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Opinião

35 anos da ACF

Publicado em: 18.08.2023 às 03:00

No dia 22 de julho de 1988 foi fundada a Clínica Freudiana (CF) e refundada como Associação Clínica Freudiana (ACF) em 1998. Porém, já em 1986 iniciava-se o trabalho ainda não nomeado de prestação de serviços à comunidade, com atividades de pesquisa, atendimentos clínicos e formação, sempre no âmbito da colaboração na transmissão do legado freudiano da psicanálise.

Mas, passados quase 150 anos da criação da psicanálise por Freud, muitas perguntas são relançadas em diferentes contextos sociais, por exemplo: a psicanálise ainda é necessária? Ela não está superada, desatualizada? Enfim, por que a psicanálise?

Consideramos que a humanidade sempre encontrou desafios e nesse sentido, nossa posição não é a de um saudosismo de tempos passados, os quais teriam sido melhores. Tal ideia pode ser imediatamente relativizada quando nos lembramos da grande contribuição freudiana já em 1930, em que Freud produziu um de seus textos fundamentais "O Mal Estar na Civilização", onde ajuda a compreender que a civilização ideal, da paz e da harmonia total, é impossível.

Essa impossibilidade se dá por que há algo de uma violência que habita cada ser humano. Essa violência faz com que cada ser humano sofra em sua forma singular, mas também promove os desencontros, os limites do amor ao próximo. Essa espécie de violência é impossível de ser totalmente eliminada, e mais do que isso, ela também é, paradoxalmente, a possibilidade de que sejamos humanos.

Trata-se da violência pulsional, aquilo que existe de mais humano, que nos possibilita amarmos e sermos criativos, dependendo de como se consegue lidar com ela. Mas que também está sempre potencialmente pronta para denunciar que o ser humano nunca está totalmente satisfeito.

Então, se por um lado essa violência pulsional sempre existiu, por outro lado os desafios mudam conforme as transformações culturais, seus efeitos nas subjetividades e, consequentemente, nas manifestações do sofrimento psíquico. Assim percebemos aspectos que tornam especialmente desafiadores certos traços culturais e das conquistas tecnológicas - os avanços das tecnologias de destruição em massa, os desafios em relação às transformações climáticas, os avanços tecnológicos que levam à objetificação dos seres humanos, a fragilização das referências tradicionais de vida, entre outros.

Diante de tantos desafios, lembramo-nos da frase de Lacan - "acaso não sabemos que nos confins onde a fala se demite começa o âmbito da violência, e que ela já reina ali, mesmo sem que a provoquemos?" Com essas palavras, Lacan relança as descobertas freudianas fundamentais, tanto do real da pulsão e do inconsciente, quanto do caminho fundamental da fala endereçada a um outro, disposto a escutá-la, para que algo da pulsão possa ser colocado a serviço da vida, tanto do sujeito singular quanto da coletividade.

Em tempos em que as ameaças de silenciamento das possibilidades da fala se multiplicam vertiginosamente, a psicanálise segue sendo extremamente atual e cada vez mais relevante.

Parabéns ACF, por sua história de 35 anos!


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