A combinação de aumento nos casos de contágio de coronavírus e da falta de medicamentos para atender os pacientes entubados na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) ligou o sinal de alerta no Hospital Municipal de Novo Hamburgo. O Município somava, até quinta-feira, 1.635 confirmações de Covid-19 e 65 mortes. A lotação completa dos leitos de UTI da casa de saúde também tem sido constante.
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Segundo o diretor-presidente da Fundação de Saúde de Novo Hamburgo (FSNH), Ráfaga Fontoura, se não houver mudança no quadro, o atendimento pode enfrentar problemas sérios, caso a situação não mude. Até o momento, Novo Hamburgo não teve problemas com relação a atendimentos, apesar de viver enfrentar "uma realidade muito complicada".
De acordo com Ráfaga, a falta de medicamento pode inviabilizar o funcionamento dos leitos de UTI. “As pessoas quando pensam no colapso, pensam só no leito e esquecem do resto. A estrutura é a mais fácil de montar, os problemas são os insumos e a mão de obra”, alertou Fontoura na manhã desta sexta-feira em entrevista no programa Ponto e contraponto da Rádio ABC 103.3.
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No dia 6, por exemplo, 117 pessoas receberam a confirmação de Covid em Novo Hamburgo e no dia 14, 79. Ele avalia que a estrutura hospitalar, neste momento, têm se mostrado suficiente porque ninguém ficou atendimento, esperando leito (situação que é vivida por outros estados).
“Mas se mantivermos este patamar de contágio, não há sistema de saúde que suporte. Se de cada dez contaminados, um interna, isso fica gigantesco para 100 mil pessoas. Essa é a nossa preocupação”, ressalta.
Conforme o diretor-presidente, a FSNH enfrenta dificuldades em conseguir adquirir medicamentos, especialmente dos “bloqueadores”, que são vitais para manter os pacientes entubados. “Se esses remédios continuarem faltando no mercado nacional, é uma possibilidade faltar em Novo Hamburgo”, disse.
Segundo Fontoura, a entidade tem feito tomada de preços e os fornecedores têm exigido pagamento antecipado, o que não é permitido pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE). Outra situação, são de fornecedores que vencem as disputas e, na hora de entregar os medicamentos, não têm estoque, deixando o hospital desabastecido. Ele destaca que setor da saúde enfrenta uma situação que não adianta ter apenas o dinheiro, pois mesmo pagando, o produto corre o risco de não chegar.
No mês passado, os secretários de Saúde de todo o País já haviam feito o alerta sobre o risco de faltar insumos. Eles pediram que o governo federal autorizasse a Organização Pan Americana de Saúde (Opas) a negociar a importação dos medicamentos, mas o pedido não foi autorizado. Nesta sexta-feira, o Exército traz um carregamento do Uruguai e fará a distribuição no Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Fontoura ainda fez um alerta sobre a quantidade de mão de obra médica especializada para atendimento em UTI. O Rio Grande do Sul conta apenas com 430 profissionais com essa especialização. “Conheço médicos que estão fazendo três, quatro plantões em sequência. Fazem por necessidade, pela responsabilidade que têm, e não porque querem”, relatou, dizendo que os médicos estão esgotados.