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Notícias | Região Gravidez na pandemia

Gestação aumenta chances de mulher desenvolver quadro grave da Covid

Crescimento dos casos em março expôs ainda mais grávidas. Algumas tiveram quadros graves de Covid-19

Por Ermilo Drews
Publicado em: 24.04.2021 às 08:00

O que começou como sintomas de rinite alérgica se confirmou Covid-19, logo exigiu internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) e intubação. Grávida do segundo filho, a quiropraxista Bruna Spadotto, 31 anos, se contaminou com o coronavírus no final de fevereiro, na 22ª semana de gestação, apesar de todos os cuidados. Moradora de Sapiranga, no Vale do Sinos, ela viu a doença evoluir rapidamente, mesmo sem comorbidades. "Foram 24 dias no hospital, cinco deles na enfermaria e 19 na UTI, sendo seis deles entubada", resume.

Depois de ficar internada quase um mês no hospital, Bruna demonstra alívio e espera Ravi para o final de junho Foto: Arquivo Pessoal
Após todo este processo, Bruna recebeu alta, mas ainda luta contra as sequelas da Covid-19. "Recebi alta ainda dependente de oxigênio. Em casa, tive sessões de fisioterapia para reabilitar meu físico, fortalecer meu pulmão e conseguir 'desmamar' do oxigênio. Tive sessões de fonoaudiologia para recuperar a minha voz, que não voltou logo que eu saí do tubo. Isso tudo levou umas três, quatro semanas."

Apesar de todo este processo, ela e o bebê Ravi, com parto previsto para o final de junho, evoluem bem. "Estou cada dia melhor, cada vez uso menos oxigênio em casa e cada dia me sinto mais forte e pronta pra voltar à rotina. O Ravi está perfeito e segue em cuidados da minha obstetra. O crescimento dele 'estacionou' por duas semanas, mas já tiramos o atraso."

A situação enfrentada por Bruna não é exclusividade. Coordenadora de um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre o impacto da Covid-19 na gestação, a professora da Unicamp Maria Laura Costa do Nascimento explica que já é consenso que as gestantes fazem parte do grupo de risco para a doença, ou seja, que a gestação aumenta as chances de a mulher desenvolver um quadro grave da doença e precisar de terapia intensiva, o que costuma acontecer principalmente no terceiro trimestre da gravidez.

"É também aumentado o risco, em gestantes infectadas, de partos prematuros ou de indicação de cesárea, o que vale principalmente para os casos graves. Já complicações como a pré-eclâmpsia (pressão arterial aumentada durante a gestação) ainda são objeto de debate entre cientistas, embora existam indícios de que o coronavírus ajuda a desencadear respostas semelhantes às da pré-eclâmpsia em sua forma grave", afirma.

Membro da Associação de Obstetrícia e Ginecologia do Rio Grande do Sul (Sogirgs), a médica Janete Vettorazzi frisa que o aumento exponencial de casos da doença no Estado em março também atingiu as gestantes. No Hospital de Clínicas, em Porto Alegre, onde ela trabalha, foram quatro casos com suspeita em março do ano passado e nenhum confirmado, contra 18 suspeitos no mês passado, sendo 13 confirmados.

"Ao se comparar casos assintomáticos, 7% delas tiveram exame positivo para Covid em janeiro. Em março, foram 15%. A impressão que temos é que em março teve mais gestante com a doença do que em todo 2020."

Janete explica que gestantes obesas, diabéticas e hipertensas correm mais risco de apresentarem quadros graves de Covid-19 do que de grávidas saudáveis. "Isso pode alterar o ritmo de crescimento do bebê e ele nascer prematuro. O parto ainda pode ser antecipado pela própria condição de saúde da mãe, para permitir o melhor tratamento para ela", justifica. Por isso, ela recomenda: "Os cuidados sanitários das mães e da família devem ser redobrados."

Estudos não apontam risco de malformação

Apesar dos riscos que correm, há boas notícias para as gestantes. Os pesquisadores já sabem que a infecção pelo coronavírus não parece estar associada a um perigo aumentado de malformação fetal, e também que a transmissão da doença da mãe para o bebê, a chamada transmissão vertical, se mostrou um evento possível, porém raro e geralmente sem gravidade para a criança.

Também já foi constatada a segurança para a amamentação. A orientação é que o pré-natal esteja em dia, se reforce os cuidados preventivos e se busque atendimento médico se surgir qualquer sintoma.

Vacinação é segura?

A Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) recomenda que para gestantes e lactantes pertencentes ao grupo de risco, a vacinação poderá ser realizada após avaliação dos riscos e benefícios em decisão compartilhada entre a mulher e seu médico.

Vacinas contra Covid não forma testadas em gestantes Foto: Matheus Chaparini/GES-Especial
"A segurança e eficácia das vacinas não foram avaliadas em gestantes e lactantes, no entanto, estudos em animais não demonstraram risco de malformações", informa. "As vacinas não são de vírus vivos e têm tecnologia conhecida e usada em outras vacinas que já fazem parte do calendário das gestantes como as vacinas do tétano, coqueluche e influenza", complementa.

A mais recente nota técnica do Ministério da Saúde sobre o assunto aponta que, até o momento, não há contraindicação especificamente relatada que impeça a imunização de gestantes, puérperas e lactantes com as vacinas Covid-19 em uso no Brasil.

O Ministério da Saúde recomenda que seja realizada a vacinação em gestantes que tenham alguma comorbidade preexistente, como descreve o Plano Nacional de Imunização (PNI), e informa que a vacina pode ser oferecida a grávidas sem comorbidades após avaliação dos riscos e benefícios, principalmente em relação às atividades desenvolvidas pela mulher.

Atualmente, o PNI coloca gestantes com comorbidades nos grupos prioritários. Nesta semana, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, cogitou incluir toda a gestante entre os prioritários. No entanto, isso ainda está em discussão.

Orientações para grávidas no trabalho

Em casos de sintomas, o Ministério da Saúde recomenda que o médico indique isolamento domiciliar e forneça atestado à gestante. No caso de grávidas assintomáticas, considerando que qualquer infecção grave pode comprometer a evolução da gravidez e aumentar o risco de prematuridade, o Ministério da Saúde recomenda que elas sejam poupadas do contato direto com pessoas no período de livre circulação do vírus no País.

A sugestão é que a grávida troque de função ou faça o trabalho remoto ou, se essas opções não forem viáveis, ocorra o afastamento. Porém, não há uma lei federal que obrigue o afastamento de gestante do trabalho (na esfera privada) em tempos de pandemia, salvo nas hipóteses de casos confirmados ou suspeitos.

A cada três testes, um deu positivo

Em Novo Hamburgo, onde o Hospital Municipal realiza testes para detecção da Covid a partir de 37 semanas de gestação, conforme determinação do Ministério da Saúde, de 53 testagens neste ano, 18 foram positivas, média de uma confirmação a cada três exames.

Não houve, na casa de saúde hamburguense, casos de gestantes entubadas que fossem moradoras de Novo Hamburgo - apenas uma única transferência via Gerenciamento de Internações (Gerint) pela Regulação do Estado.

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