Publicidade
Opinião

Arquitetura hostil

Publicado em: 31.08.2023 às 03:00

O ambiente urbano no Brasil se engendrou em redor da casa, como um símbolo do espaço privado, principalmente do sobrado, que, nas cidades nascentes, ostentou as funções da casa-grande.

Assim, se organizou a vida urbana no país, concebendo, do ponto de vista espacial e psíquico, um lugar hostil e de exclusão, onde a casa-grande se edificou acima do rés-do-chão.

Essa herança cultural originou a rua brasileira, que foi destinada ao escravo e ao plebeu, influenciando a construção de cidades hostis. Então, o sobrado da fidalguia se revelou no gosto pela arquitetura verticalizada, erguida sobre o nível da rua.

Hoje, são espaços que acolhem apenas os iguais, rejeitando os que não pertencem ao mesmo grupo social. Para tanto, criou-se a arquitetura hostil, que busca impedir a aglomeração de indivíduos estereotipados e de classes inferiores.

É uma arquitetura que impõe seu desejo de segregar, sobretudo, as pessoas em situação de rua. Por isso, erguem bancos com divisórias, utilizam pedras sob viadutos, põem estacas de ferro nas fachadas de empresas, colocam muros com arames farpados nas residências e constroem prédios públicos imponentes.

Esse design higienista constrange o direito à ocupação do espaço urbano, por exemplo, as simples atividades como caminhar, andar de bicicleta, skate e de sentar nas ruas para conversar são restringidas.

Em suma, a arquitetura hostil tem uma visão lombrosiana, tornando a zona urbana feia e agressiva. Portanto, é essencial implantar uma prática urbanística acolhedora no planejamento das cidades.


O artigo publicado neste espaço é opinião pessoal e de inteira responsabilidade de seu autor.
Por razões de clareza ou espaço poderão ser publicados resumidamente.
Artigos podem ser enviados para opiniao@gruposinos.com.br
Jackson Buonocore

Entre em contato com
Jackson Buonocore

Gostou desta matéria? Compartilhe!
Encontrou erro? Avise a redação.
Publicidade
Matérias relacionadas
Botão de Assistente virtual