Werner Schünemann reflete sobre relação entre pai e filho em monólogo que estreia nesta sexta no Theatro São Pedro
Às vésperas do Dia dos Pais, ator e historiador apresenta peça que fala dos conflitos da paternidade e da masculinidade. Apresentações seguem até domingo
Uma caixa onde estão as cinzas do pai falecido há poucos dias transforma a despedida em um momento de reflexão e descoberta sobre essa relação por vezes conflituosa. Esse é o escopo da peça O Espantalho, o primeiro monólogo de Werner Schünemann, que estreia nesta sexta-feira (11) no Theatro São Pedro, em Porto Alegre.
Na peça escrita e dirigida por Bob Bahlis, Schünemann dá vida a um ator de sucesso que, ao levar as cinzas do pai para um sítio e chegar à horta que era cultivada por ele, se depara com um espantalho e caixas e de madeiras com objetos pessoais.
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Idealizada pelo próprio Schünemann, O Espantalho se propõe a colocar em xeque a paternidade e a própria construção da masculinidade. "Estamos precisando pensar certas coisas, por exemplo o masculino, o lugar do masculino em uma nova sociedade em que a igualdade dos gêneros seja realmente alcançada", aponta o ator.
Conhecido nacionalmente por interpretar personagens masculinos que retratam justamente o modelo idealizado de masculinidade, como os generais farroupilhas Bento Gonçalves e Antônio de Sousa Neto, Schünemann quis levar aos palcos um personagem que questiona justamente essa imagem idealizada.
Inspiração busca a perspectiva masculina
Desde 2015 Schünemann pesquisa temas e textos para protagonizar um monólogo. A decisão sobre este trabalho foi tomada após assistir à apresentação da peça Velha Demais, protagonizada por Fernanda Carvalho Leite.
A história, que também foi escrita por Bob Bahlis, foi o ponto decisivo para definir o tema. "No final da peça chamei ele (Bob) e disse 'quero que você escreva um monólogo disso aqui sobre o outro lado, a parte masculina' e assim começou", conta o ator.
Com o texto em mãos, coube ao ator dar os toques finais ao personagem. Um dos pontos que chamam atenção são as semelhanças entre o personagem e Schünemann. O personagem também é um ator, com a mesma idade do ator.
Entretanto, Schünemann garante que não se trata de uma peça autobiográfica. "Não é sobre a minha experiência, é essa analogia de coisas que vão interferir na relação pai e filho."
Ainda assim, outras semelhanças estão lá, como o fato de o personagem também ter estudado em um internato. A diferença é que Werner entrou adolescente no internato Sinodal, em São Leopoldo, uma instituição mista. Já o personagem vive desde os seis anos em uma escola comandada por padres.
Paternidade como oportunidade para se reinventar e melhorar
Entre os questionamentos que o texto busca provocar no público está a função da paternidade, mas também dos filhos. "Um filho sucede a um pai, substituindo ou recomeçando uma nova partida. Pela nossa peça a sucessão não é uma substituição, você vai começar um jogo novo" reflete Schünemann.
O ator entende que as relações entre pais e filhos podem sofrer de ruídos muito em razão das expectativas. "Um pai que fala para o filho ser engenheiro e ele vai estudar música, ou outra coisa, ele se frustra porque o filho é um projeto dele, esse é um dos problemas que temos na relação pai e filho e na possibilidade de criar pessoas mais abertas para o mundo."
Atitudes
Mas Schünemann lembra que por vezes, filhos repetem até mesmo os comportamentos que reprovavam em seu pai. "Esse filho talvez repita esses pais. Raramente o pai estava certo, estava certo na época dele, quando também estava replicando slogans, imposições, então mesmo o filho tendo se livrado disso ele acaba replicando." Schünemann acredita que são esses "slogans" repetidos a exaustão que constroem um modelo de masculinidade prejudicial. "Ele (filho) vai aprender que homem não chora, que homem não tem medo, tem honra e assim por adiante."
Ao mesmo tempo, cabe aos próprios pais proporem uma mudança. "Na paternidade a gente se dá conta, se for honesto com sua vida, da responsabilidade e da reprodução de certos dogmas, preceitos que são muitos nocivos e prejudiciais para a sociedade e para a própria vida do homem, daquele menino que nasce."
Repensando
É a partir desse ponto que o texto busca também caminhos para explicar a construção da masculinidade, em um mundo em que os papéis começam a ser mudados. "Vamos tirar todas essas coisas que passaram para alçada masculina, e é o caso de tirar porque estamos fazendo uma revisão histórica, qual é o papel masculino mesmo, o que vai sobrar?", questiona o ator, que afirma ser este um tema que o preocupa há quatro décadas.
Para Schünemann, a paternidade é um dos primeiros espaços onde homens podem, e devem, se reinventar para melhorar suas relações.
Apenas depois de morto
Em O Espantalho, o personagem só consegue ter esse diálogo franco e aberto com seu pai após a sua morte. Esta foi uma escolha do autor da peça, já que Schünemann concebeu a proposta de um personagem justamente neste sentido.
"Eu precisava de um personagem que a morte do pai o libertasse para as conversas que ele passa o tempo todo reclamando que não houve, porque o pai não conversava", conta.
Coincidência
As primeiras apresentações de O Espantalho acontecem entre esta sexta e domingo (13), justamente a data em que será comemorado o Dia dos Pais. Mas levar a paternidade aos palcos na data festiva não era algo programado.
Inicialmente, a previsão era que a estreia aconteceria no final de semana dos dias 25 e 26, entretanto a direção do Theatro São Pedro pediu aos produtores uma antecipação, que culminou com a data ideal para o tema abordado no espetáculo. "Depois a gente se deu conta, como se o cosmos conspirasse a nosso favor", resume.
O ator se mostra mais ansioso do que o normal para esta estreia, já que, pela primeira vez, estará sozinho no palco. "Uma vez a Fernanda Montenegro disse que até agora ela treme antes de estrear, o monólogo é pior porque eu tenho que entrar e sou eu sozinho e tenho que levar até o fim", afirma ele, que diz apostar na sensibilidade do texto para cativar o público.
Depois da apresentação no Theatro São Pedro, a peça deve viajar para outros palcos do Estado e do País.
Serviço
O Espantalho
De 11 a 13 de agosto no Theatro São Pedro, em Porto Alegre
Sexta e sábado, 20 horas
Domingo, 18 horas
Ingressos:
Plateia e Cadeira Extra: R$ 150,00
Camarote Central: R$ 140,00
Camarote Lateral: R$ 120,00
Galeria: R$ 50,00
As entradas podem ser compradas pelo site do teatro.