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Opinião

O hã é sexy

Publicado em: 29.08.2023 às 03:00

De alguns anos de observação para cá, vinha equivocadamente concluindo que essa paradinha que as pessoas dão em seus discursos ou sustentações orais, seriam fruto do desletramento que acometeu as últimas gerações. O "hã" era para mim uma meia pausa estratégica e serviria para coordenar a sinapse, estimulação dos neurônios cerebrais na hora da fala. Pensava firmemente que desde o governo FHC, em que o gaúcho Paulo Renato Souza foi o ministro responsável pela pasta da Educação, raramente apareciam oradores que não precisavam se apoiar na muleta dessa interjeição para seguir raciocinando e expondo seus pontos de vista.

Ledo engano. Usado preferencialmente pelas mulheres, que hoje dominam o espaço profissional em praticamente todas as áreas, o hã veio para ficar e simboliza a humildade, a falta de uma correnteza fluida na hora de fazer uso da palavra. Afinal o que diriam as pessoas ao ouvir um Cícero, um Nizan Guanaes ou um Ruy Barbosa? Provavelmente, "mas que sujeito pretensioso e arrogante esse... fala como um papagaio, uma arara, sem gaguejar nenhuma vez, com a naturalidade de quem está lendo, parece um texto gravado em estúdio". Pasmem, os homens que como sempre se vão atrás das mulheres, passaram a adotar o recurso como símbolo de falsa modéstia. "Vejam, nem tenho essa bola toda para falar em público, também preciso pensar bem para expressar minhas ideias. Sou um cidadão comum como vocês, nada demais."

Os homens batem palmas para mulheres que falam hãs. Aproveitam esses segundinhos para admirar a beleza delas. As mulheres invejam outras mulheres que ornam o hã com o timing correto e ficam pensando: um dia vou falar em público como essa linda. Tomar controle da plateia com domínio total sobre ela. Ser famosa e vencer profissionalmente.


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Mauro Blankenheim

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