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CASO BECKER: "Eu nunca tinha entrado nesse tal de Cremers", diz ex-médico acusado de mandar matar dirigente do Conselho

Bayard Fischer Santos se negou a responder perguntas do Ministério Público e afirmou que não era inimigo da vítima

Publicado em: 30.06.2023 às 20:16 Última atualização: 30.06.2023 às 20:30

Apontado como mandante da morte do médico de Novo Hamburgo Marco Antônio Becker, o ex-médico Bayard Fischer Santos foi o primeiro réu interrogado no júri, na 11ª Vara Federal de Porto Alegre, na tarde desta sexta-feira (30). Classificou como armação a acusação de que teria encomendado o crime por vingança. Conforme a acusação, Becker, na condição de dirigente do Conselho Regional de Medicina do Rio Grande do Sul (Cremers), teria influenciado na cassação do registro profissional de Bayard.

 


Bayard Fischer Santos, réu no Caso Becker | Jornal NH
Bayard Fischer Santos, réu no Caso Becker Foto: Justiça Federal/Reprodução


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“Eu nunca tinha entrado nesse tal de Cremers. Não tinha nada para fazer lá. A anuidade vinha pelo correio, depois por e-mail.” O réu se recusou a responder perguntas do Ministério Público. Só falou ao juiz e aos defensores, que ensejaram respostas abonatórias, como a qualificada formação profissional e a situação de alguém injustiçado.

O interrogatório foi das 16h40 às 18 horas. O juiz Roberto Schaan Ferreira iniciou a inquirição:

Ferreira — Boa tarde. Tudo bem com o senhor?
Bayard — Dentro do possível.

O juiz pergunta no que o réu trabalha.
Bayard — Atualmente eu tô aposentado e, devido a essa grande injustiça que acabou com a minha vida, tenho me dedicado basicamente a superar.

O magistrado questiona sobre a renda.
Bayard — Vivo hoje em função de duas aposentadorias. Fui médico do Estado do Rio Grande do Sul. Outra do INSS. As duas juntas chegam ao valor de R$ 7 mil.

Ferreira — E o seu patrimônio, como é?
Bayard — Não sou proprietário de nada. Quatorze anos sem trabalhar, só gastando, problemas de saúde.

Ferreira — Formação?
Bayard — Formado em 1973 pela Ufgrs em medicina. Este ano estaria fazendo 50 anos de exercício. Dentro da área médica, especialização em cirurgia geral. Pratiquei mais de cinco mil cirurgias. Depois me especializei em andrologia na Espanha e tenho pós-graduações na área médica e no direito.

Ferreira — Já foi processado em outra ocasião?
Bayard — Sou réu primário. É a primeira vez que respondo processo criminal dessa ordem.

Ferreira — Tem pessoa dependente, filhos?
Bayard — De certo modo, sim. Tem meu filho aqui que se forma em engenharia na metade do ano que vem e minha atual companheira.

Ferreira — O senhor participou dessa morte? Teve alguma participação?
Bayard — Não, excelência. É um absurdo, uma injustiça muito grande.

Ferreira — A que atribui a imputação?
Bayard — Eu diria que eu seria a pessoa politicamente correta diante do todo. Nunca tivemos nada de inimizade. Confundiram adversário político de dois, três meses com inimizade. Não gostaria de falar de um amigo, não vou dizer amigo, um conhecido, depois de morto… Tinha status de defensor da ética médica e ficaria muito ruim dizer quem seriam os reais autores. Eu seria a pessoa mais compatível para que se mantivesse uma imagem. Tem tantas vertentes que os jurados nem imaginariam.

Ferreira — Teria a dizer algo sobre a relação com os outros acusados?
Bayard — A única pessoa que eu tinha contato que era do meio, seria o senhor Moisés Gugel, que prestava atendimento para o tratamento fisioterápico de pele, de um equipamento aprovado na comunidade europeia, na época aprovado pela Anvisa. O Juraci não lembro se atendi quatro ou cinco vezes. Uma vez no consultório e todas as outras vezes acompanhado da secretária, que era quem preparava os procedimentos. Os outros apontados acabei conhecendo no presídio. Não era o meio que eu frequentava.

O juiz ainda questionou um roteiro feito pelo réu na época do crime e sobre recortes de jornais que tinha sobre o assassinato de Becker.
Bayard — Aquilo me pegou de surpresa. Começaram repórteres a ligar para mim pedindo minha manifestação sobre o crime. Era notório que eu iria ser chamado pela polícia, e no momento que isso ocorreu, acho que duas semanas após o crime, pedi para a minha secretária para reunir o que tinha feito na época do crime, realmente diz isso. Eu não tinha nada a esconder. E isso foi usado como prova de crime. Essa é a história do tal roteiro que é a prova do crime. Sobre os recortes: Como disse, já tinha a notícia pela imprensa que eu ia ser chamado. No momento em que começaram a me ligar e quando fui intimado a ir à delegacia, comecei a me inteirar para saber o que estava acontecendo.

Depois do magistrado, foi a vez das perguntas dos defensores. Em meio a elas, Bayard falou que apresentou mais de 150 trabalhos científicos pelo mundo, discorreu sobre técnicas na especialidade de andrologia, nas quais as cirurgias de aumento de pênis que o tornaram conhecido nacionalmente. 
“Tenho consultório em Sevilha (Espanha). Me pedem, mas não vou. Perdi a vontade de trabalhar na área médica", disse.

Depois do ex-médico, quem fala é o réu Juraci Oliveira da Silva, o Jura, paciente de Bayard na época do crime. Preso por tráfico, Jura teria encomendado o crime a partir de contato do assessor de Bayard, Moisés Gugel. O outro réu é Michael Noroaldo Garcia Camara, o Toxa, apontado como executor.  

Silvio Milani

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