A semana começou com um susto no Hospital Lauro Reus, em Campo Bom, depois que um alarme às 7h28 da segunda-feira tocou alertando para queda na pressão de oxigênio. A situação gerou tensão, porque há menos de três meses faltou oxigênio na UTI e Emergência do hospital, com consequências trágicas. Mas desta vez não houve vítimas.
De acordo com a Air Liquide, empresa responsável pelo fornecimento de oxigênio, a causa do alarme seria uma válvula que teria sido fechada incorretamente. A empresa alega ainda que as câmeras de monitoramento que ficam voltadas para o local estavam desligadas.
Por volta das 10h20 da manhã de ontem, a reportagem viu um caminhão da Air Liquide com cilindros em frente ao reservatório de oxigênio do hospital.
O vereador Celso da Silva (Republicanos), o Celsinho, conta que recebeu telefonema de um conhecido logo após o alarme e foi até o local. No hospital, a explicação que ouviu era de que o problema seria na parte interna.
"Assim que deu o problema fui chamado. O problema seria na rede que transmite o oxigênio dentro do hospital e houve, a princípio, uma queda de pressão na UTI, segundo informações que tivemos", diz o vereador.
O problema teria durado cerca de quatro minutos e a situação normalizada em seguida. Por volta das 10 horas, um funcionário do setor de manutenção do hospital, que não quis se identificar, afirmou que não houve instabilidade na pressão e que o problema teria sido no sensor eletrônico, que teria disparado um alerta sem motivo.
A prefeitura de Campo Bom notificou a direção do hospital Lauro Reus para que explique o que de fato ocorreu. A notificação é assinada pelo prefeito Luciano Orsi, o secretário de Saúde, João Paulo Berkembrock, e o procurador geral, Pedro Azevedo. A prefeitura pede que a direção do hospital se manifeste a respeito do ocorrido e eventuais consequências no prazo de 24 horas.
Nota oficial
Ontem à tarde a direção do Lauro Reus divulgou um comunicado sobre o incidente: "Sobre os fatos noticiados na manhã desta segunda-feira (7), não houve qualquer problema de desassistência a paciente ou falta de oxigênio nas unidades. Informa ainda que, até o presente momento (16h13), juntamente com a Assessoria Jurídica, está verificando as informações prestadas e divulgadas pela Air Liquide sobre o chamado, onde a empresa atendeu imediatamente à direção."
Suspeita de sabotagem
Diz a nota: "Somente e após verificar todas as circunstâncias (motivo do alarme, posição da válvula e funcionamento das câmeras de segurança) que envolvem o soar do alarme por 4 minutos, irá tomar as providências cabíveis. Conforme o que for apurado, caso haja suspeita de sabotagem na válvula, a direção deverá efetuar imediatamente registro de Boletim de Ocorrência Policial e possivelmente nova sindicância. O abastecimento segue normal, mas caso constatado novo problema técnico no equipamento a empresa será chamada a se explicar."
A Polícia Civil confirmou ontem à noite que foi registrada ocorrência por suspeita de sabotagem.
Técnicos da Air Liquide foram ontem até o hospital para verificar as causas do problema. De acordo com a empresa, o alerta soou porque a válvula do tanque de oxigênio teria sido fechada indevidamente e o abastecimento transferido para os cilindros de reserva. A empresa diz não saber o motivo do fechamento da válvula.
"O técnico da Air Liquide procedeu à reabertura da válvula e o abastecimento do Hospital voltou a ser feito pelo tanque de oxigênio. Foi feita ainda a reposição dos cilindros da central backup utilizados enquanto a mesma esteve acionada. Em nenhum momento o Hospital ficou sem oxigênio", diz nota.
O texto afirma ainda que as câmeras posicionadas diante do tanque de oxigênio não estão funcionando. A Air Liquide afirmou que a equipe de manutenção do hospital já foi treinada para responder a situações de emergência.
O hospital Lauro Reus, de Campo Bom, é o mesmo onde, em 19 de março, ocorreu falta de oxigênio e ao menos seis pacientes morreram - outras 15 mortes ainda estão sob investigação.
O episódio é investigado pela Polícia Civil, Ministério Público e por uma CPI instaurada na Câmara de Vereadores. A Polícia Civil está na iminência de concluir sua parte do inquérito sobre os acontecimentos de março.
No dia 22 de abril, a UTI ficou no escuro por quase uma hora, após faltar luz e o gerador não ser acionado automaticamente.
Providências
De acordo com o prefeito de Campo Bom, Luciano Orsi, após o episódio de março, a equipe de manutenção foi reforçada, bem como as checagens de controle. Foram feitas também melhorias nas redes elétrica e hidráulica.
A prefeitura licitou a reforma da subestação elétrica, que deve ser realizada em breve, e ainda contratou uma empresa para avaliar a viabilidade de instalar no local uma usina de oxigênio.
Pouco mais de dois meses após a morte de seis pacientes da UTI do Hospital Lauro Reus, em Campo Bom, a casa de saúde se vê no centro de quatro investigações da Polícia Civil.
Duas delas são inquéritos relacionados ao desabastecimento de 19 de março. O primeiro, que investiga as seis mortes de pacientes naquele dia, está em fase final e deve ser remetido à Justiça até o final da próxima semana. O segundo, que apura outros 15 óbitos que aconteceram posteriormente, mas que podem ter relação com o episódio, segue em andamento.
Os casos mais recentes são deste mês. Um terceiro inquérito foi aberto na semana passada, após famílias de três pacientes que morreram no hospital procurarem a Polícia. Já o susto da manhã de hoje está em apuração inicial que pode resultar em novo inquérito, já que o hospital chegou a registrar ocorrência por suspeita de sabotagem.