Novo Hamburgo e Campo Bom contabilizam prejuízos após chuvarada no fim de semana

O temporal que atingiu a região durante o fim de semana causou estragos e transtornos para a população. Em Novo Hamburgo, ruas cobertas por lama, carros encharcados e unidade de saúde sem atendimento por conta da sujeira contabilizaram os estragos durante esta segunda-feira (5). Já em Campo Bom, a força da água do Arroio Schmidt danificou a estrutura de uma ponte, escolas sem aula e comércios inundados também foram os resquícios que ficaram.

O trabalho de uma vida dedicada para adquirir os móveis, eletrodomésticos e o carro da família, se viu sendo tomado pela chuva em poucos minutos pela família Silva Nogueira. Moradores da Rua Bruno Werner Storck, no bairro Canudos, a industriaria Seni da Silva, 49, e o engenheiro automotivo Paulo Cesar Nogueira, 50, viveram momentos de desespero. "Quando a água começou a subir, eu perguntei para ela [Seni] se íamos subir alguns móveis. Quando a gente virou de costas, a água estava dentro de casa. A gente só subiu o sofá, o resto ficou na água", relata Nogueira.

Além dos bens materiais afetados e o valor que terá que desembolsar para arrumar os danos causados pelos alagamentos, o engenheiro automotivo e a esposa tiveram, ainda, que pedir dispensa do trabalho para conseguir limpar o rastro deixado pela água. "Vou ter que pagar hora depois, é o jeito. Tem muita coisa para fazer ainda, ontem [domingo] ficamos até tarde e hoje vai até tarde também", afirma ele, ajudando Seni a limpar o lodo que acumulou na frente de casa.

150 afetados

De acordo com a Defesa Civil de Novo Hamburgo, durante o fim de semana, choveu 90 milímetros na cidade, sendo somente 70 milímetros contabilizados entre às 14h30 e 15h30 de domingo (4). O volume de chuva causou o transbordo do Arroio Pampa e deixou cerca de 150 famílias com suas casas alagadas no bairro Canudos. Os alagamentos também foram registrados no bairro Santo Afonso.

Sem atendimento de saúde

Também na Rua Bruno Werner Storck e passando por circunstâncias semelhantes, os funcionários da Unidade de Saúde da Família (USF) Getúlio Vargas tiveram que deixar suas funções de lado e auxiliaram na limpeza do local, como a enfermeira Jéssica Otowicz da Rosa, que juntava folhas de árvores se prenderam a grade em frente da unidade de saúde na manhã desta segunda-feira. Além do lodo que restou no pátio da USF, o esgoto não suportou o volume de água e subiu pelos ralos.

A situação crítica fez com que os atendimentos fossem suspensos durante todo o dia esta terça-feira.

Quem foi ao local, teve que procurar atendimento em outras unidades do bairro, como foi o caso da aposentada Arlinda Rodrigues, 78 anos, que tem diagnóstico de diabetes e foi encaminhada para a USF Iguaçu, um trajeto que leva cerca de 15 minutos caminhando de uma unidade a outra. "É meio longe a outra unidade, mas vou ter que ir caminhando".

Casa teve estrutura danificada

No bairro Rondônia, a aposentada Maria Amália Piu de Souza, 70, se viu em apuros. De acordo com o neto da aposentada, o representante comercial Mayki Souza, 30, a casa da avó ficou com rachaduras depois que o Arroio da Manteiga transbordou e inundou o terreno.

O arroio fica localizado ao lado da residência e, segundo Souza, é recorrente a situação. "A gente paga o imposto sobre o arroio e a Prefeitura não toma nenhuma providência. Quase sempre dá enchente e sempre transborda devido ao lixo. Tem de tudo, sofa, bola, bicicleta, árvore. Claro, está somado a poluição, mas é sempre isso e a Prefeitura nunca vem fazer a limpeza", afirma o representante comercial.

Em nota, a Prefeitura de Novo Hamburgo informou que "Semopsu [Secretaria Municipal de Obras Públicas, Serviços Urbanos e Viários] irá ao local averiguar a situação, e se for possível tomar as devidas providências".

Campo Bom registra maior volume de chuva

Em Campo Bom a forte tempestade do domingo inundou, inclusive, partes do centro da cidade. Na manhã desta segunda-feira, o gerente de uma loja de calçados na Rua Tiradentes, Roberto Schommer, se deparou com o estabelecimento alagado. A água ultrapassou o meio fio, degraus e atingiu o interior da loja. "Não chegou a fazer um estrago de mercadoria, menos mal que isso não chegou a atingir, mas foi suficiente para sujar o piso todo e inchar os móveis. A parte de baixo a gente já percebeu que começou a inchar e se deslocar. Isso é possível que a gente tenha uma consequência e vai ter que trocar", relata ele.

A ponte sobre o Arroio Schmidt teve sua estrutura comprometida e precisou ser interditada por tempo indeterminado. O local fica na Rua Presidente João Goulart, no bairro 25 de Julho, próximo à usina de captação de água da Corsan. De acordo com a Prefeitura de Campo Bom, esse foi o caso mais grave da cidade.

O que pode ter causado os alagamentos

Conforme a meteorologista da MetSul, Estael Sias, o volume de chuva registrado foi excepcional, com muita chuva em um curto espaço de tempo. Segundo ela, os temporais estão "associados ao calor e a umidade favorecida por uma frente fria no oceano na altura do Estado. Certamente, o relevo do vale propiciou a chuva mais forte concentrada na região".

Para o coordenador da Defesa Civil de Novo Hamburgo, Tenente Claudiomiro Fonseca, "esse volume de chuva em um espaço tão curto de tempo, não há canalização que consiga escoar rapidamente. Nesses casos ocorrem as enxurradas".

O que está sendo feito pelo poder municipal

As prefeituras de Novo Hamburgo e Campo Bom foram questionadas pela reportagem sobre o que está sendo feito ou que farão para tentar solucionar os problemas em relação aos alagamentos ou minimizar os problemas enfrentados pela população em novas chuvas.

Em nota, a Prefeitura de Novo Hamburgo informou que "a Semopsu [Secretaria Municipal de Obras Públicas, Serviços Urbanos e Viários] realiza sistematicamente a limpeza dos arroios ao longo do ano para minimizar as chances de transbordamento. Obras de macrodrenagem também foram efetuadas, como a realizada na mesma localidade, com a grande obra na Rua João Daniel Hillebrand e a General Cândido Mariano da Silva".

Já a Prefeitura de Campo Bom, também em nota, comunicou que "neste primeiro momento, a prefeitura, por meio da Secretaria de Obras, Planejamento e Serviços Urbanos, realiza, junto à Defesa Civil, trabalha incansável para resolver os problemas mais urgentes, visitando as localidades mais atingidas. O trabalho consiste em ações de limpeza e desobstrução dos canais de escoamento, além da liberação de vias. Dito isso, já está em elaboração estudo para substituição das redes pluviais mais antigas, bem como para instalação de novas redes, aumentando a capacidade de escoamento das águas de chuva".