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Notícias | Região AGILIDADE DIFERENCIADA

Policiais civis presos por brigadianos conseguem se aposentar em oito dias

Engajado na política, casal de comissários recebia mais horas extras que o valor para delegacias inteiras do Vale do Sinos

Por Silvio Milani
Publicado em: 25.07.2022 às 21:14 Última atualização: 25.07.2022 às 21:47

O casal de comissários Mario Andre Herbst Garcia e Susi Andrea Fontoura da Silva Garcia, do Serviço de Inteligência Policial e Análise Criminal (Sipac) do Vale do Sinos, conseguiu aposentadoria em tempo recorde após ser preso pela Brigada Militar durante confusão na Capital, no início do mês. O processo administrativo para a inatividade, que costuma demorar 80 dias até ser finalizado no Instituto de Previdência do Estado (IPE), foi concluído em oito dias para o casal. Mario e Susi também ganhavam mais horas extras que o valor de delegacias inteiras da região. Eles não foram localizados nesta segunda-feira (25) pela reportagem.

As embaraçosas prisões, com os comissários bêbados sendo dominados, desarmados e algemados no chão por brigadianos, aconteceram na noite de 2 julho, um sábado. Na delegacia de plantão, recuperaram as pistolas e foram liberados. Na segunda-feira seguinte, retornaram normalmente ao trabalho no Sipac da 3ª Delegacia de Polícia Regional Metropolitana (DPRM), sediada em São Leopoldo, que abrange 16 cidades dos vales do Sinos e Paranhana. Passaram a responder inquérito penal por desacato e administrativo pela conduta.

Agilidade peculiar
No dia 7, após reportagem do Jornal NH sobre o fato e imagens das detenções viralizadas nas redes sociais, Mario e Susi abriram procedimento administrativo para a aposentadoria. Ele tinha 28 anos de Polícia Civil e ela, 26. No dia 15, o Diário Oficial já publicava a ida do casal para a inatividade com salário integral. Os últimos contracheques, de junho, mostram salário bruto de R$ 25.579,99 para Mario e de R$ 25.866,50 para Susi, conforme o Portal da Transparência do governo do Estado.

Unidos também nos adicionais de salário
A união demonstrada na mesma unidade de trabalho, nos eventos políticos e na briga com brigadianos fica também evidenciada nos adicionais de salário. Mario e Susi deixaram a 1ª DPRM, de Gravataí, para assumir na Regional do Vale do Sinos no início de 2019. Desde então, até o mês passado, cada um recebeu média mensal de R$ 1,7 mil em horas extras. Mais que uma delegacia inteira. Distritais de médio porte têm cotas de horas extras na faixa dos R$ 2,5 mil por mês para toda equipe em trabalhos excedentes de investigações e operações.

Influência política nas redes sociais
Em fotos nas redes sociais, o casal publica participação em reuniões políticas do PSDB ao lado dos principais líderes do partido no Estado. Principalmente Susi, a que aparece mais alterada na confusão com os brigadianos. Em 2008, ela foi candidata a vereadora pelo partido em Porto Alegre. Fez 376 votos.

IPE e Polícia Civil não se manifestam
A Secretaria da Fazenda do Estado (Sefaz) informou que as aposentadorias estão levando cerca de 80 dias entre o pedido e a concessão, mas frisou que a fonte oficial é o IPE, que é quem chancela o benefício. O Instituto, no entanto, não se manifestou sobre os trâmites atuais. Também não se posicionou a respeito de como é possível servidores irem para a inatividade em processo de oito dias, considerando a burocracia envolvida na análise de documentos.

A Polícia Civil, por meio da Divisão de Comunicação Social (DCS), igualmente não explicou como foi possível a agilidade incomum das aposentadorias para o casal. Também não esclareceu o uso diferenciado de horas extras nem como ficam as possíveis punições agora com os agentes na inatividade. O diretor da 3ª DPRM, delegado Eduardo Hartz, que era superior imediato do casal, está em férias.

Tribunal de Contas faz auditoria
A reportagem apurou nesta segunda-feira (25) que as aposentadorias dos comissários estão em auditoria no Tribunal de Contas do Estado (TCE). Estaria sendo averiguado o procedimento desde o início, na Divisão de Pessoal da Polícia Civil, passando pelo trâmite na Sefaz, em pareceres jurídicos, em cadastramento no Tesouro do Estado e na publicação no Diário Oficial pelo IPE.

“Soldadinhos de m...” e outras ofensas
Segundo a Brigada Militar, uma equipe foi atender chamado em bar na Avenida Osvaldo Aranha, por volta das 21 horas. A denúncia era de um casal bastante alcoolizado e armado em uma mesa. Os suspeitos logo se identificaram como policiais civis e mostraram as identidades, mas teriam agido com prepotência e desrespeito aos brigadianos. Mário teria frisado que era comissário de Polícia, enquanto os policiais militares eram "soldadinhos de m…", entre outras ofensas, segundo os PMs.

Tanto no caminho ao posto da BM quanto já no prédio, conforme os soldados, os comissários seguiram com os insultos. Exigiam a presença de um delegado e do oficial de dia. Os brigadianos relataram que chegaram a oferecer café, recusado por Mário. O casal levantou e foi para fora. Na Avenida José Bonifácio, ainda conforme relato da BM, Susi pegou uma pistola de dentro da bolsa e pôs junto da perna, enquanto dizia que queria ir embora. A comissária teria dito ainda que os PMs não poderiam mandar, pois estariam "abaixo" dela.

O momento de maior tensão e risco, conforme vídeo, é quando Susi, aos gritos, passa a mover a pistola de forma aleatória na direção dos PMs, que pedem calma. “Pra que esse nervosismo? A gente não precisa disso. A gente é tudo polícia”, diz um deles. E insiste: “Por que a senhora não guarda essa arma?” A comissária segue enfurecida: “Vai te f... Eu pego minha arma quando eu quiser. Eu sou comissária de polícia!” Em meio a outros insultos, alguns inaudíveis em razão da embriaguez, ela questiona um soldado se “está filmando” e parte para cima dele. Ela derruba o celular do brigadiano com um tapa e, então, passa a ser imobilizada enquanto se debate no chão.

Ao perceber a situação extrema, o marido tenta intervir: “Parou Susi”. A mulher segue falando: “Ele tá filmando”. Mário se aproxima da esposa, já algemada, entra em discussão com outro PM e avisa: “Não puxa minha arma.” Também é levado ao chão e algemado: “Vocês tão maluco?”, questiona Mário. Um soldado responde: “Somos ‘todos polícia’. A diferença é que a gente tá no exercício do dever. O senhor tá podre de bêbado e alterado”. Susi grita ao lado: “Vocês vão se f...”

Assista ao vídeo
As imagens contêm cenas fortes. Clique em "assistir no Youtube" para ver o vídeo completo:

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