Prédios históricos da região viram maquetes pelas mãos de ex-sapateiro
Trabalho, quase todo em madeira, é feito com estilete e a boa e simples serra tico-tico
Teve bandinha, chope, comida típica, jogos germânicos e feira do produtor rural. Mas o que chamou mesmo a atenção no Centro de Eventos de Santa Maria do Herval neste sábado (23), durante a segunda edição do projeto Vivências da Colônia, foi a exposição de maquetes, réplicas de prédios históricos de diversas cidades da região. O trabalho, com riqueza de detalhes, é feito pelas hábeis mãos de Iteno Gressler da Silva, 70 anos.
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Ex-sapateiro
A habilidade com as mãos o maqueteiro desenvolveu na indústria calçadista de Campo Bom, onde trabalhou por mais de 30 anos. A fabricação de maquetes foi por sugestão de um ex-chefe holandês que o visitou. "Em 1997 visitei Boa Vista do Herval, onde morava minha avó. Fiz uma foto frontal da casa, já caindo, e reproduzi para colocar numa estande de casa. Certo dia o holandês veio me visitar, viu a fachada e disse que eu tinha o dom e pediu que eu continuasse", diz.
Hoje são mais de 150 réplicas da colonização germânica expostas, 90 delas no memorial de Santa Maria do Herval. Mais do que preservar a história, Gressler busca resgatar o que foi perdido ao longo das décadas. E espera que a sua obra possa tocar os mais jovens. "Que as próximas gerações valorizem mais o trabalho dos antepassados", pede.
Detalhes
Iteno Gressler da Silva se preocupa com os mínimos detalhes em sua obra. A reprodução da antiga loja de São Leopoldo Sperp Lang e Cia, traz em uma das janelas o que eram os cortes de tecido para mulheres e em outra os masculinos. A igreja do Morro dos Bugres tem os detalhes da madeira e as lápides do cemitério. Tudo feito na escala 1x25, exceto a Igreja Matriz de Dois Irmãos, que, por encomenda para um evento, está na escala 1x20, por isso é maior que as demais maquetes.
Além de fotos históricas, o maqueteiro também vai atrás de prédios quando sabe que estão caindo ou sujeitos à demolição. "Quando suspeito que vai cair ou será demolido, eu faço", diz ele, que assim mantém viva a história. O tempo para cada maquete é relativo. "Depende dos detalhes e não são todos os dias que eu entro no ateliê. Só mesmo quando estou inspirado", reconhece ele, que nasceu em Santa Maria do Herval e hoje reside em Campo Bom.
Pelo Mundo
O maqueteiro, que na verdade é um artesão de mão cheia, não para. O próximo projeto é reproduzir a arquitetura de diversas civilizações do mundo. Começou pelos Vikings e já tem cinco maquetes elaboradas. Prédios com dois mil anos de história estão no seu horizonte. Depois virão prédios dos galeses, da África, até cobrir os cinco continentes. "Preciso primeiro definir o que quero de cada um", antecipa. Com este trabalho, Gressler quer trabalhar a conscientização para que as pessoas valorizem mais a história.
O trabalho, quase todo em madeira, é feito com estilete e a boa e simples serra tico-tico. A esposa, Nelsi Manthey da Silva, 68 anos, acompanha nas exposições mas não trabalha nas maquetes. "Faço o chimarrão e uma comida boa para ele", brinca ela.
Gressler expõe junto com as peças uma frase em alemão, retirada de um dos prédios reproduzidos: "Gemeinde ist wie ein fluss ehr erreicht sein objektiv deen ehr gelang alle hindernis". Ou "comunidade é igual ao rio, só alcança seus objetivos se souber contornar todos os obstáculos."