Pesquisa mostra como o sono irregular afeta a saúde
Oscilações nos horários prejudicam flora do sistema digestório, que passa a produzir toxinas
Não é novidade que noites mal dormidas prejudicam a saúde. Entretanto, pesquisa europeia acaba de demonstrar o mecanismo pelo qual isso acontece. E a razão pode até ser uma surpresa. A microbiota corporal, que é o conjunto de bactérias no sistema digestório, pode ser afetada pelos padrões de sono. Isso porque a dieta tende a mudar junto com o sono. Dieta pior, microbiota mais pobre, riscos de saúde maiores.
Wendy Hall, do King's College, de Londres, que integrou a equipe de pesquisa que acompanhou 934 pacientes, explica: "Sabemos que grandes perturbações no sono, como turnos de trabalho, podem ter um impacto profundo em nossa saúde. Este é o primeiro estudo a mostrar que mesmo pequenas diferenças no tempo de sono ao longo da semana parecem estar ligadas a diferenças nas espécies de bactéria nos órgãos internos."
Funcionamento
A composição dos micróbios no sistema digestório (o chamado microbioma) pode afetar positivamente ou negativamente a saúde, porque pode produzir metabólitos benéficos ou, pelo contrário, toxinas. Espécies determinadas de micróbios podem corresponder a riscos de longo prazo para o indivíduo, como o de diabete, doença cardíaca ou obesidade. O microbioma é influenciado pela comida que se consome, que torna a diversidade da microbiota ajustável.
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(Com informações de Science Daily)
A importância de manter a rotina do sono
Kate Bermingham, do King's College London e principal autora do estudo, explicou: "O sono é um pilar fundamental da saúde, e esta pesquisa é especialmente relevante dado o crescente interesse nos ritmos circadianos e no microbioma intestinal."
Sarah Berry, também do King's College, acrescenta: "Manter padrões regulares de sono, tanto na hora de dormir quanto na hora de acordar todos os dias, é um comportamento de estilo de vida facilmente ajustável que todos podemos fazer e que pode impactar positivamente a saúde por meio do microbioma intestinal."
A pesquisa apontou que boa parte do impacto se explica por alterações na dieta e ingestão de alimentos. Parece haver, porém, algum outro mecanismo também, que ainda deve ser estudado.
Grupo foi acompanhado
A pesquisa acompanhou 934 pessoas, que tiveram analisadas amostras de sangue, fezes e microbioma intestinal, além de taxas de glicose. Integraram a amostra pessoas com padrões de sono irregulares, assim como outras que, pelo contrário, tinham uma rotina de sono.
A diferença na rotina de sono está associada a diferenças na composição do microbioma intestinal. O jet lag social foi associado a uma qualidade geral da dieta mais baixa, maior consumo de bebidas açucaradas e menor consumo de frutas e nozes, o que pode influenciar diretamente a abundância de microbiota específica no intestino.
Três das seis espécies de microbiota mais abundantes no grupo com jet lag social têm associações "desfavoráveis" com a saúde. Esses microrganismos estão relacionados à baixa qualidade da dieta, indicadores de obesidade e risco cardiovascular.