Com dois mortos e dois presos, Deic tenta chegar a outros sequestradores no Vale do Sinos
Quadrilha exigia R$ 500 mil e conseguiu tirar R$ 60 mil de empresário resgatado do cativeiro após tiroteio em Portão
Após vários anos sem sequestro com tiroteio e mortes, a Polícia Civil tenta desbaratar uma quadrilha que estaria se encorpando na região metropolitana. Além dos dois suspeitos que perderam a vida no confronto com agentes do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic), dois foram presos e há pelo menos um foragido. Celulares apreendidos devem trazer informações cruciais para a identificação de outros membros do bando, que estaria ligado à facção do Vale do Sinos.
Um dos dois sequestradores mortos no cativeiro de empresário na zona rural de Portão, na noite de terça-feira (27), estava com um filho de quatro anos no local do crime. Apenado em prisão domiciliar, tinha rompido a tornozeleira eletrônica. Foi identificado como Anderson de Castro Rodrigues, 34, morador de São Leopoldo. O corpo dele e do comparsa, que não teve nome informado, foram removidos após perícia, já no início da madrugada desta quarta-feira (28). O empresário, que é de Canoas, foi libertado em estado de choque.
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Assustadas com o intenso tiroteio, as duas crianças foram atendidas pelo Conselho Tutelar. Uma mulher que estava com elas prestou depoimento. Disse que não sabia do sequestro, mas será investigada. No fim da noite, chegou uma moradora de São Leopoldo identificando-se como mãe do filho do sequestrador. Companheira do morto, não pôde ver o corpo, porém teve entrada autorizada para ir até o menino. "Tenho a certidão dele no bolso", disse ela à reportagem.
Tortura física e psicológica
O sítio, na Rua Vereador Antônio Rodrigues da Rosa, na localidade de Socorro, teria sido alugado pela quadrilha para o sequestro do empresário, que tem 31 anos e atua no mercado automotivo. Segundo o delegado de Repressão a Roubos e Antissequestro do Deic, João Paulo de Abreu, a vítima foi arrebatada na região central de Canoas, às 18h15 de segunda-feira (26), e levada direto para o cativeiro, onde permaneceu sob tortura física e psicológica até por volta das 21h30 de terça, quando a equipe do Deic chegou.
Quadrilha exigia R$ 500 mil e dois foram presos
Uma hora depois do sequestro, a família começou a receber mensagens da quadrilha, que cobrava R$ 500 mil de resgate. Os criminosos ameaçavam matar o empresário. Detalhavam a forma como era para ser feito o pagamento.
Os parentes foram ao plantão da Polícia Civil em Canoas, que repassou o caso à delegacia especializada do Deic. Segundo o delegado, a investigação conseguiu identificar três envolvidos e, na tarde de terça, prendeu o primeiro em Canoas. O criminoso estava com uma mulher no Fox preto usado no arrebatamento do empresário. O veículo tinha sido roubado no dia 21 de novembro em Guaíba.
Abreu conta que a equipe descobriu o local exato do cativeiro e preparou a estratégia para resgatar o empresário. “Infelizmente houve confronto”, comentou ele à reportagem, logo após o tiroteio. Abatido e esgotado, o morador de Canoas foi levado à sede do Deic, em Porto Alegre, onde familiares o aguardavam.
Tortura por mensagens
Por áudios e textos de celular, quadrilha detalhava a forma de pagamento e exigia que a Polícia não fosse envolvida.
O reencontro foi tomado de emoção
O valor do resgate não foi pago, mas o bando conseguiu fazer transferências bancárias de R$ 60 mil pelo celular do empresário. Na manhã desta quarta, outro morador de São Leopoldo foi preso depois de tentar fugir pela janela do quarto. O homem de 32 anos é o titular da conta que recebeu o dinheiro da vítima e havia tentado fazer o saque dos valores em diferentes bancos. Os nomes dos dois presos não foram informados. Um quinto membro do bando estaria identificado e foragido.
“Só aluguei o sítio”, diz dono da propriedade
Ao lado de um pavilhão industrial, em área distante da área urbana, o sítio usado como cativeiro tem estrutura de lazer. O galpão usado como cárcere fica ao lado de ampla residência com paredes de tijolo à vista. As duas construções estão a 200 metros da rua. A frente da propriedade é fechada por uma cerca simples e um portão de ferro. “Só aluguei o sítio. Não sabia de nada”, resumiu o dono, que chegou depois do tiroteio. Ele disse, porém, que não lembrava quando fez a locação.
Além da mãe do filho do sequestrador morto, outros parentes e conhecidos foram indo ao local durante a noite. "Eu não conheço ninguém. Só trouxe ela aqui", desconversou o motorista de um Onix, que ficou aguardando a mulher com o carro fechado na companhia de uma jovem no banco traseiro.
Fuzis, celulares, carros e motos apreendidos
Assim que terminou o trabalho da perícia, por volta de 1 hora da quarta-feira, foram guinchados os dois carros (um Audi e um Clio rebaixado) e duas motos estacionados no sítio. Os veículos não eram roubados. Dois fuzis, munições, toucas ninjas, vários celulares e outros objetos da quadrilha foram apreendidos. Os aparelhos de telefone devem conter informações cruciais para a Polícia aprofundar a investigação.