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Saiba qual é a cidade do RS que consegue oferecer ensino integral a 100% dos estudantes

Município do Vale do Sinos é exceção, mas cidades maiores têm feito a lição de casa para atingir meta

Débora Ertel

Com uma rotina de trabalho que começa às 8 horas e só termina às 20 horas, a Escola Municipal Theno Grings, em Araricá, é sinônimo de tranquilidade para a consultora de vendas Cinara Silveira, 39 anos. Ela é mãe José Miguel Maciel, 7, e João Gabriel Maciel, 5, e encontrou no turno integral um ambiente seguro para os filhos. Os irmãos chegam às 7h30 e só voltam para casa às 17 horas, quando a avó busca os meninos.

Araricá, neste ano, alcançou um feito histórico com a oferta de ensino em tempo integral para 100% dos alunos matriculados da rede municipal. Dos 1.893 estudantes, 1,7 mil optaram em passar o dia na escola.

Cinara se despedindo dos filhos que passam o dia na escola | Jornal NH
Cinara se despedindo dos filhos que passam o dia na escola Foto: Débora Ertel/GES-Especial

O município tem 8.525 habitantes e foi o que mais cresceu na região, como apontou o Censo Demográfico, 4,9% de 2010 para 2022. No entanto, quando o censo escolar foi realizado no ano passado, das oito escolas municipais, sete responderam a pesquisa. Dessa forma, foi contabilizado 98,5% da educação infantil e 58,66% do ensino fundamental em turno integral.

O que é realidade para a família Silveira Maciel em Araricá, ainda é sonho em outros lugares. Na região, 147.274 estudantes estavam matriculados no ensino fundamental na rede pública, sendo que 10,9% frequentavam o ensino integral. Isso representava 16.081 alunos. Os dados foram apresentados na primeira reportagem da série sobre o tema.

A meta 6 do Plano Nacional de Educação (PNE), que define o ensino integral em no mínimo 50% das escolas públicas, de modo que atenda a pelo menos 25% dos alunos da educação básica, já foi colocada no papel pelo governo federal anteriormente. O PNE anterior, com validade de 2001 a 2010, havia estipulado como meta a oferta de educação em tempo integral em 50% das escolas públicas de educação básica. Já se passaram 13 anos desde o fim do prazo e o Brasil ainda não chegou lá.

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Araricá também levou tempo para contemplar toda a rede municipal. Em 2011, a lei municipal 1.026 criou o regime de tempo integral, com horário das 7h30 às 17 horas, permanecendo o aluno na escola no horário do almoço. 

Estrutura que acolhe

Na Theno Grings, os portões abrem às 6h30 e fecham às 17h30. Para dar conta de atender a demanda de 270 alunos, que inclui crianças a partir de 4 anos da educação infantil até os adolescentes do 9° ano do ensino fundamental, são necessárias 45 pessoas, incluindo professores, merendeiras e equipe diretiva. O colégio conta com 11 salas de aula, refeitório, cozinha, biblioteca, quadra coberta, lavandaria, depósito e salas para secretaria e direção.

Recentemente, como explica a diretora Janaína Foss, a prefeitura adquiriu a área do quarteirão onde fica a escola, com a intenção de que seja construído um novo refeitório.

Já Cinara, mãe de João e José, é só elogios para o atendimento da escola. De acordo com ela, até a alimentação dos filhos melhorou, pois se sentiram incentivados de experimentar saladas e frutas diferentes. A mãe também aprova a qualidade no ensino.

A meta do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) em 2021 para os anos iniciais foi de 6,0 no Brasil e Araricá alcançou 6,3 nos anos iniciais. Já nos anos finais, teve nota 5,5, alcançando a meta que é do mesmo valor.

Até o ano passado, os meninos frequentavam uma escola particular. “Quem sabe a educação não muda daqui uns anos com as crianças todas no ensino integral. Só me arrependo de não ter colocado eles antes aqui”, comenta.

Novo Hamburgo implantou programa na rede municipal


Move funciona em 52 escolas municipais de Novo Hamburgo | Jornal NH
Move funciona em 52 escolas municipais de Novo Hamburgo Foto: Débora Ertel/GES-Especial

Novo Hamburgo, maior cidade da região, tinha 122 estabelecimentos de ensino público, segundo o Censo Escolar de 2022. Desses, 29 são estaduais e um é federal. As 13 matrículas de ensino integral listados no censo são da Escola Estadual Bento Gonçalves, que funciona dentro da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase). Ou seja, com exceção desta unidade, não havia nenhum estudante matriculado em ensino integral na rede estadual.

Na rede municipal, as 91 unidades listadas no censo somavam 23.879 alunos na educação básica no ano passado. Das 8.062 crianças matriculadas na educação infantil, 6 mil eram atendidas em turno integral, somando 74,4%. Já no ensino fundamental, eram 15.471 estudantes, sendo que 2.561 frequentavam o turno integral, o que representa 16,55% do total.

Em 2018, a prefeitura implantou o programa Movimentos e Vivências na Educação Integral (Move). Com sete horas de jornada, o estudante tem aula regular em um turno e no outro participa de diversas oficinas, sem retornar para casa e com alimentação no colégio.

Hoje, o Move funciona em 52 escolas e prefeitura investe por ano cerca de R$ 4 milhões no programa. Os estudantes participam de práticas pedagógicas, lúdicas e educativas, com oficinas de matemática e língua portuguesa. Atividades culturais e esportivas também compõem o programa.

Novo Hamburgo ainda oferecem outras atividades no contraturno escolar, como atendimentos especializados e oficinas nas escolas e nos espaços pedagógicos.

No ensino fundamental, segundo a prefeitura, em torno de 5 mil estudantes participam de horário inverso às aulas.

Na educação infantil, modalidade creche (0 a 3 anos), cerca de 50% das crianças matriculadas estão sendo atendidas em turno integral nas Escolas Municipais de Educação Infantil (Emeis).

O Ideb alcançado na rede municipal de Novo Hamburgo para os anos iniciais é de 6,0 e para os anos finais, 5,2.

Doutora defende educação "por inteiro"


Dinorá Zuchetti | Jornal NH
Dinorá Zuchetti Foto: Divulgação

Doutora em Educação e professora da Feevale Dinorá Zucchetti chama atenção para a diferença entre educação integral e educação em tempo integral, muitas vezes classificadas como sinônimos, em especial, pelos gestores públicos.

“Educação integral faz referência à educação inteira. Envolve a cidadania, participação social, a comunidade escolar. Onde projeto político-pegagógico desta escola tenha o integral como uma questão central”, diz a pesquisadora. Já onde apenas se tem a intenção de passar mais tempo dentro da escola, pode ocorrer “mais do mesmo” e provocar um esgotamento deste aluno.

Segundo Dinorá, a primeira proposta do Programa Mais Educação trouxe de volta a discussão da educação integral para o Brasil por meio parcerias com diferentes instituições e atividades diversas, não realizadas todas dentro da escola, mas dentro do mesmo território. “Por isso, há muitas possibilidades de equacionar o tempo integral, com qualidade do tempo e uma formação integral”, defende.

A educação integral em tempo integral, quando é intencionada, voltada para qualidade de vida, sempre será um grande recurso.
No entanto, a especialista diz que é preciso um compromisso de estado com a educação, o que exige infraestrutura, financiamento e formação de professores para tempo integral. Dinorá avalia que as desigualdades sociais se acentuam entre as escolas privadas e públicas, pois na rede particular há opção da educação integral, seja como matrícula ou na modalidade de contraturno. “Aí nós temos uma qualidade de ensino acessível para quem pode pagar e na escola pública isso falta”, pondera.

Embora faltem estudos em nível nacional que atestem o quanto a educação integral em tempo integral impacta positivamente na vida dos estudantes, a professora ressalta que não faltam pesquisas de mestrado e doutorado sobre o tema. As teses relatam experiências locais, demonstrando que há um ganho quando o ensino integral faz parte da vida do aluno. “Eu não tenho dúvida, como pesquisadora neste campo, que a educação integral em tempo integral, quando é intencionada, voltada para qualidade de vida, sempre será um grande recurso”, salienta.

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