Regente de coral da região aplica métodos inovadores
Estimular o canto independente da idade e modificar a imagem de rigidez estão entre os propósitos do método
O compositor, arranjador, cantor, percussionista e regente Federico Trindade, 36 anos, uruguaio que vive no RS desde 2001, é o único representante da América Latina com "Rhythmic Choir Conducting" (regência de coro rítmico ou Liderança Inovativa) pela Royal Academy of Music of Aarhus (Rama), um conservatório de música da Dinamarca.
A formação ajuda em sua liderança sensível, na busca de sonoridades com a percepção de diferentes qualidades dentro de um grupo. Para o maestro do Movimento Coral e Instrumental da Universidade Feevale, o coral pode ser muito mais do que repetições de músicas entoadas ano após ano. Os arranjos devem ser renovados e as túnicas pretas podem ser substituídas pelo colorido e sinergia das pessoas que vivem a sua juventude independente da idade que têm.
"Quero que venham todas as idades para corais e explorem a própria juventude. A gente assiste corais e, às vezes, os próprios cantores comentam como a linguagem coral envelhece de uma forma negativa a imagem das pessoas e passa um ar de seriedade e de tensão, mesmo fazendo uma coisa que sabemos que amam. Daí vemos que alguma coisa precisa mudar", explica.
Federico mantém seu foco em aplicar na prática o novo, no sentido de diferente. O regente salienta que o problema não é a na quantidade de corais. A questão, em sua opinião, é que a maioria permanece com a mesma estética de canto e o mesmo repertório, sem renovação. "Isso dá a sensação de que estamos dentro de um aquário com pouco oxigênio e gostaria de ser um dos agentes da mudança para ajudar e renovar esse ar. Quero que o mundo coral abra novos buracos de luz. Quando propomos os novos repertórios e formas de encarar a música coral, vemos que existe um espaço para isso e que as pessoas ficam entusiasmadas com novas possibilidades", pontua.
A vida toda com música
Federico Trindade é de uma família que respira música. Seu pai é Pablo Trindade Roballo, 61 anos, um dos maiores arranjadores de música brasileira latino-americana, e sua mãe é a maestrina Fernanda Nóvoa, 62. Suas irmãs também são da área. Valentina mora em Londres e é maestrina. Macarena faz música popular na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs). Federico, músico formado pela Ufrgs, com mestrado na Dinamarca e cursando doutorado naquele país, é fundador do Grupo UPA!, no qual a voz é o principal instrumento. É cocriador, junto com a esposa Juliana Figueredo, do ProjUpa!, núcleo de educação musical/artístico. É diretor do Coro Juvenil do Colégio Teutônia, maestro assistente e percussionista no Expresso 25 e maestro do Movimento Coral e Instrumental da Feevale.
Ideia é funcionar como um agente para as mudanças
"Para tentar ser um dos agentes de mudança que venho pensando - eu e tantos outros regentes pelo Brasil e mundo afora, minha intenção é ajudar a repensar esse fazer musical em conjunto, que é o canto coral, justamente para que essa linguagem continue crescendo", diz Federico. Para ele é importante desmistificar o coral e sair da mesmice.
"Quando proponho escutas ativas, os coralistas desenvolvem um maior senso crítico", comenta, lembrando que ao final dos ensaios mostra corais de outras culturas e países com diferentes formas de trabalhar a música coral.
A intenção é que todos avaliem. "Quero que as pessoas daqui sejam críticas: "Por que gosto dessa música e por que não gosto?", relata.
O "Vocal Painting" na prática
Em cada uma das apresentações, o público acompanha o trabalho de improvisação e da língua de sinais "Vocal Painting (Vopa)", método criado por Jim Daus Hjornoe, orientador de Federico em seu mestrado e, agora, doutourado na Rama.
O sistema de sinais é baseado no "Soundpainting", do regente nova-iorquino Walter Thompson, autor de mais de 1,2 mil gestos para músicos, atores, bailarinos, poetas e artistas visuais.
"O 'Soundpainting' é uma experiência sensorial. Por ser uma 'viagem' sem uma estrutura sonora tradicional mais próxima do que as pessoas estão acostumadas, não é tão fácil de ouvir", diz o regente.
O orientador de Federico viu que tinha uma forma de inovar e criar músicas com um sistema que dava a possibilidade de trabalhar de forma mais melódica, mais rítmica, uma coisa a mais para oferecer para o meio coral. "Ele conversou com Walter Thompson e ele começou a transformar essa linguagem para colocar na música coral, com som ao vivo. Já tem mais de 100 sinais", antecipa.