Publicidade
Botão de Assistente virtual
Notícias | Região EM DISCUSSÃO NO ESTADO

Dois anos de pandemia: será o início do fim das máscaras?

Desde 30 abril de 2020, população gaúcha precisou adquirir hábitos como uso do equipamento de proteção, que começa a ser flexibilizado aos poucos no RS

Por Débora Ertel
Publicado em: 12.03.2022 às 05:00 Última atualização: 12.03.2022 às 13:58

O que dá para fazer em dois anos? Conhecer o amor da vida, casar e ter filhos? Concluir a faculdade e conquistar o emprego dos sonhos? Construir a casa própria? Viajar ao redor do mundo? Nos últimos dois anos sonhos como esses se tornaram realidade para muita gente, mas em meio a um cenário até então nunca imaginado. Isolamento social, caos nos hospitais, crianças sem escola, crises de ansiedade. Também teve quem viveu um aperto danado com desemprego, crise econômica e doença na família.

Uso da máscara começa a ser flexibilizado no RS
Uso da máscara começa a ser flexibilizado no RS Foto: Adobe Stock

Nesta semana, em 10 de março, completaram-se dois anos que o Rio Grande do Sul teve seu primeiro caso de coronavírus confirmado. Era um morador de Campo Bom, com 60 anos, que havia viajado para o exterior. Um dia depois, em 11 de março de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou que o mundo vivia uma pandemia. O interessante é que o anúncio informava que essa condição se dava pela rápida contaminação da doença e não por sua gravidade. Na semana seguinte foram publicados os decretos de suspensão de atividades presenciais e desde então a vida mudou de vez.

Depois de mais de 730 dias de estado pandêmico, o planeta experimenta uma nova realidade e, no Brasil, uma das discussões predominante é o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras, em vigor desde 30 de abril de 2020 para os gaúchos. O pedido é fundamentado na diminuição de mortes, queda na contaminação e redução nas internações hospitalares por Covid-19. O Rio Grande do Sul já tem 80% da população com esquema completo contra o coronavírus. Lembrando que há um ano o governo anunciava que passaria a vacinar a faixa etária entre 75 e 79 anos.

Inclusive, o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, liberou o uso da proteção em espaços abertos na capital gaúcha nesta sexta-feira. Ele ainda anunciou que na próxima sexta-feira, a prefeitura porto-alegrense avaliará a flexibilização para ambientes fechados. O governo do Estado, que encomendou aos técnicos do governo e ao Comitê Científico um estudo para mudar de obrigação para recomendação o uso de máscara em ambientes ao ar livre, não se manifestou sobre o decreto de Melo até o fechamento da edição, apesar dos questionamentos feitos pela reportagem.

Outros municípios flexibilizam o uso de máscaras. São os casos de Carlos Barbosa, que desobrigou via decreto a proteção em ambientes abertos e fechados (exceto em estabelecimentos de saúde), e Vacaria, que facultou o uso da peça ao ar livre.

Prefeitos da Associação dos Municípios da Fronteira Noroeste (Amufron) também tornaram facultativo o uso de máscara facial. Entre os municípios que já aderiram à flexibilização estão Santa Rosa, Horizontina, Boa Vista do Buricá, Tucunduva, Três de Maio, Senador Salgado Filho, Santo Cristo, São José do Inhacorá, Porto Lucena, e Tuparendi.

A Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Sinos (Amvars) também solicitou ao governo do Estado que o uso das máscaras seja facultativo e não mais obrigatório.

Dentro deste cenário de transformação, ainda existe a expectativa da doença ganhar o status de endemia, reivindicação que já chegou à OMS de vários países.

"O caminho é esse, pois temos números constantes de casos sem grandes sobressaltos", avalia o virologista e professor da Feevale, Fernando Spilki. Mas o especialista alerta que o ideal para dar direção de estabilidade seriam os índices de dezembro, anteriores à variante Ômicron, que subiu a média. "Porque aí não teríamos tanto custo para o sistema de saúde de saúde", pondera.

A pandemia também trouxe mudanças que vieram para ficar e deixou marcas não tão positivas que precisam de tempo para serem compreendidas.

Gráfico coronavírus, dois anos de pandemia
Gráfico coronavírus, dois anos de pandemia Foto: Artes/GES

Home office passa a fazer parte da rotina de muitos trabalhadores

A analista de testes Bianca Martins Souza Prestes, 34 anos, moradora de Esteio, faz parte do time que encara uma nova rotina por causa da pandemia. Funcionária de uma empresa de tecnologia da informação desde 2018, agora não se desloca mais diariamente para São Leopoldo e nem deixa o filho Isaías Souza Prestes, 4 anos, o dia inteiro na escola. "Eu sempre sonhei que quando tivesse um emprego na TI poderia trabalhar de casa. Mas nunca imaginei que pudesse se concretizar", conta.

Bianca se adapta ao home office e aos cuidados com Isaías
Bianca se adapta ao home office e aos cuidados com Isaías Foto: Diego da Rosa/GES

Quando a pandemia chegou, a empresa de Bianca migrou seus funcionários para o home office e no ano passado posicionou-se no mercado como híbrida, permitindo que os colaboradores escolham se querem ficar no escritório ou em casa. "No começo eu senti um pouco de dificuldade. Apesar de convívio diário virtual, eu sentia a falta do presencial para conversar, tomar um café. Essas coisas básicas", relata. Já o esposo, que trabalha na indústria, permanece no modo 100% presencial.

Hoje, ela frequenta o escritório uma vez por semana, momento em que encontra os colegas e pode compartilhar outros assuntos, além das coisas de trabalho. Isaías vai na escola no turno da manhã e no outro período fica aos cuidados da mãe. Outra mudança na vida da analista trazida pela pandemia está relacionada à saúde. Bianca conta que sempre lutou contra a balança, mas com a necessidade de ficar em casa, tornou-se mais ansiosa e o reflexo foi no aumento considerável de peso, a ponto do fígado pedir socorro.

Ela passou por uma cirurgia bariátrica e a incorporar novos hábitos alimentares e também de exercícios diários. Inclusive, a empresa dela passou a ofertar uma ajuda de custo para que os seus funcionários façam academia. "Agora estou pesquisando um lugar para também fazer exercício fora de casa", conta. Na sua avaliação, os dois anos de pandemia trouxeram situações boas e ruins. "Mas o melhor ainda está por vir. O home office veio para realizar uma coisa que eu sempre quis, de ficar mais tempo com o meu filho, me deu mais flexibilidade e até ajudou na oração diária", comenta.

Prós e contras

Carmem Giongo Doutora em Psicologia social e professora da Universidade Feevale, Carmem Giongo diz que nem todos os trabalhadores estão satisfeitos como Bianca. Na sua avaliação, a pandemia acelerou o processo do home office, que já vinha acontecendo no País, mas em menor quantidade. No entanto, essa nova realidade trouxe uma maior sobrecarga de tarefas, principalmente, porque não há o limite claro de quando termina e começam as atividades de trabalho em casa.

Em suas pesquisas, a profissional constatou diversos casos de síndrome de Burnout, também conhecida como a síndrome do esgotamento profissional. É uma doença mental que surge depois da pessoa passar por situações de trabalho desgastantes.

Segundo Carmem, a legislação que trata do tele trabalho no Brasil é anterior ao contexto de pandemia e precisa passar por uma atualização. "Se tem essa tendência de algumas atividades permanecerem remotas, é preciso que haja garantia de qualidade de vida e de saúde. Por que isso pode gerar um adoecimento tão grande quanto o isolamento", pondera.

De acordo com ela, um dos estudos constatou que mais de 80% dos professores não receberam nenhum tipo de equipamento para trabalhar de casa, outro problema percebido pelos pesquisadores.

A profissional salienta que ganhos do home office como menos tempo gasto em deslocamento e mais proximidade com a família não deveriam se contrapor com a falta de socialização.

Estimativa é de que menos de 10% estão no trabalho à distância

O Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (Ibre/FGV) apurou que a modalidade de trabalho à distância foi adotada por cerca de 10% dos brasileiros no auge da pandemia. A concentração foi maior nas regiões mais ricas e urbanizadas, como Rio de Janeiro e São Paulo.

Em novembro do ano passado, último dado disponível, o número caiu para 7,3 milhões de pessoas, 8,7% do total de ocupados. Muitas empresas têm aderido ao retorno gradual às atividades presenciais.

Ciclismo vira alternativa

Éder Elias Reinhart redescobriu a paixão pelo ciclismo com a pandemia
Éder Elias Reinhart redescobriu a paixão pelo ciclismo com a pandemia Foto: Arquivo pessoal
Com as academias fechadas e a necessidade de distanciamento social, as bicicletas foram a saída encontrada por muita gente para praticar exercício e também sair de casa. O que no ano de 2020 se vislumbrava ser apenas uma febre, hoje parece que veio para ficar.

O coordenador de tecnologia da informação que mora em Novo Hamburgo, Éder Elias Reinhart, 39 anos, faz parte do grupo de ciclistas que surgiram na pandemia. "Quando parou tudo eu vi que era de pedalar de novo", conta.

Sem o futebol semanal, ele encontrou na bicicleta uma maneira de se mexer. Hoje, mesmo com o futebol em atividade, pedala ao menos duas vezes por semana, sendo que o trajeto mais longo fica para os finais de semana, normalmente na parceria de amigos. Segundo Reinhart, seu irmão mais velho, apaixonado por ciclismo, foi quem providenciou a bicicleta para a compra quando ele manifestou o desejo de pedalar. "Eu comprei a bike certa e quero manter isso na minha vida, pois é algo que gosto e me faz bem", diz. Inclusive, até os colegas do futebol já têm participado dos pedais.

Inclusive, prefeituras passaram a organizar roteiros de cicloturismo para estimular o esporte e trazer visitantes aos seus municípios, como Parobé e São Sebastião do Caí. Já Portão elaborou um calendário de cicloturismo para o ano inteiro, que terá lançamento em 19 de março.

Os números da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo) mostram que o mercado continua aquecido. As fabricantes de bicicletas instaladas no Polo Industrial de Manaus produziram 61.437 unidades em janeiro.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas

Olá leitor, tudo bem?

Use os ícones abaixo para compartilhar o conteúdo.
Todo o nosso material editorial (textos, fotos, vídeos e artes) está protegido pela legislação brasileira sobre direitos autorais. Não é legal reproduzir o conteúdo em qualquer meio de comunicação, impresso ou eletrônico.