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Notícias | Rio Grande do Sul Ensino presencial

O que pensa o presidente da Sociedade de Infectologia sobre o retorno das aulas

Infectologista Alexandre Vargas Schwarzbold apresenta observações sobre decisão do governo do Estado e se mostra favorável à volta das aulas presenciais, mas não de todos os níveis de ensino

Por Ermilo Drews
Publicado em: 28.04.2021 às 14:32 Última atualização: 28.04.2021 às 15:42

Presidente de Sociedade Riograndense de Infectologia acredita que retorno de alunos menores é positivo, mas se preocupa com eventual ''generalização'' da abertura Foto: Ermilo Drews/GES-Especial/Arquivo
Comitê destinado a acompanhar a evolução da Covid-19 dentro da Sociedade Riograndense de Infectologia (SRGI) discorda da abertura generalizada de escolas neste momento, sobretudo entre os níveis de ensino acima da educação infantil e séries iniciais. Quem atesta isso é o presidente da SRGI, o infectologista Alexandre Vargas Schwarzbold. Decreto do governo do Estado liberou o ensino presencial para todos os níveis de ensino, com comparecimento opcional. O Sindicato do Ensino Privado (Sinepe/RS) orientou as escolas da rede a voltarem de maneira escalonada.

“Há uma tendência de aumento da mobilidade na ordem de 20% se liberarem as aulas para as crianças maiores e adolescentes, isso sem contar o ensino universitário. No momento que temos cerca de 80% de ocupação de leitos de UTI no Estado, com a circulação de cepas virais mais transmissoras, com pacientes demorando mais ter alta, a generalização da abertura escolar, sem o devido escalonamento, nos coloca absolutamente preocupados do ponto de vista de tomada de decisão”, alerta Schwarzbold.

A generalização da abertura escolar, sem o devido escalonamento, nos coloca absolutamente preocupados do ponto de vista de tomada de decisão...

Entretanto, apesar de frisar que não há consenso entre os infectologistas a respeito, destaca que a maioria dos especialistas apoia o retorno das aulas presenciais entre as crianças menores neste momento. “Há uma posição crescente entre os especialistas, principalmente em relação à educação infantil e primeiros anos do ensino fundamental, que passa a ser quase imperativo do ponto de vista até da segurança social este retorno.”

De acordo com o infectologista, a volta deste público não implica em riscos sanitários maiores a crianças e professores. “A literatura é muito clara que as transmissões entre os professores se dão no meio comunitário, fora da escola. Por isso, tanto para crianças como para os professores, a escola passa a ser um ambiente protetor, possa ser até uma estratégia de melhor contenção entre estas populações. Além disso, não há nenhuma dúvida sobre a grande contribuição que seria o retorno das escolas do ponto de vista comportamental e de aprendizagem.” Ele lembra que apesar de o Brasil figurar entre os cinco países do mundo com maior período de fechamento de escolas, isso não se refletiu na queda da transmissão.

A literatura é clara no sentido de que há muito mais segurança em relação ao retorno de crianças às aulas mesmo em período eventualmente mais crítico.

No entanto, Schwarzbold admite que há divergências em relação à volta de aulas presenciais entre os infectologistas, mesmo que com esta limitação por níveis. “A literatura é clara no sentido de que há muito mais segurança em relação ao retorno de crianças às aulas mesmo em período eventualmente mais crítico”, observa. Contudo, ele pondera que a maior parte dos dados à disposição foram originados por países de primeiro mundo. “Países que têm uma estrutura física nas escolas para prover segurança e prevenção muito maior do que o ensino público do Brasil”, admite.

Decisão política para atender pressões sociais e econômicas

Sobre a decisão do governo do Estado em alterar a atual a sistemática de bandeiras com restrições à circulação, o que deve ocorrer a partir de 10 de maio, o presidente da Sociedade Riograndense de Infectologia acredita que o modelo de distanciamento controlado se exauriu. “As limitações do modelo eram sabidas há meses, como a capacidade tardia de detectar taxa de transmissão elevada. Ele é muito baseado em leitos disponíveis e não em testagem. E a gente não tem estrutura pública para fiscalizar. Além disso, a questão de protocolo sanitário passa a ser muito diferente entre os setores. Em algumas atividades econômicas é muito mais factível e viável de se seguir estes protocolos do que em outras. No caso da população mais pobre, onde não se tem acesso a equipamentos de proteção, onde há tendência de aglomeração pelas próprias condições de habitação, estes protocolos não se mostram possíveis”, lamenta.

As limitações do modelo eram sabidas há meses, como a capacidade tardia de detectar taxa de transmissão elevada.

Em relação à mudança da bandeira preta para vermelha, por meio de decreto que não levou em conta os critérios técnicos até então adotados, o infectologista avalia que se deu tão somente para liberar as aulas presenciais. “Não faz nenhum sentido mudar a bandeira por decreto, isso parece mais uma decisão política, para atender pressões sociais e econômicas, que incluem as escolas privadas e setores da classe média, do que uma preocupação com a atualização do modelo.” E sobre o futuro dos protocolos sanitários a serem propostos pelo governo do Estado, Schwarzbold não demonstra otimismo. “Provavelmente, não vá ser melhor do que se mostra atualmente do ponto de vista de medidas restritivas.”

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