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Notícias | Região Matemática que preocupa

Projeção para o fim do ano aponta que superlotação nas UTIs da região pode ficar pior

Modelos preveem ocupação de até 144% em janeiro se medidas mais restritivas para conter o avanço da pandemia não forem tomadas. Pesquisador da Feevale alerta sobre reuniões no Natal e ano-novo

Por Ermilo Drews
Publicado em: 08.12.2020 às 07:00 Última atualização: 08.12.2020 às 20:21

Estado deve instalar 113 novos leitos de UTI ainda neste mês Foto: Divulgação SES
Desde a semana passada, Unidades de Terapia Intensiva (UTI) de hospitais na região estão superlotadas - ontem, a taxa de ocupação, por exemplo, estava em 111% nas primeiras horas do dia. E projeção matemática feita pelo mestrado em Virologia da Universidade Feevale mostra que a situação tende a piorar se não forem tomadas medidas adicionais para conter o avanço da pandemia. Em um cenário mais pessimista, a ocupação nas UTIs estaria em 137% no Natal, por exemplo, enquanto o número de casos novos na região em 4.697 naquela semana. Na primeira semana de janeiro, estes números saltariam para 144% e 5.394, respectivamente. O estudo foi feito sob a coordenação do professor Fernando Spilki, com o apoio do epidemiologista Eduardo de Freitas Costa.

Spilki explica que a simulação foi realizada a partir de dados da pandemia na região até a última sexta-feira. “São avaliadas as séries históricas de dados registrados para a Covid-19 desde o princípio da pandemia na região e o doutor Eduardo Costa, epidemiologista que colabora conosco, utiliza modelos matemáticos para estabelecer previsões para o período das próximas semanas”, explica. O cálculo projeta três cenários: um pessimista, um otimista e um médio. Qualquer um dos modelos prevê o que acontece se não for tomada nenhuma medida mais restritiva, além do que já está sendo feito. E mesmo no cenário otimista, o Vale do Sinos teria superlotação na UTI a partir de 18 de dezembro e dos demais leitos Covid a partir de 25 de dezembro.

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“Estamos vivendo o momento mais crítico, chegamos nas duas últimas semanas ao maior número de casos desde o princípio da pandemia e nesta última semana ao pico de ocupação das UTIs e do número de óbitos registrados na região. É uma nova onda que se eleva sobre um mar que já vinha agitado”, analisa Spilki. Para o virologista, precisam ser repensadas reuniões e comemorações de Natal e ano-novo. “A própria predição não inclui o agravamento que pode ser causado por esse tipo de evento”, alerta.

113 novos leitos de UTI ainda em dezembro

Para reforçar a estrutura de saúde dos hospitais gaúchos, 113 vagas de UTIs devem entrar em funcionamento no Estado ainda em dezembro - ainda não foram divulgadas em quais hospitais. Desde o começo da pandemia, o governo do Estado ampliou em 102% o número de leitos de terapia intensiva. Em março deste ano, a rede hospitalar gaúcha contava com 933 leitos de UTI Adulto. Desde então, este número foi ampliado com 951 novas vagas, chegando a 1.884 leitos na rede pública hospitalar.

A secretária estadual da Saúde, Arita Bergmann, destaca ainda a compra de conjuntos de 230 respiradores e monitores por meio de pregão eletrônico, no valor de R$ 17 milhões, além de 853 desses equipamentos via Ministério da Saúde e do conserto e doação de outros 201 por meio da iniciativa privada.

Normalidade sem controle da pandemia levou ao crescimento dos casos

O virologista admite que a campanha eleitoral pode ter contribuído para o aumento de novos casos nas últimas semanas, mas não condiciona o atual cenário a apenas isso. “Nós temos acompanhado também os índices de mobilidade e hoje se pode constatar que na região os níveis de permanência no domicílio são cada vez mais baixos, os níveis de comparecimento presencial aos locais de trabalho na normalidade, idas ao comércio em nível igual ou até superior ao normal, atividades em ambientes de lazer muito próximas do normal há semanas. Tudo isso sem nunca termos vivido um momento de total controle sobre a pandemia.”

Spilki e Costa acreditam que as medidas de restrições adotadas no momento, como redução nos horários de funcionamento de restaurantes e comércio, têm potencial limitado de conter a propagação da doença dado ao ritmo de expansão atual. “Considerando que o ritmo de expansão agora é inédito, talvez tenhamos de nos deparar com medidas mais restritivas no curto prazo”, admite Costa.

Restrições do Estado e fiscalização da Prefeitura

fiscalização em NH Foto: Lu Freitas/PMNH
Com a suspensão temporária da cogestão no modelo de Distanciamento Controlado, as restrições que vigoram atualmente foram definidas pelo governo do Estado, mas prefeituras têm se mobilizado para evitar aglomerações e conscientizar a população. É o caso da Prefeitura de Novo Hamburgo, que tem realizado fiscalizações integradas com órgãos de segurança. “Estas ações estão impedindo a realização de festas clandestinas e a aglomeração de pessoas. Oito estabelecimentos comerciais já foram interditados, como bares, complexos esportivos e casas”, informa a Administração Municipal, em nota.

Na área da saúde, a Prefeitura frisa que aumentou o número de profissionais para o atendimento. “Importante ressaltar que o município tem feito todo um esforço para garantir o atendimento à população, no entanto, a estrutura é finita, tanto na rede pública, quanto na rede privada, o que remete a necessidade de que toda a sociedade colaborar, e se responsabilize para que todos juntos possamos minimizar o avanço da doença”, apela.

Na segunda-feira, a taxa de ocupação nas UTIs de Novo Hamburgo estava em 108,1%; de São Leopoldo, 118,8%; de Sapiranga, em 116,7%; e de Campo Bom, 60%.

Apoio científico e gestão eficiente são fundamentais no controle

Morando atualmente na Holanda, mas com familiares no Estado, Costa considera que o poder público no Estado lidou bem com a pandemia nos primeiros meses, mas faltou engajamento tanto por gestores, quanto pela sociedade. “Aqui na Holanda, as medidas foram graduais, de forma mais reativa aos acontecimentos. O que me chamou a atenção foi a mobilização para realização de testes. Número alto de testes e resultados rápidos somado a relatórios extremamente transparentes semanais. Ainda, eles tiveram o cuidado de não deixar o sistema de saúde colapsar. Neste momento, a taxa média de ocupação em UTIs é de cerca de 50%”, compara.

No entanto, admite que não há um enfrentamento homogêneo da pandemia dentro da Europa e há muitos exemplos a não serem seguidos no continente. “Os países que tiveram melhores êxitos no enfrentamento se destacaram por alto nível técnico, intenso apoio técnico-científico e capacidade de organização e gestão pública. As lições não são novidade. É preciso ter capacidade de suporte científico e de gestão”, avalia o epidemiologista.

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