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Notícias | Rio Grande do Sul APÓS ANÁLISE DE VÍDEOS

Delegada diz que 'houve uma situação de racismo' durante show de Seu Jorge em Porto Alegre

Testemunhas do crime investigado pela Polícia Civil começarão a ser ouvidos na quarta-feira, inclusive o presidente do Grêmio Náutico União, local onde o apresentação do artista ocorreu

Por Redação
Publicado em: 18.10.2022 às 19:11

A Polícia Civil segue com a investigação do caso de racismo contra o cantor Seu Jorge. A situação teria acontecido durante apresentação do artista no Clube Social Grêmio Náutico União, em Porto Alegre, na noite da sexta-feira (14). A delegada Andrea Mattos, titular da Delegacia de Polícia de Combate à Intolerância (DPCI), começará a ouvir as testemunhas nesta quarta-feira (19). O presidente do clube, Paulo José Kolberg Bing, prestará depoimento na DPCI na próxima quinta-feira (20).

Em nota, o Clube Social Grêmio Náutico União diz que é de total interesse do local "a transparente apuração dos fatos", que "na eventualidade de comprovação de crime, defendemos a punição dos envolvidos na forma da lei" e que "repudia qualquer tipo de discriminação".

Seu Jorge se manifestou em vídeo publicado em suas redes sociais na segunda-feira
Seu Jorge se manifestou em vídeo publicado em suas redes sociais na segunda-feira Foto: Reprodução
A delegada explica que nenhuma testemunha foi ouvida até o momento. Porém, a partir da análise de vídeos que circulam nas redes sociais do momento em que o artista sofreu o ataque, ela conta que é possível constatar que "houve uma situação de racismo". Sobre a repercussão do caso que já alcançou o Brasil, a delegada defende que "o importante é que as autoridades públicas estão apurando" o crime.


A Polícia solicitou gravações para o Grêmio Náutico União, que devem ser levados pelo presidente do clube no dia de seu depoimento. "A gente intimou o presidente e fizemos a solicitação de algumas informações relacionadas ao evento."

Andrea relata que a Polícia busca identificar os responsáveis pelo crime. Inicialmente, a delegada diz que não há motivo para que o clube ou o presidente sejam responsabilizados. A partir do testemunho de Bing, ela espera esclarecer o que ele viu no momento da apresentação do artista, se o cantor procurou o clube, entre outros detalhes.

Os responsáveis pelo crime poderão pegar pena de reclusão de até três anos.

Discriminação durante show

As hostilizações teriam iniciado quando a apresentação do cantor já se encaminhava para o final. Seu Jorge havia chamado ao palco um adolescente de 15 anos, também negro, tocador de cavaquinho. Conforme relatos de pessoas que estavam na apresentação, através de redes sociais, neste momento o artista teria feito críticas a redução da maioridade penal e lamentado a morte de jovens negros e favelados. Teria sido neste instante que vaias e xingamentos teriam sido feitos por parte da plateia.

Os suspeitos teriam gritado "uh, uh, uh", imitando som de macaco, além de chamar o cantor de "macaco", "vagabundo" e "preguiçoso". Além disso, gritos de "mito, mito, mito", atribuídos ao atual e também candidato à reeleição para Presidência da República, Jair Bolsonaro (PL), também teriam sido registrados. Outros participantes do evento argumentam que ele teria feito um "L" com a mão, em alusão ao candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o que teria dado início às reações.

Cantor se manifestou em vídeo

O cantor se manifestou sobre o caso na noite de segunda-feira (17), em um vídeo publicado em suas redes sociais. "Quero dizer que não reconheci a cidade que aprendi a amar e respeitar", disse e completou: "Na verdade o que eu presenciei foi muito ódio gratuito e muita grosseria racista", relatou.

No vídeo, Seu Jorge fala que foi contratado para uma apresentação no Grêmio Náutico União. "Era um janta de gala com pessoas muito bem vestidas para aquela ocasião, evento reservado somente para sócios do clube." Ele observa, ainda, que não percebeu nenhuma pessoa negra no jantar. "As pessoas negras que encontrei, foram somente os funcionários." O cantor relata que ouviu dizer que esses funcionários estavam proibidos de olhar ou falar com o artista quando ele chegasse. "Mas importante que no final do show falei com todo mundo e tirei foto com todo mundo", disse.

Ele também falou sobre quando aconteceram as agressões verbais. "Estávamos muito felizes de estar em Porto Alegre. Quando chegou o final do show, eu saí do palco. Quando cheguei atrás do palco, começo a escutar muitas vaias e xingamentos. Por conta disso percebi que não seria possível voltar para fazer o famoso 'bis'. Mas, sozinho retornei ao palco e de maneira respeitosa agradeci a presença de todos, me despedi do público presente e me retirei do local do show".

O artista agradeceu o carinho e suporte de quem se sensibilizou sobre o fato e mandou mensagens de apoio e de repúdio ao ocorrido. "Ao povo negro do Rio Grande do Sul e de toda região Sul, quero dizer que os amo, admiro e respeito e dizer que estamos mais unidos do que nunca, que vamos vencer essa guerra que segrega nosso povo à miséria e a falta de oportunidade no Brasil", colocou, conclamando para que a população negra se integre aos movimentos sociais de suas localidades, para reforçar ainda mais a defesa por seus direitos.

Assista

Confira nota do Clube na íntegra

"O Clube ressalta que está colaborando com as investigações relativas à possibilidade de ocorrência de racismo durante apresentação do cantor Seu Jorge, realizada em suas dependências em 14 de outubro.

É de total interesse do Grêmio Náutico União a transparente apuração dos fatos. Na eventualidade de comprovação de crime, defendemos a punição dos envolvidos na forma da lei.

Reafirmamos que o União, seguindo seu Estatuto e compromisso com associados e sociedade, repudia qualquer tipo de discriminação."

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