O que começou como sintomas de rinite alérgica se confirmou Covid-19, logo exigiu internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e intubação. Grávida do segundo filho, a quiropraxista Bruna Spadotto, 31 anos, se contaminou com o coronavírus no final de fevereiro, na 22ª semana de gestação, apesar de todos os cuidados. Moradora de Sapiranga, no Vale do Sinos, ela viu a doença evoluir rapidamente, mesmo sem comorbidades. "Foram 24 dias no hospital, cinco deles na enfermaria e 19 na UTI, sendo seis deles entubada", resume.
Após todo este processo, Bruna recebeu alta, mas ainda luta contra as sequelas da Covid-19. "Recebi alta ainda dependente de oxigênio. Em casa, tive sessões de fisioterapia para reabilitar meu físico, fortalecer meu pulmão e conseguir 'desmamar' do oxigênio. Tive sessões de fonoaudiologia para recuperar a minha voz, que não voltou logo que eu saí do tubo. Isso tudo levou umas três, quatro semanas."
Apesar de todo este processo, ela e o bebê Ravi, com parto previsto para o final de junho, evoluem bem. "Estou cada dia melhor, cada vez uso menos oxigênio em casa e cada dia me sinto mais forte e pronta pra voltar à rotina. O Ravi está perfeito e segue em cuidados da minha obstetra. O crescimento dele 'estacionou' por duas semanas, mas já tiramos o atraso."
A situação enfrentada por Bruna não é exclusividade. Coordenadora de um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o impacto da Covid-19 na gestação, a professora da Unicamp Maria Laura Costa do Nascimento explica que já é consenso que as gestantes fazem parte do grupo de risco para a doença, ou seja, que a gestação aumenta as chances de a mulher desenvolver um quadro grave da doença e precisar de terapia intensiva, o que costuma acontecer principalmente no terceiro trimestre da gravidez.
"É também aumentado o risco, em gestantes infectadas, de partos prematuros ou de indicação de cesárea, o que vale principalmente para os casos graves. Já complicações como a pré-eclâmpsia (pressão arterial aumentada durante a gestação) ainda são objeto de debate entre cientistas, embora existam indícios de que o coronavírus ajuda a desencadear respostas semelhantes às da pré-eclâmpsia em sua forma grave", afirma.
"Ao se comparar casos assintomáticos, 7% delas tiveram exame positivo para Covid em janeiro. Em março, foram 15%. A impressão que temos é que em março teve mais gestante com a doença do que em todo 2020."
Janete explica que gestantes obesas, diabéticas e hipertensas correm mais risco de apresentarem quadros graves de Covid-19 do que de grávidas saudáveis. "Isso pode alterar o ritmo de crescimento do bebê e ele nascer prematuro. O parto ainda pode ser antecipado pela própria condição de saúde da mãe, para permitir o melhor tratamento para ela", justifica. Por isso, ela recomenda: "Os cuidados sanitários das mães e da família devem ser redobrados."
Apesar dos riscos que correm, há boas notícias para as gestantes. Os pesquisadores já sabem que a infecção pelo coronavírus não parece estar associada a um perigo aumentado de malformação fetal, e também que a transmissão da doença da mãe para o bebê, a chamada transmissão vertical, se mostrou um evento possível, porém raro e geralmente sem gravidade para a criança.
Também já foi constatada a segurança para a amamentação. A orientação é que o pré-natal esteja em dia, se reforce os cuidados preventivos e se busque atendimento médico se surgir qualquer sintoma.
A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomenda que para gestantes e lactantes pertencentes ao grupo de risco, a vacinação poderá ser realizada após avaliação dos riscos e benefícios em decisão compartilhada entre a mulher e seu médico.
A mais recente nota técnica do Ministério da Saúde sobre o assunto aponta que, até o momento, não há contraindicação especificamente relatada que impeça a imunização de gestantes, puérperas e lactantes com as vacinas Covid-19 em uso no Brasil.
O Ministério da Saúde recomenda que seja realizada a vacinação em gestantes que tenham alguma comorbidade preexistente, como descreve o Plano Nacional de Imunização (PNI), e informa que a vacina pode ser oferecida a grávidas sem comorbidades após avaliação dos riscos e benefícios, principalmente em relação às atividades desenvolvidas pela mulher.
Atualmente, o PNI coloca gestantes com comorbidades nos grupos prioritários. Nesta semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, cogitou incluir toda a gestante entre os prioritários. No entanto, isso ainda está em discussão.
Em casos de sintomas, o Ministério da Saúde recomenda que o médico indique isolamento domiciliar e forneça atestado à gestante. No caso de grávidas assintomáticas, considerando que qualquer infecção grave pode comprometer a evolução da gravidez e aumentar o risco de prematuridade, o Ministério da Saúde recomenda que elas sejam poupadas do contato direto com pessoas no período de livre circulação do vírus no País.
A sugestão é que a grávida troque de função ou faça o trabalho remoto ou, se essas opções não forem viáveis, ocorra o afastamento. Porém, não há uma lei federal que obrigue o afastamento de gestante do trabalho (na esfera privada) em tempos de pandemia, salvo nas hipóteses de casos confirmados ou suspeitos.
Em Novo Hamburgo, onde o Hospital Municipal realiza testes para detecção da Covid a partir de 37 semanas de gestação, conforme determinação do Ministério da Saúde, de 53 testagens neste ano, 18 foram positivas, média de uma confirmação a cada três exames.
Não houve, na casa de saúde hamburguense, casos de gestantes entubadas que fossem moradoras de Novo Hamburgo - apenas uma única transferência via Gerenciamento de Internações (Gerint) pela Regulação do Estado.