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Notícias | Região CONVIVÊNCIA EM GRUPO

Cães auxiliam desenvolvimento de pessoas com Transtorno Espectro Autista em Novo Hamburgo

Vik e da Kona, duas fêmeas da raça golden, ajudam adolescentes e adultos na evolução de habilidades sociais

Por Júlia Taube
Publicado em: 30.08.2022 às 20:13

É com o auxílio da Vik e da Kona, duas cadelas da raça golden, que adolescentes e adultos com Transtorno Espectro Autista (TEA) estão desenvolvendo suas habilidades sociais. Por meio de um projeto criado pela Associação de Pais Amigos Do Autista (AMA) de Novo Hamburgo, pessoas com TEA têm a oportunidade de aprimorar práticas de convivência em grupo de forma divertida e descontraída.


A oficina, que iniciou no dia 13 de agosto, intitulada como ‘Projeto de Treinamento de Habilidades Sociais para Adolescentes e Adultos com TEA’, é composta por quatro participantes com idades entre 13 e 23 anos. Conforme a presidente da AMA do Município, Vivian Machado, o projeto é permanente. “Ele é voltado para cobrir essa área que é uma área mais desprivilegiada”, informa.

O último sábado (27) foi mais um dia de atividades práticas com os animais, realizadas ao ar livre na Praça do Imigrante, no centro da cidade. Esse dia foi também a primeira vez que Matheus Paim Hoffmann, 14, esteve no projeto. Animado, ele conta que gostou de todas as brincadeiras que participou com Vik e Kona. “Eu quero voltar outras vezes”, diz ele. Acompanhado pelos pais, Valdir José Hoffmann, 62, e Eliane Paim Hoffmann, 55, eles relatam que pretendem continuar levando Matheus ao projeto e assim, atender ao pedido do filho. “Eu sempre quis colocar o Matheus em alguma atividade que ajudasse ele a socializar e agora a gente conseguiu”, explica Eliane.

Matheus Paim Hoffmann com Vik e Kona
Matheus Paim Hoffmann com Vik e Kona Foto: Júlia Taube
O desejo de fazer amigos foi uma das motivações para Arthur Menegotto Soares, 13, entrar para o projeto. A professora Viviane Menegotto, 47, mãe de Arthur, conta que o diagnóstico do filho veio em um estágio considerado tarde, aos 6 anos. Ela fala que as atividades auxiliam a preparar o Arthur para as diferentes circunstâncias que ele viverá ao longo dos anos. “Os TEAs são muito corretos, seguem uma linha e se algo acontece como eles não esperam, ocorre uma crise. Eles seguem uma rotina. Por isso, a gente precisa preparar eles porque a vida não é certinha, em algum determinado momento, algo de diferente do planejado vai acontecer”, explica ela.

De acordo com o psicólogo e especialista em Análise do Comportamento Aplicado (ABA), Diógenes Corteletti, tutor das goldens e quem desenvolve o projeto com os participantes, a motivação de usar cães para aprimorar o desenvolvimento social é para gerar o vínculo entre o grupo. “O cachorro promove isso de uma maneira divertida, interessante, lúdica e para eles, o que a gente faz não é uma sessão, um trabalho ou uma terapia, é uma brincadeira”, declara. Ele explica que os quatro jovens nunca tinham se visto e, mesmo assim, estavam trocando abraços, brincando e interagindo entre si. “Eles precisam tirar par ou ímpar e decidir como fazer a atividade que está em questão. Essa iniciativa para se organizar, para começar a achar dentro de si as fermentas que eles vão usar durante a vida toda nas relações sociais é o que eles precisam”, expõe.

Para Vivian, a importância de se trabalhar as habilidades sociais vai além de formar relações. "Quanto menos trabalhadas essas habilidades e quanto mais dificuldades eles tiverem nesses déficits, mais medicações vão tomar no futuro, mais problemas com depressão vão enfrentar”, revela.

Sobre a AMA de Novo Hamburgo

Foi pela falta de encontrar espaços que atendessem jovens e adultos com TEA que Vivian e a vice-presidente da AMA, Sandra da Rosa, fundaram a associação em 2017. Mães de autistas, elas tiveram como motivação os seus filhos, por perceberem que, conforme eles iam crescendo, menos locais ficavam disponíveis para assistência. “Quando o autista é criança, embora haja dificuldade de acesso a muitas terapias, normalmente existem ainda um número grande de terapias e espaços à disposição. Mas quando ele vai ficando mais velho, rareia muito as opções do que eles fazem”, expressa.

Além do projeto de treinamento de habilidades sociais para TEA, a associação oferece atendimentos psicológicos e cursos parentais, que visam capacitar os pais a terem um manejo mais adequado com seus filhos. “Muitas vezes, os pais são bastante despreparados com eles ou encontram dificuldades muito relacionadas às questões próprias do autismo que são desconhecidas. Então, a gente trabalha com essas práticas baseadas em evidências para estender aos pais algum conhecimento dentro da análise do comportamento”, esclarece. Outra iniciativa é a realização de palestras junto às escolas e empresas da região, com orientação, conscientização e capacitação.

Tendo em média 250 atendimentos mensais, Vivian diz que o investimento é alto e que a forma de arrecadação da entidade se dá por meio dos associados, bingos, eventos beneficentes, venda de camisetas, entre outras iniciativas. “A gente paga aluguel pelo espaço da sede. A gente não tem nenhuma verba pública, nada. Nós nos auto sustentamos. Esse projeto é pago pelos pais e ele tem um custo que não é um alto, diante de outras terapias que temos por aí. É um valor praticamente social”, explica.

Como contribuir?

Para 2022, a AMA tem em sua programação mais dois eventos que promovem a capacitação de pessoas sobre o autismo. No dia 24 de setembro ocorre, na Fundação Escola Técnica Liberato Salzano Vieira da Cunha, o workshop ‘Capacitação básica de acompanhante terapêutico/apoiador pedagógico para pessoas com autismo’, ministrado por diversos especialistas no tema. Já em outubro, ainda sem data definida para acontecer, será realizado o Curso Parental Básico em ABA, voltado para o treinamento dos pais.

Para mais informações sobre valores dos cursos oferecidos e para associar-se à AMA de Novo Hamburgo, é preciso entrar em contato pelo telefone (51) 99359-4411.

TAGS: autismo cães
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