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Notícias | Canoas INVESTIGAÇÃO CONCLUÍDA

Sete são indiciados em caso de tortura a suspeitos de furtar carne em supermercado de Canoas

Seis responderão pelos crimes de tortura e extorsão mediante sequestro, e um, por omissão

Por Leandro Domingos
Publicado em: 15.12.2022 às 18:07

O inquérito policial sobre o caso de agressão a dois homens em um supermercado em Canoas foi concluído nesta quinta-feira (15) pela Polícia Civil. O gerente do estabelecimento e cinco seguranças de uma empresa terceirizada foram indiciados por tortura e extorsão mediante sequestro. Já o subgerente do supermercado responderá por omissão. Além disso, os sete também foram indiciados pelo crime de dano, já que o celular e um cartão de uma das vítimas foram quebrados. As penas podem variar de dois a oito anos de prisão em regime fechado.

Crime foi flagrado por câmeras de segurança internas do supermercado
Crime foi flagrado por câmeras de segurança internas do supermercado Foto: POLÍCIA CIVIL/REPRODUÇÃO

Segundo o delegado Robertho Peternelli, que conduziu a investigação por meio da Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Canoas (DHPP), a Polícia conseguiu reunir o material necessário para garantir o indiciamento contra os sete envolvidos no crime. Imagens de câmeras de segurança, recuperadas pela perícia, acabaram sendo cruciais para o fechamento do caso.

Através das câmeras a Polícia viu que, inicialmente, a tortura ao suspeito flagrado tentando esconder dois pacotes de picanha na calça, aconteceu porque os seguranças queriam saber se havia comparsas no mercado. Foi quando ele começou a ser agredido com socos, chutes e pedaços de pau, além de ser ameaçado com um martelo.

"Após um trabalho qualificado dos peritos, as imagens vieram à tona. Foi quando descobrimos que a finalidade das agressões era, inicialmente, identificar comparsas que estivessem circulando pelo mercado. Então um segundo suspeito do crime foi levado ao mesmo local. Foi quando as agressões se tornaram mais graves e acabaram sendo usados até instrumentos contundentes para golpear os dois", explicou Peternelli.

O que não aparece de forma tão nítida nas imagens e acabou apurado é que, para conseguirem sair do depósito, os suspeitos tiveram que pagar um "pedágio" de aproximadamente R$ 600. Segundo a Polícia, a dupla foi ameaçada de morte caso não pagasse o valor, o que pode configurar também crime de extorsão mediante sequestro. O filho de um dos homens foi até o mercado levar o dinheiro.

Ainda segundo o delegado, como foram ameaçados de morte pelos seguranças, os homens não procuraram a Polícia de imediato. O caso chegou ao conhecimento das autoridades a partir do atendimento prestado a um deles no Hospital de Pronto Socorro (HPS) de Porto Alegre.

Internado com fraturas de espancamento pelo corpo, o homem relatou o caso a policiais. "Só ficamos sabendo porque é protocolo hospitalar avisar a Polícia Civil do ingresso de pessoas lesionadas com indício de crime", afirmou Peternelli.

Três PMs entre os envolvidos

A Polícia Civil confirmou na semana passada que os três suspeitos que ainda não tinham sido identificados no caso da agressão eram Policiais Militares (PMs). Dois atuam em Porto Alegre e o terceiro é da reserva.

Os demais envolvidos eram um gerente e um subgerente do mercado, que acabaram demitidos, e dois seguranças de uma empresa privada, que teve o contrato cancelado pelo estabelecimento comercial.

"Todos os suspeitos permaneceram em silêncio durante a investigação", informou o delegado. "Não disseram nada".

Em paralelo ao trabalho da Polícia Civil, o comando da Brigada Militar (BM) informou que abriu um inquérito policial militar para apurar a conduta dos envolvidos e que os dois soldados identificados foram enviados para serviço administrativo durante a apuração do caso.

"O Inquérito Policial Militar (IPM) continua na investigação. Até o término do inquérito não falaremos sobre as investigações", afirma o corregedor-geral da Brigada Militar, o coronel Wladimir Luís Silva da Rosa. 

Relembre o caso

Após perceberem pelas câmeras do supermercado que um homem escondeu dois pacotes de carne na calça, seguranças de uma empresa terceirizada o abordaram na saída da loja e o levaram para um depósito.

Registradas por câmeras, as agressões começam assim que o homem entrega os pacotes que tentava furtar. Ele é agredido com socos, chutes e pedaços de pau, além de ser ameaçado com um martelo. Um comparsa que o aguardava no estacionamento foi buscado pelos seguranças e também passou a ser agredido no depósito.

As agressões duraram cerca de 45 minutos, testemunhadas pelo gerente e pelo subgerente do supermercado. Imagens do circuito interno que foram recuperadas pelo Instituto-Geral de Perícias (IGP) mostraram ainda que no final os suspeitos são liberados e os cinco seguranças posam para uma foto tirada pelo gerente.

O que dizem as defesas

O advogado Willian Nunes Alves, responsável pela defesa dos Policiais Militares (PMs) e dos seguranças, se posicionou por meio de nota:

"A defesa dos seguranças e dos PMS não concorda com o indiciamento proposto pela polícia e, com observância aos direitos processuais e constitucionais dos indiciados, certamente o enquadramento proposto pela autoridade policial será modificado e revisto pelo Ministério Público. Em virtude do pedido de prisão representado pela autoridade policial, assertivamente, o judiciário indeferiu (não aceitou), pois sem a devida necessidade e fundamento legal, sendo o pedido de prisão realizado de forma arbitrária pelo Delegado de polícia, pois se reitera, estamos diante de pessoas que contribuíram com as autoridades, apresentando-se de forma espontânea em sede policial, são primários, possuem família constituída, endereço fixo".

Já o escritório de advocacia Ezequiel Vetoretti, Rodrigo Grecellé Vares e Eduardo Vetoretti, que representa os outros dois acusados, não se posicionou até as 17h20 desta quinta-feira (15).

O que diz o supermercado

Até a publicação desta reportagem, o supermercado UniSuper não se posicionou sobre o indiciamento dos seus ex-funcionários e dos seguranças da terceirizada. No último dia 5, a empresa encaminhou um pedido de desculpas por meio de seus canais oficiais:

"Viemos a público nos desculpar pelos fatos ocorridos na loja da Avenida Inconfidência, em Canoas. Estamos profundamente abalados. As agressões são inaceitáveis e não condizem com a sólida história de 22 anos da Rede UniSuper, que sempre foi marcada pelo respeito ao ser humano, aos seus direitos fundamentais e a valores como transparência, trabalho em equipe e solidariedade.

Diante de uma conduta lamentável e cruel com a qual jamais concordaremos, informamos que encerramos o contrato com a empresa Glock Segurança, desligamos os funcionários envolvidos e iniciamos o trabalho de revisão de todos os nossos protocolos de segurança e de conduta. Não mediremos esforços para construir sólidos procedimentos que garantam que situações como essa jamais voltem a acontecer. Reafirmamos o nosso compromisso com o respeito à vida e à dignidade da pessoa humana, e nos colocamos, mais uma vez, integralmente à disposição das autoridades".

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