Publicidade
Notícias | Região VOLUNTÁRIOS NO COMANDO

Oktoberfest de Igrejinha: a festa alemã que mobiliza uma cidade

Mais de 3 mil pessoas, cerca de 10% dos moradores, trabalham de graça para que festa alemã aconteça em Igrejinha

Por Ermilo Drews
Publicado em: 15.10.2022 às 10:00 Última atualização: 15.10.2022 às 11:10

Um dos pilares da economia de Igrejinha, no Vale do Paranhana, é o setor calçadista. Uma única indústria pode empregar milhares de pessoas. E neste emaranhado de individualidades, o senso coletivo se torna fundamental.

Diferentes gerações de voluntários fazer a Oktober de Igrejinha chegar a sua 33ª edição. Gente como Letícia, Arnold e Andrea
Diferentes gerações de voluntários fazer a Oktober de Igrejinha chegar a sua 33ª edição. Gente como Letícia, Arnold e Andrea Foto: Diego da Rosa/GES

Afinal, numa esteira de produção, o que um faz influencia na tarefa do outro. Pois este trabalho em equipe comum à base econômica da cidade é um dos segredos para que Igrejinha seja reconhecida Estado afora por uma festa. E neste caso, o trabalho não tem remuneração.

A Oktoberfest de Igrejinha, que começou na sexta-feira no Parque de Eventos Almiro Grings e projeta atrair mais de 200 mil visitantes até o dia 23, tem no serviço voluntário e na cooperação entre as pessoas o segredo do sucesso. Atualmente, é a festa alemã que mais atrai público no Estado. Mas isso só é possível pelo esforço de um contingente de pessoas que abrem mão do seu tempo para desempenhar diferentes tipos de atividade no evento.

Para esta edição, mais de três mil voluntários vão fazer a festa acontecer. O número equivale a 10% da população do município e supera o número de habitantes de um quarto dos municípios gaúchos (individualmente).

Propósito maior

Tiago Itamar Petry, presidente da Amifest
Tiago Itamar Petry, presidente da Amifest Foto: Vinícius Linden/Especial
O comprometimento de parte expressiva da população não se faz relevante só para que a festa aconteça. Dá retorno à comunidade. Nas 32 edições da Oktober, os mais de R$ 18 milhões arrecadados foram repassados para diferentes entidades, como hospital. Só na mais recente edição, a Associação de Amigos da Oktoberfest (Amifest), que organiza o evento, distribuiu R$ 3,2 milhões para 82 entidades.

"Em 2019, repassamos o total de R$ 3.142.192,42 e, nesta edição, pretendemos superar este valor", projeta o presidente da Amifest, Tiago Petry. E a julgar pela previsão de 200 mil litros de chope que devem ser vendidos, é bem possível que o valor doado seja superado.

Estes números e a dedicação da população ajudaram a tornar Igrejinha a Capital Estadual do Voluntariado, honraria concedida pela Assembleia Legislativa em 2019. Mas por trás dos números superlativos existem pessoas que dedicam seu tempo e esforço sem receber um centavo.

Uma herança de família

Patrique Arnold
Patrique Arnold Foto: Diego da Rosa/GES
São pessoas como Patrique Arnold, 30 anos, que garantem a estrutura, organização e chope gelado para os milhares de visitantes que buscam diversão. Assim como para a maioria, a entrada dele no circuito voluntário se deu como uma "herança familiar". A avó Sueli começou isso lá na década de 1980, depois vieram os pais e ele chegou em 2010, servindo chope. "A maioria começa e quer ficar no chope", admite Arnold. Para esta edição, por exemplo, dos 3 mil voluntários, 700 se encarregam de garantir a bebida.

Mas três anos depois, Arnold abriu mão da estrela da Oktober para assumir uma missão igualmente importante. Ele é o coordenador de marketing e comunicação, mas a profissão de arquiteto fez ele acumular funções. Coube a ele ser o responsável pela decoração e comunicação visual do parque. "É um trabalho para o ano todo porque tem a questão das leis de incentivo à cultura, dos patrocinadores, que precisam ser levadas em conta na hora de produzir os materiais. Eu já comecei a pensar na decoração da próxima edição", admite. Para dar conta de tanto trabalho, Arnold dividiu a demanda da Oktober com o sócio, o engenheiro Daniel Wilbert, que cuida da estrutura e montagem no parque.

Para o arquiteto, a dedicação das três mil pessoas é fruto de uma cultura pelo voluntariado que passa de geração a geração. "É uma sementinha que foi plantanda lá atrás. A minha avó ainda hoje coordena uma equipe de chope, minha prima foi rainha, meu primo foi Bubchen (o menino da corte infantil) e hoje vai ajudar a servir chope. A Oktober é uma paixão que vem lá dos avós."

De ouvinte da Oktober a servidora de chope

Letícia Beatriz Linden
Letícia Beatriz Linden Foto: Diego da Rosa/GES
É da casa da avó, ouvindo a Oktober pelo rádio, a primeira lembrança de Letícia Beatriz Linden sobre a festa. Naquela época, os pais Marcio e Anelise já trabalhavam no evento como voluntários.

E Letícia curtia as bandinhas pelas ondas do rádio. Com a maioridade, ela já entrou na escala do serviço voluntário. "Lembro que mal fiz 18 e participei de todos os eventos pré-Oktober daquele ano. Não sei viver a festa de outra maneira", confessa.

Hoje, aos 25, ela coordena os projetos de socialização, além de ser um dos 700 voluntários do chope. "Na socialização, a gente trabalha o ano todo. Basicamente, incentivamos ações sociais por meio de grupos de amigos, empresas, entidades, escolas", explica. Desde arrecadação de alimentos e roupas a confraternização em lares de idosos ocorrem por meio desta iniciativa. Paralelo a este trabalho, Letícia participa de outras ações voluntárias ao longo do ano por meio do Leo Clube.

Para a jovem, o exemplo dos pais contagiou uma geração inteira pelo trabalho voluntário. "Praticamente todos os pais dos meus amigos de infância eram voluntários da Oktober. E quase todas aquelas crianças também. Quem nasce em Igrejinha acaba vivendo isso desde cedo", pontua.

A primeira rainha é voluntária até hoje

Andrea Dienstmann
Andrea Dienstmann Foto: Diego da Rosa/GES
Aos 16 anos, Andrea Volkmann Dienstmann se tornou rainha da primeira Oktober. "Na época, não tínhamos ideia da proporção que ia tomar", confessa. Ela lembra que divulgar o evento era um desafio. "As pessoas não sabiam do que se tratava." Mas depois de tantas edições, quase impossível alguém não saber do que se trata uma Oktober.

Se a proporção da festa mudou, a paixão de Andrea por ela não. De 1988 até hoje, perdeu as contas de quantas vezes atuou como voluntária. "Na adolescência servia cachorro-quente, servi chope, inclusive, é o que vou fazer nesta edição." Garantir a bebida gelada, aliás, é uma tradição da família. Os irmãos, os sogros e o marido já assumiram a função. "Meu esposo e eu participamos de um grupo que serve chope. Meu filho tem 17 anos e daqui um ano vai entrar na escala", avisa.

A rainha da primeira edição acredita que o senso de coletividade é algo presente na comunidade o ano todo. "O povo se une em qualquer promoção." E o caráter beneficente da Oktober, que distribui o lucro entre entidades, estimula esta característica. "O retorno fica no município. Por isso, não tem igrejinhense que não goste da Oktober. A gente acaba tendo orgulho de ser voluntário."

Estreia na primeira edição pós-pandemia

Arielly Zorn
Arielly Zorn Foto: Arquivo pessoal
Entre os estreantes no trabalho voluntário está Arielly de Farias Zorn, 23. Ela tentava há algum tempo conseguir achar uma brecha na equipe da qual um amigo faz parte. "Pedi para ele que se fosse aumentar o número de voluntários, me chamasse. Quando me avisaram, fiquei muito feliz", celebra. Arielly vai compor o grupo que repassará informações aos visitantes.

Apesar da estreia no time que faz a Oktober acontecer, a relação dela com a festa vem de berço. "Frequento desde muito pequena. Meus pais me traziam desde novinha. Inclusive, eles já são voluntários."

O apreço pelo evento é tanto que Arielly chegou a ser candidata à corte. "O ano inteiro a gente vive pensando na Oktoberfest. Mexe com o sentimento de todos na cidade, neste ano ainda mais porque são dois anos sem festa", lembra.

Presidente da Amifest, Tiago Petry admite que o hiato de dois anos foi difícil para todos que vivem o evento. "Foi um período de incertezas e de decisões difíceis. Mas sem nunca deixar o propósito da festa cair no esquecimento", pontua.

Propósito perceptível na fala de cada voluntário: fazer o bem. "Esta será a mais especial de todas as edições", acredita Arielly.

Trabalhar em família garante sorriso no rosto

Família Wallauer
Família Wallauer Foto: Arquivo pessoal
Nos últimos tempos, a rotina da família Wallauer tem sido monotemática. A Oktober domina o dia a dia e os pensamentos do casal Egon, 52, e Fernanda, 48, e até da filha Marcela, 23. Da primeira turma de voluntários, da edição de 1988, Egon entrou para a diretoria da Amifest em 2019. Passados os dois anos sem evento presencial, 2022 tem sido de muito trabalho.

"Nós somos muito unidos e fazemos quase tudo juntos. Fomos em quase todas as divulgações", conta Fernanda. Durante a festa, Egon integra o grupo responsável pelo abastecimento de bebidas e alimentação. Ou seja, trabalho não vai faltar. Fernanda dá suporte ao marido e Marcela atua na divulgação e comunicação.

A rotina corrida faz com que a família se veja mais em função da Oktober. "Está corrido. Principalmente o Egon tem muitas reuniões. Quando um chega o outro sai. Durante a festa brincamos que vamos trazer um colchãozinho para dormir aqui", diverte-se Fernanda. Apesar a transpiração que a Oktober exige dos voluntários, ela pondera que ninguém lamenta. "Nossa cidade é muito diferente. É gratificante participar de tudo isso. Como diz o slogan desta edição: fazer o bem faz bem."

O evento em números:
  • 32 edições da Oktoberfest. Depois de um hiato de dois anos, por causa da pandemia, a 33ª edição já começou.
  • 4,4 milhões de visitantes em todas as edições
  • 188 mil pessoas visitaram a festa apenas na edição de 2004. Foi o maior público em uma mesma edição até agora. A expectativa para 2022 é que este número seja quebrado, já que são esperadas mais de 200 mil pessoas. 
  • 4,5 milhões de litros de chope consumidos em todas as edições.
  • 214 mil litros de chope foram consumidos apenas na edição de 2019, recorde de uma mesma edição até o momento. 
  • 3 mil voluntários por edição.
  • 18,4 milhões de reais distribuídos à comunidade. 
Programação deste final de semana

Sábado

  • 12h - Abertura do Parque da Oktoberfest (entrada franca até as 16h30)
  • 14h - Desfile Oficial

Local: Av. Presidente Castelo Branco em direção ao Parque da Oktober (em caso de chuva será transferido para o dia 22/10, às 14h)

  • 15h às 0h - Aquece Oktober - Festa Open Bar de Chope em ambiente exclusivo (consulte valores no site)

Local: Ginásio

  • 16h às 20h - Agita Oktober - Trio elétrico com DJs

Local: ao lado do Pavilhão 2

  • 16h30 às 17h30 - Igrejinha Vivendo a Cultura 2022 - Jogos Germânicos

Local: Lona

  • 17h - Encontro de Soberanas da Região

Local: Centro de Eventos

  • 17h30 às 19h - Chope Amstel em dobro, em todo parque
  • 22h às 23h - Chope Amstel em dobro, em todo parque
  • 5h - Encerramento das festividades

Programação musical

  • Bandinhas típicas itinerantes - Banda Típica Macega Show (12h), Banda Típica Real Madrid (12h), Banda Típica Verno& Cia (12h), Banda Típica Ideal (17h)
  • Ginásio (Aquece) - DJ Hanny (15h), Sambary (17h30), Banda 10 (18h30), MC Don Juan (20h), DJ Herbert Ritzel (21h), DJ Pava (22h30)
  • Pavilhão 2: Musical Encanto de Feliz (12h), Madame Frau (20h),Super Banda Choppão (22h), Banda Brilha Som (1h)
  • Trio elétrico: DJ Adélia (16h),DJ Duque (18h)
  • Lona: Banda Berlin (18h), Flor da Serra (23h30)

Pavilhão do Kerb: Super Banda Real (17h), Banda Aquarela (22h30)

Domingo

  • 10h - Abertura do Parque da Oktoberfest (entrada franca até as 12h) e início das festividades
  • 10h30 às 13h30 - Igrejinha Vivendo a Cultura 2022 - Jogos Germânicos Escolares

Local: Lona

  • 14h às 18h30 - Igrejinha Vivendo a Cultura 2022 - Apresentações artísticas, culturais e folclóricas

Local: Lona

  • 15h às 16h - Chope Amstel em dobro em todo parque
  • 20h - Show Maiara e Maraísa 

Local: Palco de Shows

  • 1h - Encerramento das festividades

Programação musical

  • Bandinhas típicas itinerantes - Banda Típica Macega Show (10h), Banda Típica Macht Musik (10h), Banda Típica Tannenwald (14h30), Banda Típica Imigrante (14h30)
  • Pavilhão 2 - Musical Encanto de Feliz (10h), Super Banda Choppão (14h30), San Marino (19h)
  • Lona - Banda 10 (19h30)
  • Pavilhão do Kerb - Banda Típica Canecão do Vale (11h), Banda Aquarela (15h30), Super Banda Real (20h)
Serviço da Oktober

Quando: 14 a 23 de outubro de 2022

Onde: Parque de Eventos Almiro Grings (Rua Arlindo Geis, 255, Igrejinha/RS)

Ingressos para pista:

Sextas-feiras - R$ 40 Sábados - R$ 30

Domingos - R$ 45

Os ingressos estão disponíveis pelo site www.oktoberfest.org.br ou nos pontos físicos de venda, que podem ser verificados no site.

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas
Botão de Assistente virtual