Motoboy há oito anos, Alex Sandro Cassel, 32, é testemunha da nova realidade que a categoria tem vivenciado com a chegada da pandemia. Embora trabalhe em um restaurante, com carteira assinada e salário fixo, é categórico ao afirmar que não alcança a renda de 2015, por exemplo, quando era seu próprio "patrão", porque agora há mais mão de obra na rua.
O presidente do Sindicato dos Motociclistas Profissionais do Rio Grande do Sul. (Sindimoto/RS), Valter Ferreira, explica que a pandemia trouxe um acréscimo de 40% nos serviços de tele-entrega, resultando em duas consequências: um inchaço na oferta de mão de obra e queda no rendimento.
Necessidade maior
Ferreira diz que a oferta de mão de obra continua crescente, comportamento gerado pela necessidade dos gaúchos buscarem uma nova colocação diante da perda de empregos anteriores. Com indenizações em mãos, muitos compram moto para trabalhar, apostando no menor consumo de combustível.
O dirigente ressalta que agora há motoboys que iniciam às seis horas da manhã e vão até meia-noite, tentando fazer mais entregas na tentativa de chegar próximo do que ganhavam. No entanto, sustenta Ferreira, isso é perigoso. Os que não têm muita prática sobre a moto se expõem mais aos riscos. E depois de 12 horas de trabalho, os reflexos não são os mesmos.
Ferreira menciona que o aumento de motoboys veio de vários fatores. Havia, por exemplo, motoristas de aplicativo que, em vista da redução de demanda de passageiros na pandemia, deixaram de alugar carros e passaram para o sistema de entrega/delivery usando moto. Mas ele comenta que outros profissionais desempregados buscaram colocação como motoboys.
"A pandemia ceifou vários postos de trabalho, desempregou muita gente, muitos pais de família, inclusive jovens, os que estavam iniciando as suas carreiras no comércio, na indústria, principalmente entre 20 e 30 anos sofreram com demissões", frisa. "É questão de oportunidade, é questão de perda. O que sobrou foi isso e ainda continua, porque na bandeira preta, tudo se faz por delivery. A pessoa vai buscar complementação de renda", acrescenta o presidente do Sindimoto/RS.
O presidente do Sindimoto/RS salienta que o crescimento na oferta de mão de obra resultou em uma avalanche de pessoas despreparadas. "Essas pessoas são oriundas de outros setores da economia e, muitas vezes, usavam suas motocicletas para se deslocar de casa/trabalho e vice-versa. Quando ficam na rua, a trabalho, sem preparo, sem qualquer conhecimento técnico sobre o veículo, há exposição aos riscos", sublinha Ferreira.
Desabafo
"Todo mundo querendo morder o serviço e reduzindo preço." O desabafo é do motoboy Alex Sandro Cassel, que deixou de trabalhar por conta há um ano e meio, pouco antes da pandemia, diante do aumento da concorrência. "O meu ganho não estava mais cobrindo o custo", relata ele, que, assim como outros, já foi vítima de acidente de trânsito, do qual carrega a marca no braço. Ele também anda com um rosário, na busca de proteção no trabalho.
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