PALOMETAS: Conheça espécie de piranha presente no Rio do Sinos que traz problemas para pescadores
Especialistas apontam crescimento da população do peixe natural da bacia do Rio Uruguai como "inevitável" no Rio dos Sinos
Registradas pela primeira vez na Praia do Paquetá, em Canoas, a espécie de piranha palometa começou a ser vista em outros pontos do Rio dos Sinos ainda em maio deste ano. De acordo com o Comitesinos, já houve registro desse peixe em trechos do rio em São Leopoldo.
Carnívoro e predador voraz, a espécie palometa causa um desequilíbrio natural em sua chegada ao novo habitat. Entretanto, o analista ambiental do Ibama, Maurício Vieira de Souza, deixa claro que não há como evitar sua chegada e sua proliferação. “Não tem técnicas de contenção de invasão de espécies exóticas.”
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Mas até que a nova espécie esteja adaptada ao novo ambiente, a tendência é que as espécies nativas sejam prejudicadas, o que causa um impacto direto nos pescadores que dependem da atividade para sobreviver.
Por serem peixes carnívoros e com uma grande capacidade de predação, as palometas causam um desequilíbrio no ecossistema quando chegam ao um novo habitat, algo que se equilibra com o tempo. “Numa construção natural não tem um potencial de desequilibrar populações de outras espécies”, afirma Souza.
Pescadores já relatam problemas com palometas no Rio dos Sinos
Esta espécie de piranha veio do Rio Uruguai. As palometas avançaram pelo Jacuí em 2020 e chegaram a vários pontos do Rio dos Sinos. Prejudicam desde então a vida de muitos pescadores, como Evair Lopes, trabalhador da Prainha do Paquetá, Canoas, que até deixou de colocar linhas na água durante o dia.
"Eu só consigo pescar à noite, porque a gente encontra os peixes faltando pedaços nas redes quando coloca na água durante o dia", relata. "Os bichos são brabos e devoram o que veem pela frente. Sobra quase nada."
Ainda segundo o pescador, há também as palometas que ficam presas na rede e desse modo comprometem o material. Ele conta que o irmão, ao tentar tirar uma, viu parte do dedo ser rasgada pela piranha em poucos segundos.
"Se ele não conseguisse tirar, ela arrancava o dedo fora", diz. "O bicho é desgranido e fica difícil até de tirar da rede", explica. "Se continuar assim, a gente não vai mais conseguir pescar porque vai acabar o peixe em pouco tempo", lamenta.
Transformar em opção
Na mesma linha do especialista do Ibama, o professor do Programa de Pós-Graduação (PPG) de biologia e engenharia da Unisinos e membro da Comissão Permanente de Assessoria Técnica (CPA) do Comitesinos, Uwe Schulz, reconhece que não há como impedir a proliferação das palometas no Sinos.
“O processo que agora estamos vendo no Rio do Sinos vai ocorrer também em outros rios e em várias lagoas costeiras”, afirma ele, que aponta uma alternativa para os minimizar, ou mesmo impedir os prejuízos aos pescadores. “Podemos ver essa espécie também como recurso, como ela existe em abundância.”
A forma de viabilizar esse possível ganho econômico ainda precisa ser estudada, mas é apontada como fundamental por Schulz. “Temos que tentar desenvolver algumas metodologias para deixar ele como um produto atraente, de forma que o pescador não tenha só prejuízo, mas também ganho econômico vendendo esse peixe”, diz ele.
Schulz aponta como exemplo o caso do Pantanal, onde a palometa é vendida como peixe com propriedades afrodisíacas.
Poucos riscos para humanos
Temidas e estigmatizadas como agressivas, as piranhas costumam levar temor a banhistas. Entretanto, Souza garante que a espécie palometa traz poucos riscos para humanos. “Ela não é um animal que ataca de cardume como outras piranhas, o que se tem de registro é que ela dá um prejuízo maior aos pescadores profissionais.”
Mesmo assim, pescadores precisam ficar atentos pois são os mais propensos a sofrer algum tipo de lesão por mordedura das palometas. De acordo com ele, o que mais favorece a chegada da espécie é o desequilíbrio ecológico. “Quanto mais ambiente está desequilibrado, maior favorecimento para uma espécie exótica estar invadindo.”