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Notícias | Região CRIME ORGANIZADO

Transferência de 13 presos é uma lista de surpresas, que preserva líderes de recente onda de violência

Operação mobilizou 300 agentes, em comboio de Charqueadas a Porto Alegre, para o voo do grupo de detentos a penitenciárias federais de outros três Estados

Por Silvio Milani
Publicado em: 15.09.2022 às 22:02 Última atualização: 16.09.2022 às 06:40

A Secretaria da Segurança Pública (SSP) tratou a transferência de 13 presos gaúchos para penitenciárias federais de outros três Estados, na manhã desta quinta-feira (15), como resposta ao crime organizado. Mas líderes de facções responsáveis pela recente onda de violência entre o Vale do Sinos e Porto Alegre, com várias mortes, não estavam na lista, que “contemplou” alguns detentos sem relação direta com os conflitos. A operação já tinha sido vazada na semana passada.

Transferência de 13 presos é uma lista de surpresas, que preserva líderes de recente onda de violência
Transferência de 13 presos é uma lista de surpresas, que preserva líderes de recente onda de violência Foto: Rodrigo Ziebell/ Palácio Piratini


A principal ausência da lista é um traficante de 33 anos com base no bairro Roselândia, em Novo Hamburgo, acusado de ter dado largada a uma guerra do tráfico com mais de 20 mortos e cerca de 50 feridos na cidade natal e em Porto Alegre, nos últimos seis meses. O hamburguense, que estava na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc), teria sido transferido para uma espécie de castigo na Penitenciária Estadual de Canoas (Pecan), onde há bloqueador de sinal de celular.

Megaoperação

Foram mobilizados 300 agentes de diferentes órgãos de segurança para a operação, chamada de Império da Lei. O trabalho começou às 4 horas. Os detentos estavam na Penitenciária de Alta Segurança de Charqueadas (Pasc) e na Penitenciária Modulada Estadual de Charqueadas. Passaram por uma revista e fizeram teste de Covid-19, que deu negativo em todos.

Por volta das 6 horas, foram levados em comboio de 30 viaturas nos 55 quilômetros até o Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, onde embarcaram em avião da Polícia Federal. Foram para penitenciária em Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, Porto Velho, em Rondônia, e Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Os conflitos que geraram a “resposta”

Liderança da facção Os Manos, o traficante da Roselândia teria se unido, em março, a outro grupo criminoso para tomar o negócio da droga na zona sul de Porto Alegre. Houve 11 mortes em nove dias, seguidas de mais vítimas em abril.

A facção Bala na Cara, da Capital, resolveu se vingar. Membros do grupo receberam ordem de abrir fogo contra “biqueiras” no bairro Canudos, em Novo Hamburgo, principal reduto dos Manos. Três foram executados e sete ficaram baleados entre os dias 6 e 9 do mês passado. As investigações apontavam que a matança continuaria na área, mas ela acabou sendo freada na noite seguinte, quando um inspetor do Departamento Estadual de Investigações do Narcotráfico (Denarc) foi baleado na frente do Residencial Aeroclube, perto dos locais dos outros tiroteios.

O policial e um colega foram recebidos a tiros ao descer de viatura discreta na frente da entrada do condomínio. Os disparos teriam partido de membros dos Manos, pensando que eram rivais dos Bala na Cara. Estava escuro. O caso resultou numa varredura policial de vários dias no bairro, com uso de helicóptero e prisões.

A situação foi acalmada em Novo Hamburgo, mas voltou para a capital. Um corpo sem cabeça foi encontrado em um carro queimado na zona sul, no dia 25 de agosto, em meio a outras barbáries que foram setembro adiante. A Operação Império da Lei foi desencadeada para conter o ímpeto das facções.

O hamburguense entre os escolhidos

Alvo de megaoperações desde 2005 contra o tráfico de drogas e armas, o hamburguense Jair de Oliveira, o Jair Cabeludo, 51 anos, é um dos transferidos desta quinta. Recém foi condenado, nesta segunda-feira (13), a 50 anos de prisão em operação do Ministério Público contra o crime organizado. Estava recolhido na Pasc desde 24 de setembro de 2020, quando foi capturado em casa de alto padrão que comprou na Avenida Coronel Travassos, no bairro Rondônia, perto do quartel regional da Brigada Militar. As investigações não apontaram qualquer indício, no entanto, que ele tenha relação com os sangrentos conflitos recentes de facções.

Jair Cabeludo é apontado como dono de considerável patrimônio. Uma das provas apontadas para lavagem de dinheiro do tráfico, segundo o MP, é uma fazenda no Mato Grosso, na fronteira com a Bolívia, com pista de pouso no meio da mata fechada. Tem três vezes o tamanho de Porto Alegre e está avaliada em R$ 42 milhões.

Judiciário negou três remoções

A SSP queria 16 transferências. Três foram negadas pelo Judiciário. Os outros 12, que fizeram companhia para Jair Cabeludo, são Luan Barcelos da Silva, Rafael teles da Silva, Luciano Alves Pereira, Marcos Diego Brignol da Paz, André da Silva Dutra, Luis Henrique Gravi ferreira, Luis Fernando Soares da Silva Júnior, Valdeni Alves da Silva, Antônio Nunes Pereira, Edson Marcelo Santos de Oliveira, Marlon de abreu Azevedo e Rodolfo Silva Charão de Lima, que já tinha sido transferido do Estado em julho do ano passado. A lista tem criminosos não só da região metropolitana, como também da fronteira sul e Serra, sem evidência de vínculo com os recentes conflitos na Grande Porto Alegre.

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