O autônomo foi enterrado na tarde de domingo (29), no Cemitério Municipal de Novo Hamburgo. "Perdi um filho maravilhoso, sempre disposto a ajudar", declarou o pai, o industriário aposentado Raul Pereira de Souza, 69, morador do bairro Petrópolis, em Novo Hamburgo. Ele frisa que o filho estava feliz, progredindo no trabalho, e que as prisões eram situações do passado. "Meu filho já tinha pago o que devia à Justiça." Segundo a Polícia, ele tinha ainda antecedentes por furtos de veículos e extorsão.

Entrevista:

Seu filho era suspeito de furtos de veículos?
Raul Pereira Souza - Não acredito. Garanto que não fazia essas coisas. Já tinha entrado por tráfico e um homicídio, mas no homicídio foi absolvido porque foi provada legítima defesa e, no tráfico, já tinha cumprido a pena. Ele não devia mais nada à Justiça. Estava trabalhando de forma digna e muito feliz.

No que trabalhava?
Souza - As vendas das conservas estavam indo muito bem. Ele também comprava carros e motos em leilão para revender. Também anunciava coisas para vender, como joias. Esse alguém pode ter ido lá para roubar. Se tivesse ido lá para matar, teria atirado já dentro da casa. E não corrido para atirar só lá fora

Como recebeu a notícia?
Souza - Uma vizinha de lá ligou para a ex-mulher do meu filho, que telefonou para minha nora, que me ligou e veio aqui me contar. Foi difícil acreditar. Na terça-feira, dia 24, eu estava de aniversário. Fomos a um restaurante jantar. Na sexta me ligou para perguntar onde se vende caixas plásticas para colocar os vidros de conserva. Passou aqui de tarde, feliz, contente, que estava fazendo estoque dos produtos. Fez curso para isso. Um guri bom, querido por todos.

 

Agentes estão atrás de imagens

Segundo a delegada de Ivoti, Michele Arigony, não há suspeitos e o motivo ainda é desconhecido. "Estamos investigando", resume. Os policiais estão atrás de câmeras de residências e estabelecimentos comerciais no possível trajeto de fuga.

 

Morte anteriorno mesmo bairro

O último homicídio em Ivoti tinha ocorrido em junho de 2018, também no bairro Morada do Sol. O corpo de Eloi Alfredo Werlang, 22, foi encontrado decapitado, em matagal na Rua Taquari, após seis dias desaparecido.