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Notícias | Região Governo quer vender

Articulação em Brasília tenta barrar privatização da Trensurb

Leilão da empresa está previsto para este ano pelo governo federal. Sindicato dos Metroviários do RS se articula com outras entidades e parlamentares para criar resistência ao processo de venda da estatal

Por Ermilo Drews
Publicado em: 04.03.2021 às 07:00

Foto por: Divulgação
Descrição da foto: Queda no número de passageiros por causa da pandemia fez receita própria cair ainda mais
Incluída na lista prioritária de privatizações da União, a Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb) deve ser leiloada ainda neste ano. Isso se os planos do governo federal prosperarem. O Sindicato dos Metroviários do Rio Grande do Sul (Sindimetrô RS) cogita via judicial e tenta por meio de pressão política impedir o leilão da estatal, previsto para acontecer no quarto trimestre do ano.

No último dia 23, o governo federal deu sequência ao plano de privatizações, ao entregar ao Congresso Nacional a medida provisória que abre caminho para a venda da Eletrobras, maior empresa de energia elétrica da América Latina. Ela é uma das nove estatais federais cuja meta do governo é vendê-las ainda em 2021. Outras duas na fila das privatizações são empresas públicas de trens metropolitanos - a Trensurb, que atua na região metropolitana de Porto Alegre, e a Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), presente em Belo Horizonte, Recife, Natal, João Pessoa e Maceió.

A previsão do governo é que a publicação do edital de leilão da Trensurb ocorra no primeiro semestre de 2021 e a venda seja concretizada no segundo semestre do mesmo ano. O argumento do governo Bolsonaro para se desfazer da Trensurb e outras empresas públicas é econômico. De acordo com dados do Tesouro, a conta para bancar as estatais que dependem de recursos público para sobreviver ultrapassou R$ 20 bilhões no ano passado.

No caso específico da estatal gaúcha, as subvenções recebidas em 2019 somam mais de R$ 252 milhões. No ano passado, a cifra ficou em R$ 132,9 milhões. O dinheiro foi usado na maior parte para pagamento de pessoal e sentenças judiciais. E a pandemia acentuou a perda de receita própria. O número de passageiros caiu de 48 milhões para 24,3 milhões entre 2019 e o ano passado. O faturamento com venda de passagens despencou de R$ 172,7 milhões para R$ 93,2 milhões no mesmo período.

No entanto, o Sindimetrô discorda dos argumentos do governo. "Nenhum metrô do mundo é feito para dar lucro, todos eles são subsidiados pelo Estado. Muitos deles foram privatizados nos anos 80 e foram reestatizados anos depois. No Brasil, o único metrô totalmente privado é o do Rio de Janeiro, que é o mais caro e considerado o pior serviço do País", critica o presidente do Sindimetrô, Luís Henrique Chagas.

Num passado recente, o Sindimetrô conseguiu vitórias parciais na Justiça em relação ao processo de privatização da Trensurb e analisa nova ação judicial relacionada ao futuro edital.

Contudo, a principal aposta é política. "Estamos formando a Frente Parlamentar em Defesa do Transporte Público Estatal sobre Trilhos no Congresso Nacional e na Assembleia Legislativa. A ideia é conseguir apoio dos parlamentares e pressionar o governo federal para que não venda o patrimônio nacional", explica Chagas.

As estatais que estão na lista de privatizações

Eletrobras, Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias, Empresa Gestora de Ativos (Engea), CeasaMinas, Empresa de Trens Urbanos de Porto Alegre (Trensurb), Companhia Brasileira de Trens Urbanos de Minas Gerais (CBTU-MG), Correios, Companhia Docas do Espírito Santo (Codesa) e Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep) são as nove estatais na lista de prioridades do governo federal para serem privatizadas.

Segundo o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), responsável pelos estudos de privatização, a previsão de conclusão das análises para a venda da Trensurb é junho de 2021. Ainda não foi definida a data para o leilão.

Equalizar a tarifa ao que se pode pagar

A direção da Trensurb não quis se manifestar sobre o processo de privatização da empresa.

No final do ano passado, quando anunciou os investimentos nas estações, o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, destacou as medidas de economia e gestão da estatal e afirmou que devido à complexidade e o custo de operação de sistemas metroferroviários era usual que houvesse subsídios ao setor. No entanto, considerava possível agregar receita e equalizar a tarifa àquilo que a população pode pagar por meio de parcerias e da exploração do potencial imobiliário.

Apesar de querer vender, governo liberou R$ 7,6 milhões para obras

Apesar de querer vender a Trensurb, o governo federal anunciou investimento de R$ 7,6 milhões no final do ano passado na recuperação de 12 estações, além de passarelas e terminais de integração de cinco delas. O recurso virá via Ministério do Desenvolvimento Regional.

Os serviços de reformas nas estações foram licitados em três lotes, todos eles arrematados pela empresa Construtec MS pelo valor total de R$ 6,1 milhões. O lote 1 inclui as estações Mercado, São Pedro, Aeroporto e Ancheita, em Porto Alegre; Niterói e Fátima, em Canoas. As reformas nestas estações devem ser concluídas até 11 de setembro.

O segundo lote é integrado pelas estações São Luís, Petrobras, Luiz Pasteur, em Canoas, e Sapucaia, em Sapucaia do Sul. O prazo de conclusão é 11 de agosto.

O terceiro lote é formado pelas estações Unisinos e São Leopoldo, em São Leopoldo, e deve ter obras concluídas em 11 de junho.

Outra licitação prevê a reforma de passarelas e terminais de integração nas estações Niterói, Fátima, Mathias Velho, Esteio e Sapucaia. O valor estimado dos serviços é de R$ 1,5 milhão, com prazo de execução até 18 de abril.

De acordo com a Trensurb, no momento, os trabalhos estão focados no corte do piso das plataformas para instalação de piso podotátil. O próximo passo será iniciar a instalação do piso podotátil em algumas estações. Na segunda quinzena de março, as obras serão nos sanitários. A instalação dos elevadores deve iniciar até julho.

Passagem segue sem previsão de reajuste

A Trensurb opera uma linha de trens urbanos com extensão de 43,8 quilômetros, no eixo norte da região metropolitana de Porto Alegre, atendendo a seis cidades: Porto Alegre, Canoas, Esteio, Sapucaia do Sul, São Leopoldo e Novo Hamburgo. A tarifa, que até 2017 era de R$ 1,70, chegou a R$ 4,20 em março de 2019. No momento, não há previsão de reajuste.


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